DICA DE FILME ("The Dead Center")

Dica de Filme

Título: The Dead Center
Ano de lançamento: 2018
Direção: Billy Senese

Mesmo sem surpreender, este terror independente mostra competência na condução de uma história inquietante 

Um dos gêneros que mais abarca possibilidades variadas dentro do cinema é, sem dúvida, o terror. É possível falar praticamente de qualquer assunto usando essa roupagem, e ainda dá pra misturar com outros gêneros e subgêneros. Só que para um terror ser minimamente bom é preciso que o realizador saiba o que está fazendo, e tenha o mínimo de traquejo pra fazer o básico. 

Billy Senese, que já havia mostrado criatividade no curioso "Closer to God", investiu aqui em um terror mais puro e simples, e, mesmo que o resultado não chegue a mudar paradigmas do gênero, nem surpreenda de maneira significativa, o filme se sai muito bem na proposta de investir em um horror mais psicológico (pelo menos, até seus minutos finais). 

A trama, de início, acompanha o cotidiano do Dr. Daniel Forrester no hospital psiquiátrico em que trabalha, ao mesmo tempo que precisa lidar com a presença de um recém-chegado paciente (Michael Clark), que possui atitudes estranhas que podem estar relacionadas a algo misterioso. Em paralelo, temos a busca do Dr. Edward Graham pelo o que aconteceu a Michael, já que este aparentemente estava morto algumas horas atrás. 

O grande mérito de "The Dead Center" é ter uma condução mais pé no chão do que o normal. Mesmo os elementos macabros (poderiam ser sobrenaturais?) da história são inseridos de maneira modesta, de uma forma bem natural, e que não agride a inteligência do espectador. O grande horror das situações sinistras que vão se sucedendo se dá mais pela sugestão. 

Ao mesmo tempo, a câmera de Senese é sempre bem posicionada para nos fazer ter a sensação de que "algo" de muito ruim está espreitando aquelas pessoas. A sequência do ataque à velhinha no hospital é um bom exemplo disso, onde sabemos que uma coisa terrível está prestes a acontecer, mas, não precisando exatamente onde e quando. 

As atuações estão muitos boas, em especial, a de Jeremy Childs, como o paciente perturbado por visões estranhas. Ele consegue passar a sensação de ameaça e vulnerabilidade apenas com um simples olhar. Já o ator e cineasta Shane Carruth, criador do igualmente interessante "Primer", compõe bem o seu Daniel Forrester, uma pessoa cheia de traumas antigos, e que irão reverberar na situação atual.

A produção só perde alguns pontos nos minutos finais, quando a situação se torna um pouco mais explícita. Ainda assim, é bem interessante o fato da câmera nunca revelar por completo a aparência daquela ameaça, o que deixa tudo um pouco mais agoniante e menos expositivo do que o normal em longas do gênero atualmente. 

Há de se destacar também a própria direção de Senese, precisa e segura na maior parte do tempo, construindo a trama com calma e nos fazendo entender, ponto a ponto, o que poderia estar acontecendo dentro daquele hospital (e mais precisamente, dentro da mente de Michael). 

"The Dead Center" não é um filmaço de terror irretocável, mas, cumpre bem o seu papel de contar uma história assustadora, com as pitadas do mistério sendo colocadas na medida certa a cada minuto que a trama avança. Uma grata surpresa de um realizador que merece mais atenção, e que ainda pode nos proporcionar experiências bem interessantes, curiosas e assustadoras como esta.  

Nota: 8/10