dica de filme ("Agonia: Rasputin")


Dica de Filme

Agonia: Rasputin 
1981
Direção: Elem Klimov



Poderoso retrato histórico de Klimov revela uma Rússia pré-revolução caindo aos pedaços, imersa no fanatismo religioso 

1916. A Rússia ainda vivia sob o poder dos czares, enquanto milhões passavam todo tipo de necessidades. Insatisfações eram crescentes. Os conflitos, cada vez mais sangrentos. E, dentro desse panorama turbulento, surge a figura mística de Rasputin, uma espécie de guru religioso, que usa suas influências políticas de todas as formas possíveis e imagináveis, ao mesmo tempo que parece perder, cada vez mais, a sua sanidade. E, é justamente esse personagem tão "exótico" (para dizer o mínimo) que vemos aqui, neste filme.




Para contar essa história, Klimov (que, anos mais tarde, comandaria um dos melhores filmes de guerra já feitos, "Vá e Veja") usa de artifícios muito interessantes, como mesclar cenas reais daquele perídio com sequências ficcionais, o que torna a experiência ainda mais imersiva. E, bastante desconfortável, diga-se. 

Isso porque as sequências em preto e brancos de cidadãos russos passando fome, e sendo perseguidos pelas autoridades daquela época, são extremamente chocantes, ainda mais pelo forma como a edição é feita, com cortes rápidos e uma trilha sonora alta e incômoda.

Por sinal, incômodo é a palavra-chave aqui, principalmente quando a figura de Rasputin, finalmente, aparece na trama. Um ser que, ora se comporta como um completo louco, ora como alguém bastante asqueroso. Mas que acaba caindo nas graças dos poderosos da época, que tinham a pretensão de continuar no poder, e usar Rasputin como uma espécie de elo entre os czares e o povo. 

No entanto, com o tempo, o insano guru passa a ser mal-visto tanto pelo governo da época, quanto pelos revoltosos de plantão, encontrando em sua figura o bode expiatório perfeito para tentarem realizar seus objetivos.




Klimov usa de seu jeito intenso de filmar e de extrair o máximo de seus atores para narrar uma tragédia anunciada, a agonia de uma país à beira do abismo, cuja elite tenta se agarrar ao poder com todas as forças, enquanto a maioria da população definha e luta como pode. 

Algumas cenas são verdadeiras arrebatadoras, e muito se deve à potência da direção, feita com bastante energia, e ao seu elenco, em especial, Alexei Petrenko, que faz Rasputin com grande paixão e entrega, protagonizando algumas cenas memoráveis, que mesmo perturbadoras, passam bem a psiquê de um personagem tão dúbio inserido em um contexto histórico tão complicado.




"Agonia: Rasputin" merece pertencer ao panteão dos grandes filmes russos de todos os tempos. Um forte e impressionante testamento dos últimos tempos de uma Rússia pré-revolução. Seja como uma contundente crítica social ao poder político ou ao fanatismo religioso, seja como a cinebiografia de um personagem cada vez mais fadado à loucura, o filme honra a tradição de bom cinema do país, servindo, ainda, como uma baita aula de história também.

Filme com "F" maiúsculo.


NOTA: 9/10


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