DICA DE FILME ("Truman")

Dica de Filme


Título: Truman
Ano de lançamento: 2015
Direção: 
Cesc Gay



Mesmo abordando uma temática comum em dramas no cinema, "Truman" consegue se destacar pela naturalidade e sensibilidade como a história é conduzida

O cineasta espanhol Cesc Gay tem uma particularidade que o faz se diferenciar de vários realizadores presunçosos no cinema atual (que, de tanto querer falar de assuntos complexos de maneira complexa, acabam fazendo trabalhos vazios): ele possui sensibilidade suficiente para extrair reflexões profundas das situações (aparentemente) mais simples. 

Foi assim com "O Que os Homens Falam", onde o diretor questionava com humor e muita delicadeza as questões mais atuais envolvendo masculinidade. Com seu filme posterior, este "Truman", o tema passa a ser a morte (ou melhor: a proximidade iminente da morte). 

No entanto, sem apelar para dramas baratos ou para uma sordidez repulsiva, Cesc Gay aborda essa questão da maneira mais leve que consegue, usando isso para mostrar uma jornada de conhecimento e amadurecimento tanto de quem está morrendo, quanto de quem está ao lado dessa pessoa.




A trama aparentemente é simplória: Tomás viaja à Espanha para visitar seu amigo, Julián, que está com uma doença terminal. Juntos, viverão momentos onde estreitarão seus laços de amizade, servindo como uma despedida. Ao mesmo tempo, tentam encontrar um novo dono para Truman, o cachorro de Julián, que este teme que fique desamparado após sua morte. 

Em linhas gerais, parece ser uma história sem grandes desdobramentos e extremamente triste. Porém, a grande sacada do diretor e roteirista Cesc Gay é não ficar preso a fórmulas pré-estabelecidas. Ele  simplesmente conta uma história humana entre dois amigos, onde ambos aprenderão a lidar com a questão da morte e do luto, além de resolverem pendências pessoais.

Ou seja, se analisarmos friamente, realmente não há grandes desdobramentos na trama. O destino de um dos personagens já está praticamente selado. O outro, por sua vez, está aprendendo a lidar com o sentimento de perder alguém tão querido, ao mesmo tempo em que acompanha o amigo em sua jornada de aceitação e de melhora nos relacionamentos, seja com velhos amigos, seja com o filho 




O que engradece o filme são seus momentos naturalmente humanos, que possuem, em certos instantes até mesmo um ar bem humorado. E até aquelas cenas que sabemos, de antemão, que serão mais tristes, não são carregadas de pieguismo rasteiro, ou de qualquer outra apelação. A emoção dos momentos mais carregados, emocionalmente falando, são genuínas. 

Em praticamente nenhuma cena percebemos algum tipo de artificialidade nos acontecimentos. É tudo bem crível, e mesmo que seja uma história minimalista, com pessoas e acontecimentos bem simples, ainda temos o interesse de assistir até o final, e ver como tudo vai acabar. 

Isso prova que uma história, pra ser boa, não precisa necessariamente ser mirabolante ou ter mil e uma reviravoltas. As trivialidades e inevitabilidades da vida podem muito bem fornecer base para uma ótima narrativa, contanto que esta seja bem contada, sem precisar apelar para clichês melodramáticos. 




O diretor Cesc Gay continua a mostrar nesse filme que tem talento de sobra para conduzir uma trama simples, mas, interessante. Por sinal, ele dirige muito bem os diálogos que escreve, nunca se excedendo na verborragia dos personagens. 

Personagens, esses, muito bem interpretados, diga-se de passagem. Ricardo Darín, como sempre, mostra grande desenvoltura em tela. Ele não tem uma interpretação ruim, e aqui não é diferente. Javier Cámara não fica atrás, e seu jeito mais contido casa bem com aquelas situações. Dolores Fonzi também consegue imprimir muita autenticidade em tela, e acaba sendo um bom elo entre os protagonistas. 

"Truman" é mais um pequeno grande filme de Cesc Gay. Com sensibilidade e simplicidade, consegue refletir a respeito de momentos interessantes que a vida reserva a todos, sem exceção. Sejam esses momentos tristes ou alegres.  


Nota: 8,5/10

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