DICA DE FILME ("Meu Coração Só Irá Bater Se Você Pedir")

 Dica de Filme


Título: Meu Coração Só Irá Bater Se Você Pedir
Ano de lançamento: 2021
Direção: 
Jonathan Cuartas



O vampirismo como metáfora para a opressão das relações familiares

Certas criaturas permeiam a cultura pop já há bastante tempo, sendo exploradas das mais diversas maneiras, tanto em temáticas, quanto em abordagens das mais distintas. É o caso dos vampiros, que estão presentes em muitas expressões artísticas, incluindo, claro, o cinema. 

A temática do vampiro é tão rica e cheia de possibilidades que os realizados podem fazer qualquer tipo de gênero, do terror ao drama. Ganha bastante aquele realizador que conseguir fazer boas analogias entre o vampirismo e outras temáticas, fazendo uso de metáforas para explorar outros assuntos. 

É o caso deste "Meu Coração Só Irá Bater Se Você Pedir". 

O vampiro, como o conhecemos, está lá, com praticamente todas as suas características: a sede por sangue, a destruição pela luz do sol, etc. Mas, também se encontram nas entrelinhas coisas mais sutis, como solidão, controle familiar, invisibilidade social, e por aí vai. 




Interessante que mesmo que as estranhezas nas situações que se sucedem, uma após a outra, o filme consegue nos habituar aquele mundo, jogando o espectador naquele ambiente familiar tão complicado, formado pelos irmãos Thomas, Dwight e Jessie. 

Mesmo que o vampirismo esteja lá na personificação do personagem do Thomas, o que prevalece na história são as relações muito humanas entre todos ali, seja a inocência de um Thomas que não se relacionou com ninguém a não ser os irmãos, seja a forma metódica e controladora como Jessie conduz a vida de todos ali. 

No meu disso, está Dwight, que nutre muito carinho pelo irmão, mas que se sente completamente intimidado pela irmã, que o obriga a sempre buscar mais e mais vítimas para saciar a sede por sangue de Thomas, quase sempre com muita dificuldade e a contragosto. 

A grande semelhança entre os três é a solidão. A única relação extrafamiliar presente ali é entre Dwight e uma prostituta a quem começa a nutrir afeto, desejando fugir com ela e escapar da opressão familiar que o consome dia após dia. 




O filme é milimetricamente construído a partir de alguns interessantes detalhes, sejam eles técnicos ou no roteiro. Chama a atenção, por exemplo, o fato da tela ser 4:3 (mais quadrada) ou invés do tradicional (para os dias atuais) 16:9, ou widescreem. Esse formato parece quere dizer que, simbolicamente, aquele ambiente é uma prisão para todos os personagens, ou algo sufocante, angustiante. 

Além disso, o filme não precisa de diálogos expositivos para que entendamos o que está acontecendo. As ações dos personagens valem mais do que qualquer palavra, e nos diz tudo o que precisamos saber. Em uma cena, por exemplo, após ter que matar mais uma pessoa, Dwight vai para o karaokê que está na sala, e, catatônico, começa a cantar uma música com o seguinte refrão: "Sou controlado pelo seu amor".

Mais simbólico, impossível. 

Fora a analogia com as relações familiares, o filme também aborda, mesmo que de maneira mais sutil, a questão da exclusão social, já que, até aquele momento, a tática de Jessie era matar pessoas que são "invisíveis sociais", que, em tese, ninguém "sentiria falta". Portanto, acaba sendo também um bom comentário crítico presente em uma história, a princípio, de vampiro. 



Certamente, o filme ganha muito devido ao seu trio de atores principais. 

Ingrid Schram consegue passar toda a frieza e falta de escrúpulos de Jessie, que, para manter a família "unida", é capaz de tudo. Já, Patrick Fugit compõe um Dwight perturbado psicologicamente com toda aquele situação, sendo um dos personagens mais frágeis da história. Por fim, Owen Campbell faz um Thomas com a delicadeza e a inocência necessária de alguém que nunca conheceu o mundo de fato. 

Pra abrilhantar ainda mais o trabalho, a direção de Jonathan Cuartas é bem segura, não perdendo tempo com cenas desnecessárias, e contando o básico que precisa contar em menor de uma hora e meia. 

Abordando temas para além da questão do vampirismo em si, "Meu Coração Só Irá Bater Se Você Pedir" é, acima de tudo, um drama familiar, que fala sobre controle, solidão, entre outros temas até um tanto pesados. Mas, que, se olhando bem, casam à perfeição com a mítica do vampiro. 

Ter mais essa reinvenção de uma mitologia já bem explorada por aí é sempre uma grata surpresa. 


Nota: 9/10


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