Dica de Filme

Perfume - A História de Um Assassino
2006
Direção: Tom Tykwer


Adaptações literárias são o calcanhar de Aquiles do cinema. Ou o resultado é satisfatório ou não é. Geralmente, não existe meio termo nesse tipo de gênero. Provavelmente, a preocupação em ser fiel demais com o material impede que a produção tenha vida própria, sendo algo mais "autoral" do cineasta do que do escritor. "Perfume" é dessas adaptações que consegue superar esse problema.

Mesmo sendo fiel ao livro que o originou, "Perfume" tem uma técnica apurada, que diz muito sobre o seu realizador, Tom Tykwer, o mesmo de "Corra, Lola, Corra". O início se dá quando vemos o protagonista, Jean-Baptiste Grenouille, indo para uma sentença de execução. Não sabemos qual crime ele cometeu; apenas vemos que deve se tratar de algo verdadeiramente horrível, pois sua morte será bastante violenta, enquanto a população urra de felicidade.



Corta para o momento em que Jean-Baptiste nasceu: uma época e um local onde o odor das cidades era insuportável. E, é no meio de tanta podridão que sua mãe lhe dá a luz. Levado para um orfanato, ele cresce e vai descobrindo um dom incomum: o de sentir o aroma de tudo ao seu redor de maneira muito mais apurada do que o normal. É através do olfato que ele entende e contempla o mundo, não fazendo distinção entre cheiros bons ou ruins.

Mas, é quando ele começa a sentir o aroma, depois de adulto, das mulheres e quando ele conhece também o odor de perfumes que ele se vê compelido a fabricar o melhor perfume já feito; um que tenha o cheiro das moças mais belas que ele encontrar. No entanto, para poder preservar tais aromas, ele necessitar matar a pessoa, o que faz com que provoque terror e, ao mesmo tempo, fascínio no vilarejo onde vive.


O filme é cheio de simbolismos muito bem representados. Por exemplo: essa eterna busca de Jean-Baptiste pelo odor mais sublime expõe a relação de poder entre as pessoas. Exalando o cheiro que sempre buscou, ele tem várias pessoas sob seu "domínio", sendo reverenciado como um rei ou até como um santo. Acima do clero e da Igreja, o protagonista exerce um verdadeiro furor nas pessoas, quase como uma nova religião ou até a essência da vida.

Também é interessante notar como os efeitos plásticos e a câmera do diretor ajudam o expectador a emergir no universo da estória. Assim como no livro, chegamos a "sentir" o cheiro das coisas, desde as mais repugnantes até as mais belas.


Algo a se criticar são as atuações, que vão do veterano Dustin Hoffman ao novato Ben Whishaw (que faz o protagonista). São boas, diga-se, mas não chegam a se destacarem. O filme se sustenta mesmo pela ótima estória, sua condução envolvente (mesmo que lenta) e uma ambientação de época realmente fabulosa.

"Perfume" ainda possui uma das melhores sequências do cinema recente, bastante surreal e poética. São cenas que explicitam o verdadeiro desejo de Jean-Baptiste: uma ode à vida (já que ele sempre foi um sobrevivente) e ao amor (um sentimento que ele chegou a sentir uma única vez, mas não concretizou).


Esta é uma adaptação que, longe de tentar copiar a obra original, tem luz própria. Um filme de muitos predicados e que, fazendo jus ao personagem principal, precisa ser sentido como um dos melhores aromas.


Nota: 8/10

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