DICA DE FILME ("RUN.")

 Dica de Filme


Título: Run.
Ano de lançamento: 2020
Direção: 
Aneesh Chaganty



Um dos melhores thrillers de 2020 retrata a obsessão materna de maneira bem perturbadora

Dentre os diretores novatos, podemos destacar alguns que realmente mostram algum diferencial no que fazem. Robert Eggers, do excepcional O Farol, é um deles. O outro é Aneesh Chaganty. 

Em 2018, ele já havia impressionado os espectadores mais desavisados com sua estreia em Buscando..., filme esperto e inventivo, tanto na forma, quanto no conteúdo. E, agora, 2 anos depois, ele volta com um thriller (aparentemente) mais convencional, mas, que guarda ótimas surpresas caso espere os momentos certos. 

É aquele tipo de filme que oferece, ao final, mais do que aparentava, e mesmo que se renda a alguns clichês do gênero, é um ótimo exercício de cinema, ancorado por duas atrizes muito competentes. 




Um dos grandes méritos do filme, sem dúvida, é não enganar (demais) o espectador, com suspenses baratos. Desde a primeira cena, podemos supor que haverá algo de errado com a personagem Diane, quando esta se encontra desolada, em um hospital, na frente de seu bebê prematuro. 

Corta pra muitos anos depois, quando sua filha (Chole) já está crescida, mas, com sequelas de seu nascimento precoce. A menina possui problemas cardíacos, asma, diabetes, e ainda por cima, não tem movimento nas pernas, precisando estar numa cadeira de rodas constantemente. 

Ainda assim, a relação dela com a mãe aparenta ser a melhor possível. Até que... Bem, paremos por aqui para evitar spoilers. O que dá pra dizer é que a situação se complica a tal modo que questionamos se alguma das personagens sairá ilesa no final. 

E, (só pra constar) que final!




Como já dito antes, Run. não perde tempo em esconder muitos dos segredos do roteiro. E, isso é ótimo. Já nos primeiros 15 minutos, ele vai mostrando, aos poucos e na medida certa, quem é Diane, e o porquê de Chole estar em perigo naquela casa. 

A tensão está em acompanhar um tipo de "jornada pela sobrevivência". Em determinado momento, presenciamos longas e angustiantes sequências ao lado da Chole, que se encontra numa tentativa desesperada de entender o que está acontecendo com ela e com a mãe, e como ela pode escapar disso. 

São essas cenas (e o final) o ápice do filme, mostrando como Aneesh Chaganty sabe filmar momentos muito criativos e que nos conectam à história de maneira muito imersiva. A sequência do telhado, por exemplo, é muito bem executada e nos colada quase que na pele da protagonista. 

Por sinal, as atrizes Sarah Paulson e Kiera Allen se entregam de forma bastante intensa às suas respectivas personagens, sendo elas as principais responsáveis pelo nosso investimento na história. 

A primeira passa de maneira convincente a imagem de uma mãe zelosa. Só que sua degradação ao longo da trama é muito bem feita e crível. Já a segunda se comporta exatamente como uma jovem se comportaria numa situação daquelas, com níveis de sofrimento e desespero cada vez maiores.

Não chegam, necessariamente, à mesma intensidade que uma Toni Collette conseguiu em Hereditário, por exemplo, mas, nesse gênero de filme, certamente, as interpretações de ambas estão acima da média. 



No entanto, nem tudo são flores. Ao contrário de Buscando..., que mesmo convencional em alguns pontos da história, entrega um resultado de grande inventividade, em Run., algumas soluções convencionais (especialmente perto do desfecho do longa) incomodam. 

Muitos podem até argumentar que essas partes serviram para pavimentar o terreno para o impactante final da obra, mas, com um pouco mais de criatividade (algo que tem pra dar e vender em Buscando...), Chaganty poderia ter entregue um resultado ainda mais diferenciado. 

Porém, são deslizes, querendo ou não, de um realizador iniciante, mas, que já conseguiu mostrar grande talento e perspicácia cinematográfica em apenas dois filmes. 

Run., no final das contas, é um exercício bastante competente de suspense. Tem os seus clichês, é verdade. Mas, recompensa o espectador com uma direção segura, duas ótimas interpretações de atrizes talentosas e um final que pega muitos pelo contrapé. 

Ao lado de O Diabo de Cada Dia e O Que Ficou Para Trás, ele só confirma a ótima safra de filmes recentes que estamos tendo nessa seara do suspense/terror. 

Que venham mais. 


Nota: 8/10

 

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