DICA DE DISCO ("Time Clocks", de Joe Bonamassa)

Dica de Disco


Título: Times Clock
Ano de lançamento: 2021
Artista: Joe Bonamassa



Com "Time Clocks", Bonamassa atinge, até o momento, o ápice de sua carreira, mesclando rock e blues com personalidade

Joe Bonamassa é desses poucos artistas atuais que podem se dar ao luxo de dizer que praticamente todos os seus trabalhos estejam acima da média. Mesmo em seus momentos menos marcantes, Bonamassa sempre deixou transparecer um exímio bom gosto quando o assunto é blues e rock, reverenciando os cânones do passado, mas, olhando para o futuro. 

E, de todos os seus trabalhos solo, "Time Clocks" talvez seja o que mais apresenta um equilíbrio de elementos, fazendo com que cada composição do álbum tenha uma cara própria. As influências do guitarrista, cantor e compositor está lá, porém, é um trabalho com a alma do seu artista. 



Essa simbiose quase que perfeita começa na introdução de "Pilgrimage", com elementos indianos (lembrando, em parte, alguns dos momentos mais inspirados do Led Zeppelin), e parte pra um rockão dos bons com "Notches", onde ouvimos praticamente de tudo: um riff instigante, um solo lindo, e cuja base ainda permanece a mesma da introdução, dando um "charme" a mais à música. 

Em seguida, temos "The Heart That Never Waits", um blues como aqueles feitos nas antigas, mas, com vigor moderno, cujo som base pode parecer "simples", porém, quando menos se percebe, o ouvinte está imerso em toda aquela atmosfera. Inclusive, importante destacar que Bonamassa nunca cantou tão bem quanto aqui, deixando tudo ainda mais agradável de ouvir. 



A quarta faixa, "Time Clocks", é uma balada muito boa, que começa calma e serena e explode no refrão. Uma bela composição, mas, que, ainda assim, e por incrível que pareça, não está à altura das músicas anteriores, que, aos meus ouvidos, soaram melhor. Porém, não dá pra negar a qualidade do material. A questão é que as três primeiras composições são tão impactantes, que até uma balada bonita quanto esta não é "boa o suficiente" comparada ao que foi escutado até aqui. 

"Questions And Answers" chega dando uma revigorada na maestria desse disco, com uma mescla bem azeitada de blues, com alguns riffs zeppelianos bem encaixados, mas, com espaço para alguns sons distintos aqui e ali. Mais uma prova de que o bluesman dessa geração é Joe Bonamassa ou, pelo menos, um dos melhores). 

"Mind’s Eye", a próxima composição, pode ser considerada a segunda balada do disco. Ela tem um teor mais intimista que casou bem com a composição, onde a guitarra de Bonamassa está sublime. Em seguida, vem "Curtain Call", que escancara logo de cara uma influência zeppeliana muito latendo, mas, que não se prende a isso. Dessa forma, temos aqui mais uma típica composição de Bonamassa que pega elementos de terceiros, e que faz algo novo (e brilhante). 



As últimas três faixas reservam alguns dos melhores momentos da experiência em ouvir esse disco. "The Loyal Kind" é séria candidata a melhor faixa do álbum, ao lado de "Notches". Começa calma, serena, com uma sonoridade quase pop, para depois vir o refrão, com um baita riff, e alguns backing vocals que me fizeram lembrar algo do Black Crowes (outra banda que sabia reciclar bem todos os predicados zeppelianos). 

A penúltima faixa, "Hanging On A Loser", é outro deleite pra quem realmente tem apreço por blues e rock, e até um pouco de funk (funk das antigas, diga-se de passagem). O swing e o peso estão muito bem distribuídos nessa canção, sendo outro destaque de um disco (quase) impecável. "Time Clocks" se encerra com a ótima "Known Unknowns", um blues dos melhores.

Com esse álbum, Joe Bonamassa permanece no topo dos melhores guitarristas da atualidade, que não se limitam apenas a tocarem bem, mas, se preocupam em lançarem trabalhos com carisma e diversidade. Não apenas isso: busca novos caminhos pra estilos já bastante consolidados (pra alguns, saturados até), porém, sem esquecer das raízes desses mesmos estilos. 

Um trabalho, na falta de um termo melhor, de categoria.


 Nota: 9/10

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