Dica de Filme ("Starman")

Título: Starman
Ano de lançamento: 1984
Direção: John Carpenter


Um ponto fora da curva bem interessante na excelente carreira de Carpenter

Quando estreou, Starman foi um fracasso de público e crítica nos EUA. Não que o talentoso cineasta John Carpenter já não estivesse acostumado com isso (dois anos antes o clássico moderno Enigma do Outro Mundo passaria pelo mesmo desdém). O mais curioso aqui é que neste filme p diretor arriscou mais em uma seara na qual muitos de seus fãs não estavam acostumados. 

Sim, aqui temos temos toques de ficção científica e, às vezes, um pouco de terror, mas o foco narrativo aqui é um romance, algo impensável para alguém que já havia aterrorizado plateias com obras como Halloween e o já citado Enigma do Outro Mundo. E, essa ousadia, mesmo não rendendo bons frutos à época, mostrou o quanto Carpenter, de fato, era um diretor diferenciado. 




Não espere aqui uma trama mirabolante, repleta de efeitos e pirotecnia. Não. A trama, em si, é simples, e o seu desenrolar, bastante correto. E é aí que está a beleza no cinema de Carpenter. Ao não tentar fazer mais do que sabe, ele aposta na simplicidade de uma boa realização, e, a partir dela, extrai momentos e reflexões interessante e pertinentes em suas obras.

Com isso, o cineasta consegue um feito que muitos diretores de cinema tentam até hoje: ser acessível na narrativa, e profundo em pequenos (mas, significativos) gestos. Quando os protagonistas se encontram com um caçador de cervos, o que poderia ser só mais uma cena clichê para expôr a idiotice e brutalidade de quem só resolve tudo na base da violência, reserva um instante de sublime beleza. Algo sutil, e que poucos teriam a sensibilidade de filmar do jeito certo. 

Os pequenos questionamentos presentes no filme não se limitam a isso, especialmente quando o alien pergunta incessantemente à sua companheira de viagem a definição das coisas e dos sentimentos. É na respostas dela e nas reações dele que o filme encontra a convergência perfeita entre um bom romance com drama, e alguns toque de sci-fi. 




Mesmo os momentos mais cômicos do filme não destoam do todo graças ao bom gosto do diretor em saber a hora certa de mostrar o "homem das estrelas" se adaptando a coisas simples, e o instante certo de se aprofundar mais na dupla principal de personagens em cenas intimistas e cativantes ao mesmo tempo. É preciso habilidade na condução de uma boa história (apesar de simples), e Carpenter consegue isso de maneira direta, sem firulas. 

Tanto isso é verdade que o filme não investe em grandes efeitos visuais (salvo algumas exceções), mesmo sendo basicamente uma história de visita extraterrestre. Há algumas explosões aqui e acolá, e uns efeitos especiais um tanto datados, mas que, de qualquer modo, conferem certo charme à produção. Porém, é nessa economia de momentos mais fantasiosos que o filme ganha muito, já que se concentra (e muito bem) na adaptação de um alienígena aos nossos costumes (e contradições). 

Talvez o maior defeito aqui esteja em alguns furos de roteiro, como na sequência final em que se espera que tenha um exército já a espera dos protagonistas, sendo algo que só acontece depois. Porém, são poucos instantes assim, não sendo nada que torne a experiência abaixo da média. 




As atuações estão boas, somente demorando um pouco para nos acostumarmos com os tiques de Jeff Bridges, que, às vezes, parece  mais um robô do que um ser espacial. Tirando isso, tudo ok. No entanto, o grande mérito aqui é do cineasta, que consegue, mesmo em um dos seus filmes mais simples, fazer uma obra cativante e que não envelheceu quase nada. 

E, convenhamos: um Carpenter fazendo bem um feijão com arroz ainda é algo acima da média para os dias de hoje. Um filme, no final das contas, agradável e envolvente. 


NOTA: 7,5/10

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