Dica de Disco

Toxicity
2001
Artista: System of a Down



Estigmas são difíceis de se retirar. Do final dos anos 90 pro início dos 2000, a música pesada vai ser sempre taxada pelo insosso new metal. Verdade que existiam bandas realmente horríveis capitaneando esse movimento, como o Limp Biskit, por exemplo. Mas, pra toda exceção existe uma regra, e, nesse caso, quem salvou o new metal de ser um completo embuste foi o System of a Down, principalmente, devido este "Toxicity".

Três anos antes, a banda já havia lançado seu poderoso disco homônimo, que já possuía características muito próprias: uma guitarra com andamentos inusitados, um vocalista que fazia estripulias interessantíssimas e mais uma pitada de elementos orientais, pra deixar tudo com uma cara muito peculiar, criativa, mas, sem deixar de lado o peso, e uma bem-vinda crítica social, na mesma linha do Rage Against the Machine, só que mais irônico.


Coincidência ou não, o álbum foi lançado uma semana antes dos atentados de 11 de Setembro, e a revolta exposta em cada acorde do disco caiu como uma luva para aquele momento. A começa pela faixa de abertura, "Prision Song", com suas mudanças de andamento e uma letra que, de cara, já diz a que veio: "Seguindo os movimentos dos direitos / Que você segurou com seus punhos de ferro / Drogas se tornaram convenientemente / Disponíveis para todas as crianças".

Já nessa primeira música percebe-se o que tornou o System diferente das outras bandas de new metal: além de um claro engajamento político, o som não remetia apenas a uma mistura de heavy metal com rap, mas, sim a outros elementos que tornavam a música mais rica, empolgante. Podia ser algo mais hard rock aqui, ou um timbre mais psicodélico acolá, e até o jeito do vocalista Serj Tankian cantar, ora suave, ora gutural, faziam grande diferença na mesmice que tomava conta do estilo.


O disco segue com as maravilhosas "Needles", "Deer Dance", "Jet Pilot" e "X", todas diferentes entre si, mas, com a identidade do System. Destaque nessa seguência para "Deer Dance", e sua letra pra lá de provocativa: "Além dos grandes centros você pode ver a América / Com sua desgraça cansada, pobre, vingativa / Jovens amáveis e pacíficos contra a brutalidade / Uma existência plástica".

Então, surge o primeiro single do trabalho, a não menos fantástica "Chop Suey", com as já costumeiras mudanças de ritmo, um trabalho digno de nota dos instrumentistas, Tankian se esgoelando insanamente, e uma letra que transita entre o sublime e o sarcástico: "Eu acho que você não confia em meu suicídio justo / Eu choro quando os anjos merecem morrer." A rápida "Bounce" é para provar que a banda também sabe se divertir, sem ser tão sisuda. Ótimo alívio depois das porradas anteriores, por sinal.


A segunda parte do disco é formada por canções mais climáticas, mais "operísticas", mas, de jeito nenhum, descartáveis. Tudo o que faz o System ser quem é está lá, só que mais introspectivo. Exemplo são as fantásticas "Forest" e "Atwa". As aceleradas "Science" e "Shimmy" servem como belas introduções à música que dá título ao álbum: "Toxicity". Esta é, sem dúvida, o auge do trabalho, e que mostra o porquê do disco ter feito tanto sucesso. Refrão pra cantar junto, sem esquecer do som contagiante e inteligente e mais uma ótima letra.

É quando chegamos ao final com a interessante "Psycho" e a grandiloquente "Aerials", que, inclusive, termina com uma batucada indígena fenomenal. Impossível, depois dessas 14 faixas espetaculares como essas, não dar replay no som, e ter o prazer de escutar tudo de novo, e perceber ainda mais detalhes escondidos em cada nuance de cada acorde.


Portanto, fica até simplista taxar este disco (e toda a banda, por tabela) de new metal. Os mais atentos perceberão mais semelhanças com Rage Against the Machine ou Faith no More do que com outros grupos mais recentes, como Korn. O que o System sempre fez (em especial, no "Toxicity") nunca foi mera cópia, mas, adaptar um som extremamente bem trabalhado, pesado, crítico e divertidos aos novos tempos. Basta, enfim, abrir bem os ouvidos.


NOTA: 9/10

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