DICA DE FILME ("BABYTEETH")

Dica de Filme


Título: Babyteeth
Ano de lançamento: 2019
Direção: 
Shannon Murphy


Tocante drama aborda de maneira simples (mas, pouco óbvia) a brevidade da vida 

A vida real (aquela que se encara todos os dias) pode ser mais peculiar do que se imagina. Normalidade que disfarça profundos sentimentos. Um turbilhão de emoções. Cada pessoas com seu próprio universo de paixões, desejos e objetivos. A vida cotidiana nem sempre é tão norma quanto aparenta, mas, pode guardar momentos de muita beleza. Alguns filmes conseguem captar isso. É o caso de "Babyteeth". 

O título original ("Dente de Leite") diz muito a respeito de cada personagem aqui, especialmente de Milla e Moses, mas também, e de maneira nem um pouco óbvia, os pais dela, por exemplo. Parece a todo momento que todos aqui está "à margem de algo", como se ainda não tivessem se encontrado, e estivessem de alguma maneira perdidos. 

Ou seja, ainda não "perderam o dente de leite", ainda não amadureceram, ainda estão presos a algo do passado. Essa simbologia fica cada vez mais forte à medida que o filme avança, e sentimentos como tristeza, alegria e melancolia vão se sucedendo no turbilhão que é o interior e o exterior desses personagens. 





Longe de ser maniqueísta em muitos pontos, "Babyteeth" aborda desde o consumo de drogas, às traições nos relacionamentos. E tudo abordado de maneira natural, sem pesar a mão nos dramas, e mostrando gente que poderia estar na esquina da nossa casa, de tão palpáveis que são. É uma abordagem bem sensível, fazendo de nós íntimos daquelas pessoas com muita facilidade. 

Nota-se o esmero do roteiro de Rita Kalnejais e da direção de Shannon Murphy em contar o mínimo necessário de cada personagem. Ao final, através de pequenas peças espalhadas ao longo da trama, conhecemos bem melhor aquelas pessoas, com destaque para os pais de Milla, que por meio de certas transbordam que estão passando por uma profunda tristeza. 

E o melhor: nada disso é mostrado de maneira didática, explicada ao extremo, expositiva. É só ver, por exemplo, como tanto o pai, quanto a mãe de Milla, reagem quando esta desaparece. Em poucos diálogos já deduzimos muito, o que já é o suficientes mais imergirmos ainda mais naquela história, mesmo que o desfecho lá na frente aponte para algo nada agradável. 




Contudo, os personagens que preenchem a tela com carisma, sensibilidade e complexidade são Milla e Moses, dois jovens de mundo diferentes, mas, que se encontram pelo mero acaso, e vão mudar a vida um do outro. Mesmo que a primeira cena de interação entre os dois pareça meio estranha, ela combina bem com a suposta extroversão de um e a suposta timidez da outra. 

Com o passar do tempo, essa relação se desenvolve de um modo bem natural, com todos os percalços que se poderia imaginar com pessoas passando por certos dramas ali. E, pra ilustrar isso, a narrativa também é bem esperta ao inserir pequenos títulos para cada situação apresentada, como se fossem capítulos de um diário, por exemplo. 

O tom do filme muda com frequência de algo mais jovial, para um drama mais pesado e carregado de sofrimento. Mas, como a direção consegue ter domínio narrativo, e nos habituamos com facilidade aqueles personagens, embarcamos em cada situação daquelas. Rimos e sentimos tristeza quase que na mesma proporção. 

É quase a vida real mesmo, com seus altos e baixos. Com momentos bons, e outros nem tanto. E, tudo isso passado com delicadeza por um roteiro sensível, uma direção criativa e igualmente sensível, e um elenco ótimo, tendo como destaques Eliza Scanlen e Toby Wallace, fazendo Milla e Moses, respectivamente. 




Quando sabemos, de verdade, do que se trata, e conhecemos melhor seus personagens, seus dramas e seus possíveis destinos, "Babyteeth" se torna um pouco doloroso de assistir. Contudo, o filme tem uma energia e uma forma tão interessante e nada óbvia de contar sua história, que compramos sua premissa, e seguimos firmes para ver no que dá. 

Essa sensibilidade ímpar se traduz na última sequência do longa, onde a preferência por encerra daquela forma mostra meio que a mensagem que "Babyteeth" quer passar: aproveite cada momento. Um final digno para um filme formidavelmente simples. 


 Nota: 9/10

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