DICA DE FILME ("GLORIA")

 Dica de Filme


Título: Gloria
Ano de lançamento: 1980
Direção: 
John Cassavetes


Thriller muito bem filmado por Cassavetes mostra uma das personagens femininas mais casca-grossa desse gênero no cinema

Personagens femininas fortes, que colocam qualquer marmanjo no chinelo com muita propriedade e atitude podem não ser novidade nos dias de hoje, mas, antigamente, era novidade. É só lembrar que a tenente Ripley de Alien só veio público em 1979, e Sarah Connor de Terminator, só no início dos anos 80. 

Só que não deixava de ser um tanto estranho que essas personagens (apesar de muito interessantes) também serem um pouco "masculinizadas", como se uma mulher, pra ser forte, precisasse "se comportar como homem". 

Coube a Cassavetes em seu ótimo Gloria mostrar uma personagem mulher durona e casca-grossa, mas, que não precisa repetir estereótipos de gênero. Assim, fez um filme de incrível empoderamento feminino, onde a trama de suspense casa bem com a personalidade (forte) da protagonista. 




De início, acompanhamos os reveses de uma família porto-riquenha no bairro barra-pesada do Bronx, onde um garoto de 6 anos é salvo de ser morto por uma quadrilha de mafiosos graças a Gloria, uma ex-presidiária, também envolvida com a máfia da região. 

Tendo que cuidar do menino a partir de então, ela precisa correr contra o tempo para escapar de gangsteres que pretendem matá-lo para pegarem algo muito valioso que está em sua posse. No meio do caminho, fugas e assassinatos serão constantes, naquele clássico jogo de "gato e rato". 

Por mais simplória que a premissa possa parecer, lembre-se de que estamos em 1980, numa época em que filmes assim não eram tão comuns. Cassavetes, então, pôde se dar ao luxo de filmar de uma maneira que ora tinha a energia e a urgência dos bons filmes de ação, ora apresentava algo mais intimista, na linha das produções noir. 

Até para os dias atuais, as cenas mais movimentadas são tensas e angustiantes, ao mesmo tempo em que as partes mais calmas são construídas de maneira muito competente, fazendo com que conhecemos melhor quem é Gloria e quem é seu pequeno protegido. 



A sucessão de acontecimentos é filmada da forma que cada cena precisa. Quando é necessária uma câmera na mão, parece que estamos diante de um documentário, de tão real que aquilo é mostrado. 

Mas, quando o cineasta precisa fazer com que o espectador estenda melhor o espaço onde os personagens se encontram, a câmera acompanha o desenrolar dos acontecimentos, muitas vezes, sem cortes, dando tempo para absorvermos cada momento. 

Uma maneira de filma, ao mesmo tempo, autoral e precisa. 

O desenvolvimentos dos personagens principais é outro grande mérito do longa. De início, vemos Gloria se comportar de maneira dura com todos que a cercam (em especial, o menino). Porém, com o tempo, vamos entendendo as ações dela, e torcendo contra os seus algozes. 

Mais cinema de ação como viemos a conhecer, impossível!

Já, o menino se comparta como qualquer criança agiria naquela situação. Ou seja, de maneira impulsiva, boba e até inocente. Junto com Gloria, torcemos muito por ele. 




As atuações não estão necessariamente maravilhosas, mas, também não comprometem. Quem se sai melhor é Gena Rowlands, interpretando a própria Gloria. Sua presença em tela impõe o respeito e o carisma necessários para nos importarmos com a personagem, e tememos pela vida dela. 

Já John Adames (que faz o pequeno protegido de Gloria), em algumas ocasiões, parece ser um tanto robótico nas falas, porém, tem seus bons momentos de atuação, em especial, na parte final do filme. 

Mas, o grande acerto do longa está mesmo na direção audaz e cheia de personalidade de Cassavetes. Ele faz as duas horas de Gloria passarem de forma bem natural, quase sem deslizes, misturando ação, suspense e noir numa produção com bastante energia. 

E, ainda por cima, teve a ousadia (para a época) de mostrar uma dos melhores e mais fortes personagens femininas nesse tipo de filme. Sim, Gloria não tem medo de homem algum, e enfrenta todos de igual para igual de maneira forte e destemida.

Sem dúvida, nesse sentido, um filme a frente de seu tempo.

Nota: 8,5/10

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