Dica de Filme ("Turista Espacial")

Título: Turista Espacial
Ano de lançamento: 1996
Direção: Coline Serreau


Sátira bem-humorada (e até ingênua) da sociedade atual faz refletir de uma maneira bem peculiar

Poucos filmes se dão ao luxo de serem realmente "diferentes", no sentido de que até possuem uma mensagem padrão pra passar, mas que o fazem de uma forma bem inusitada, quase nonsense, porém, bem interessante. No ramo da comédia, esse tipo de experimentação, quando dá certo, é muito bem-vindo, como é o caso deste Turista Espacial, cujo início (estranho) já fisga a nossa atenção com bastante força pelo tom fabulesco da história, que ora parece fantasia, ora parece ficção científica, ora simplesmente parece que algo diferente do que se tenha visto até então. 




Provavelmente, o grande trunfo de Turista Espacial seja abraçar, sem pudor, algo meio caricatural, mas, levando-se a sério nos momentos certos, com algumas críticas bem ácidas às sociedade moderna regida por dogmas e regras que minam a vida, onde o bem-estar, a harmonia com a natureza e sentimentos como altruísmo e compaixão foram substituídos por coisas completamente diferentes.

Olhando assim, parece que o filme é um tanto forçado ou didático demais ao passar suas mensagens, porém, tudo aqui aparece de maneira bem orgânica e fluida na trama (por mais absurda que esta seja). Da reunião inicial de diversas pessoas no topo de uma montanha, passando pelo o que parece ser um "comércio" entre elas, até a revelação de que aqueles seres são de outro planeta bem mais evoluído do que a Terra, e por aí vai. 

Nada acaba sendo muito absurdo devido à condução da história, que é bem elaborada pelas mãos da cineasta Coline Serreau, que também escreve o roteiro e é uma das trizes principais da trama. Claro que por vezes uma carga muito forte de inocência paira no ar, mas, diante da proposta, até até esses momentos têm uma razão de existir no contexto do filme. 




Mesmo transitando na seara do absurdo ou do nonsense, Turista Espacial cativa pelo fato de seus personagens serem bastante palpáveis, parecendo pessoas reais com problemas e dilemas reais. E as mensagens (todas importantes) se inserem na trama à medida que as ações vão acontecendo, como na parte em que um determinado personagem se irrita por conta de um retrovisor arranhado, e recebe uma lição de moral das melhores. 

Sem contar ainda o fato de que a direção de Coline Serreau é ágil, mostrando os pontos mais importantes que envolvem a mitologia daqueles seres tão peculiares, ao mesmo tempo em que faz a história avançar sem atropelos. Por isso, o filme acaba sendo bem dinâmico, e o tempo flui de maneira bem natural. Tão natural, que, ao final, até queremos saber um pouco mais do cotidiano daquele povo, que enviaram pra Terra desde Cristo a Bach (isso mesmo! Inusitado e provocativo, não?). 

Obviamente que não se trata de um filme para todos os gostos e públicos. A excentricidade de sua trama, unida ao roteiro que toca em certas questões morais e filosóficas, pode afastar aqueles que buscam somente uma diversão descompromissada em uma comédia. Porém, ainda assim, não é uma produção classuda e de difícil digestão. Ao contrário. 




Ao final, temos uma deliciosa comédia que transita em muitos temas, mas que não deixa, em nenhum momento, o seu lado humanista. E, melhor: sem ser forçadamente piegas. Uma espécie de K-Pax (aquele filme sobre um suposto viajante espacial, com Kevin Spacey no elenco), só que com uma mitologia mais rica e interessante. Até mesmo porque Turista Espacial abraça com gosto sua premissa fantasiosa. Uma pequena pérola dos anos 90, talvez pouco conhecida, mas que vale muito a pena de ser conferida. 


NOTA: 8,5/10



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