DICA DE FILME ("Pantera Negra: Wakanda Para Sempre")

Dica de Filme


Título: Pantera Negra: Wakanda Para Sempre
Ano de lançamento: 2022
Direção:
 Ryan Coogler



Entre a emoção e as soluções fáceis 

ATENÇÃO: AVISO DE SPOILERS!!!

Indiscutivelmente, o primeiro "Pantera Negra", lançado lá em 2018, é um marco para os filmes de super-heróis. Não só porque traz uma das melhores e mais bem conduzidas histórias da atual Marvel Studios, como também por conta de sua importância social, falando abertamente a respeito de racismo, e entregando para crianças e adolescentes negros um herói para se identificarem na cultura pop atual. 

Não que o filme não seja isento de problemáticas (a questão de castas e militarismo de um típico reinado cheio de contradições, por exemplo, está ali para ser discutido e debatido). Porém, é inegável a importância que esse longa tem para empoderar um público que precisava de um ícone da ficção assim. 

O problema é que a continuação desse longa veio com uma série de problemas, a começar pelo mais grave de todos: a morte de Chadwick Boseman, que fez ninguém menos que o personagem título do filme. Então, o roteiro do segundo filme precisou ser refeito, praticamente do zero, tendo que reestrutura toda a mítica do personagem, e consequentemente, de Wakanda e todos os seus habitantes. 

Pra piorar, a atriz Letitia Wright, irmã de T'Challa no filme, e cotada para vestir o manto do Pantera Negra, se envolveu em polêmicas sérias envolvendo negacionismo científico com as vacinas do Covid-19, o que certamente criou antipatia por ela (e, não julgo), já que não deixa de ser irônico que a sua personagem, a Shuri, é justamente uma cientista prodígio. 

Ainda assim, a produção foi pra frente, e qual o resultado? Bom, mas, podia ser melhor. 




Um dos melhores momentos de "Pantera Negra 2: Wakanda Para Sempre" são seus 5 minutos iniciais, que são uma bela homenagem a Boseman sem ser piegas ou forçado. O problema é que depois disso, a dinâmica do filme fica um pouco complicada de entender no que se refere à reorganização de poderes em Wakanda com a morte de T'Challa, ao mesmo tempo que, em outras circunstâncias, a história simplifica demais as coisas. 

Da participação de Wakanda em um conselho mundial às motivações do novo antagonista, Namor, tudo parece frouxo em demasia, sem liga. Não que uma trama assim necessite de uma enorme complexidade, mas, há momentos em que a história fica bastante rasa, e não se justifica tanto. Isso porque o problema maior está no personagem Namor. Sim, a origem dele é muito boa, bem como o seu visual, os seus poderes, e até mesmo os sub-textos anto-colonialistas que aparecem aqui e ali. 

O grande problema mesmo está em sua motivação para declarar guerra a Wakanda. Ora, estamos falando de um personagem com um tempo considerável de vida (coisa de séculos), e que rege um reino sub-aquático de dimensões assombrosas. Será que, na cabeça dele, não haveria outro meio de tentar dialogar com Wakanda ao invés de fazer o que fez, como se fosse simplesmente um tirano qualquer?

Tudo bem: o personagem nos quadrinhos é arrogante e prepotente, e era necessário achar um meio de colocar Talocan e Wakanda um contra o outro, mas, do jeito que o roteiro do filme construiu, não há substância que justifique as atitudes de Namor, algo que, inclusive, torna-se nítido no clímax do filme. 

A título de comparação, mesmo tendo menos tempo em tela no primeiro filme do que Namor neste segundo, Killmonger tem uma motivação bem mais plausível e pungente para as suas ações. Ou se formos pegar algum personagem similar que resida no fundo dos mares, toda a construção do Rei Orm no filme do Aquaman em 2018 é bem mais interessante e sólida. 

Ressaltando mais um detalhe: há três personagens aqui, claramente, sobrando na trama, mas, que aparentemente precisavam constar no filme como uma imposição dos produtores para que o enredo se conectasse com Universo Marvel nos cinemas, sendo que uma dessas personagens dispensáveis é a Riri Williams, a Coração de Ferro, o que acaba deixando a história mais inflada do que deveria.




Ainda assim, mesmo que o grande desafio do filme, no final das contas, seja motivado por uma grande facilitação de roteiro, sem conseguir dar uma justificativa mais sólida e interessantes para as ações violentas de Namor, o filme ainda se sustenta bem como uma grande aventura de descoberta e aprendizado, especialmente por parte da Shuri, que vai ganhando camadas cada vez melhores em sua personalidade com o decorrer da trama. 

Há também um esforço muito bom do diretor Ryan Coogler em conduzir sequências de ações melhor trabalhadas que do primeiro final. Nesse caso específico, a batalha final de "Pantera Negra 2: Wakanda Para Sempre" é bem mais bem construída que a do anterior, e realmente empolga. Como também se destaca o elenco, bem desenvolto em seus papeis (nesse sentido, é uma pena que a Lupita Nyong'o não tenha um destaque maior em tela). 

Já o que pega negativamente mesmo são os sub-textos sociais, que no filme de 2018, estavam bem melhor delineados, e com propósito mais firme, Nesta sequência, os poucos comentários nesse sentido são mais mais construir cenas empolgantes (como na invasão de soldados norte-americanos aos laboratórios de Wakanda), ou para sedimentar de maneira bem simplificada a origem de Namor. 

Enquanto que o discurso no primeiro "Pantera Negra" era um papo mais reto e instigante, aqui, os comentários sociais, apesar de ainda existirem e serem relevantes na vida real, não são tão bem desenvolvidos assim, o que é uma pena, já que o assunto aqui versa até com colonialismo. 




No geral, este "Pantera Negra 2: Wakanda Para Sempre" é um filme apenas bom, que se sobressai pelo bom gosto de Ryan Coogler em conduzir cenas emocionantes envolvendo a memória de Chadwick Boseman, e sequências de ação mais visualmente bonitas e criativas que o primeiro. Torcer agora para que no futuro personagens como Shuri e principalmente Nakia e Namor sejam melhor trabalhados dentro do universo cinematográfico da Marvel. Potencial eles têm de sobra. 


Nota: 7/10

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