DICA DE FILME ("WOLFWALKERS")

 Dica de Filme


Título: Wolfwalkers
Ano de lançamento: 2020
Direção: 
Tomm Moore e Ross Stewart


Uma singela animação que oferece bem mais do que aparenta

Nos últimos anos, o cinema de animação nos EUA tem se restringido bastante às produções da Disney/Pixar, que, de fato, entregam sempre materiais acima da média. Mas, convenhamos: é reconfortante quando saímos um pouco desse eixo, e nos deparamos com preciosidades como "Wolfwalkers". 

Agora, não dá pra negar que essa animação beba muito da fonte de outras obras, em especial, as dos Estúdios Ghibli, e mais especificamente, dos filmes do Miyazaki, como "Princesa Mononoke". Porém, muitas vezes, não importa necessariamente a originalidade da história, mas, a forma como ela é contada, ou simplesmente o jeito como os acontecimentos vão se sucedendo. 

Como exemplo, cito o recente "Soul", que, apesar de ousado na temática, por vezes, atropela-se um pouco na narrativa. Mesmo que torçamos pelos seus personagens, a narrativa vai apenas mostrando alguns fatos pra expor a ousadia do roteiro, mas, falta um pouco daquela "liga" que nos faz emergir na história e acompanhá-la com vigor. E, "Wolfwalkers" consegue isso.  




Como falado antes, a história em si não tem nada de novo. Tem magia, drama, comédia, personagens fofinhos e uma bem-vinda lição da necessidade de termos mais harmonia com a natureza. Porém, não dá pra negar o carisma que uma história bem contada dessas tem, muito menos, seus personagens. 

A intrépida Robyn é a personificação daquela heroína que tanto gostamos de ver: corajosa, mas, pouco experiente. A relação dela com seu pai é muito bonita e palpável, e o universo da aldeia em que vivem também emana algo muito real e humano, em especial, pelo fato daquele lugar ser localizado na Irlanda, e estar sob o domínio do Império Britânico. Estamos no ano de 1650. 

Sim, a animação, em alguns momentos, chega a flertar com uma crítica ao imperialismo e a regimes autoritários como um todo. Inclusive, há críticas também ao fanatismo religioso, na figura do odioso Lorde Oliver. Claro, não é nada muito aprofundado. Mas, ainda assim, é interessante notar que essa animação tenha passado mensagens críticas de maneira tão eficiente. 




Há também a questão do senso de perigo aqui, que, de certo modo, chega a ser impactante em alguns momentos. "Raya e o Último Dragão", recente trabalho da Disney, também é uma aventura que nem "Wolfwalkers", mas, os desafios ali pareciam muito fáceis para Raya e cia, e mesmo que empolgasse, receávamos pouco pela vida deles, pois, estava claro de que tudo acabaria bem. 

Aqui, a história muda um pouco de figura. 

De início, parece que "Wolfwalkers" vai ser só mais uma animação bonita e fofinha, mas, a progressão dos acontecimentos ocorre de tal maneira, que chega um momento em que duvidamos se alguém sairá ileso dali. É um nível de tensão e dramaticidade tão angustiante, que faz com que o senso de perigo seja preocupante a cada minuto. é aí que reside uma de suas muitas qualidades. 

Inclusive, há até mesmo certo nível de violência aqui, em especial, no terceiro ato. Claro que não é nada escandaloso, mas, o filme faz questão de mostrar causas e consequência de maneira bem clara, que é algo que, ironicamente, as produções mais antigas da Disney tinham mais. 

Também não dá pra deixar de falar da cativante personagem Mebh, que, assim como Robyn, também nutre uma bonita relação com alguém de sua família, traçando, assim, um paralelo interessante entre ambas. Quando as duas estão juntas é bastante divertido, porque o roteiro, habilmente, faz com que elas se comportem como crianças que são, e não como adultos em miniatura. 

Talvez só um ou outro elemento esteja sobrando aqui, como alguns coadjuvantes que residem na aldeia, que, às vezes, só servem como alívio cômico, mas que não têm, a grosso modo, importância alguma para a trama. Ainda assim, não é nada que atrapalhe a experiência de fato. 





"Wolfwalkers" começa devagar, como quem não quer nada. Pensamos que vai ser só mais uma animação de aventura passageira, e quando menos esperamos, estamos imersos naquela história, com todo o seu carisma, tensão e dramaticidade. 

Um filme que ousa bem pouco na temática, é verdade. Mas, que consegue um feito muito bom nesses tempos: contar, de maneira envolvente, uma ótima história que pegará em cheio adultos e crianças. 


Nota: 9/10

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