Dica de Disco

Nevermind 
1991
Artista: Nirvana


Alguns discos transcendem a época em que foram lançados, e ganham uma importância absurda dentro da indústria do entretenimento. Só para ficar nos exemplos mais clássicos poderíamos citar "Sgt. Peppers" (Beatles), "The Dark Side of the Moon" (Pink Floyd) e "Nevermind The Bollocks" (The Sex Pistols). Todos de enorme influência até hoje. "Nevermind", do Nirvana, está nesse seleto grupo.

Não que a banda tenha forçado a barra para alcançar o estrelato. Longe disso. No ano em que veio ao mundo, esse álbum teve de concorrer com artistas como Michael Jackson e Witney Huston, reconhecidos campeões de vendas. O susto foi justamente uma banda de garagem, com um trabalho despretensioso, às vezes, cru, desbancar dois medalhões desse porte. Nesse caso, mesmo que temporariamente, o simples superou o elaborado.


O melhor de tudo é que "Nevermind" fez por onde merecer o estardalhaço que causou. É um trabalho que, como poucos, mistura elementos pop com a fúria e a urgência de um bom rock'n roll. Esses elementos encontramos já na primeira música, "Smells Like Teen Spirit". Bastou os seus primeiros acordes para que ela trouxesse um supro revigorante ao estilo. Um começo avassalador.

Já, a canção seguinte, "In Bloon", é mais cadenciada, mas não menos vibrante (principalmente, em seu refrão). "Come As You Are" é quase uma balada, e isso, por incrível que pareça, é o seu grande mérito. Quantas músicas "comerciais" ouvimos por aí com tamanha qualidade e estilo?


A partir daqui, temos uma variação entre canções mais pesadas, quase punks ("Breed" e "Territorial Pissings") com outras mais introspectivas ("Polly" e "Something in the Way"). Nesse conjunto, destacam-se a maravilhosamente melódica "Lithium" e a explosiva "Stay Away". Ao final, um disco realmente poderoso, com uma porção de músicas que poderiam muito bem fazer sucesso (e fizeram), mas sem perder em peso e garra.

Por sinal, garra é uma das qualidades que devem ser citadas aqui. Kurt Cobain, mesmo limitado como guitarrista conseguiu compor ótimos riffs, além de escrever letras muito boas. Kris Novoselic, como baixista, conseguiu preencher os "espaços" das músicas com excelentes melodias. E, claro, Dave Grohl, na bateria, mostrou um vigor invejável. Bom lembrar que a produção de Butch Vig, que, anos mais tarde, formaria a banda Garbage, ajudou a moldar o som do Nirvana de maneira fenomenal.


Muitos discos vendidos depois, uma influência sem precedentes nos grupos de rock que surgiram posteriormente e o trite suicídio de Kurt Cobain marcaram a imagem do Nirvana eternamente. Talvez a penúltima grande revolução (a verdadeira) no rock (a última mesmo quem nos proporcionou foi o Radiohead e o seu "OK Computer", em 1997).

Apesar de tudo isso, "Nevermind" não é o melhor disco do Nirvana. Antes e depois dele, tivemos o lançamento da pérola "Bleach" e do seminal "In Utero". Mas, o famoso disco do bebê sendo pescado é, sem dúvida, o mais importante. Aprimorou o que o grupo vinha fazendo e proporcionou excelentes possibilidades (afinal, com o sucesso de "Nevermind" eles tiveram aval para lançarem um dos melhores acústicos de todos os tempos).


Um caso raro em que o alternativo se encontra com o mainstream, fazem as pazes e unem forças para levar música visceral às massas. Em tempos de crise artística, um autêntico grito de revolta .


NOTA: 9,5/10

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