DICA DE FILME ("Dança com Lobos")

 Dica de Filme


Título: Dança com Lobos
Ano de lançamento: 1990
Direção: Kevin Costner



A busca do ser humano por seu verdadeiro "eu" 

O contato com a natureza e as descobertas mais íntimas que pode haver nessa relação, ora harmoniosa, ora conflituosa, já foram muito bem exploradas em produções como "Na Natureza Selvagem", por exemplo. Em "Dança com Lobos", grande sucesso do início dos anos 90, no entanto, temos algo a mais nessa equação: um país que está se formando (no caso, os EUA) à custa de uma colonização predatória e da caça e extermínio dos povos originários daquela nação. 

Nesse ambiente de incertezas e conflitos, conhecemos o tenente John Dunbar, condecorado por seus esforços em batalha contra os conferederados, e que é designado para cuidar de um forte, enquanto o exército faz suas incursões. A partir disso, Dunbar vai enfrentar tanto o ambiente externo, quanto os seus próprios sentimentos, onde a solidão e a sensação de inadequação serão questionados por ele, mesmo quando conhece e se relaciona de uma maneira cada vez mais profunda com os povos originários que ali habitam. 




Primeiramente, cabe destacar o grande domínio cênico de Costner na condução de cada sequência deste épico de quase quatro horas de duração. É daqueles filmes longos que não soam maçantes, e mesmo que aparentemente não esteja acontecendo "nada" na tela, a força das imagens são envolventes o suficiente para prender a atenção do espectador nessa verdadeira jornada em busca de identidade. Sim, porque "Dança com Lobos" também é uma história de autodescoberta.

Dunbar, mesmo passando anos no exército, não parece ter grandes predileções nesses meio, Tanto que aceita se fixar em um forte abandonado, sozinho, onde muito mal recebe a visita de um lobo de vez em quando. Sua relação com a natureza ao redor vai se tornando mais orgânica, mais simbiótica, especialmente depois que faz contato com os indígenas da região, e, aos poucos, não só aprende seus costumes e crenças, como se insere completamente naquela aldeia. 

Um ponto a se levar em consideração é o roteiro, que evita estereótipos ou maniqueísmos baratos. Da mesma forma que temos brancos (especialmente do exército) cometendo barbaridades, o mesmo pode ser dito a certas tribos de povos originários, às vezes, tão brutais quanto. Porém, quando se trata de colocar mais ainda o dedo da ferida de um EUA que estava apenas nascendo ali, o filme não se furta em mostrar a perversidade do povo branco, seja contra aquele meio ambiente, seja contra os indígenas. Sob certo aspecto, chegam a ser corajosas certas críticas presentes aqui. 




O roteiro de "Dança com Lobos", portanto, é riquíssimo, não se limitando a subverter certos aspectos dos velhos faroestes ao retratar os indígenas de maneira mais humana e respeitosa, como também é uma crítica ao colonialismo que fundou muitas nações da América atual, além de ser uma história mais intimista sobre o rito de passagem de um homem que busca seu espaço no mundo. Dessa forma, o enredo do filme pode ser visto por diversos primas, e todos bastante válidos. 

Sem contar ainda que, tecnicamente falando, a produção é primorosa, em especial, a fotografia, onde as paisagens são praticamente personagens à parte na história. As cenas de batalha são muito bem conduzidas, causando a tensão necessária que esse tipo de sequência precisa passar. E, ainda temos atuações excelentes de todo elenco, a começar pelo próprio Kevin Costner, que, além de ter uma mão segura para a direção, faz um John  Dunbar bastante cativante. 




Mesmo que sob certo aspecto o filme possa soar como uma espécie de "reconciliação branca" pelas barbaridades cometidas no passado (e, por que não?, no presente), "Dança com Lobos" mostra a cultura dos povos originários de maneira crível e muito respeitosa, e condena as atrocidades cometidas a eles. Não à toa, já próximo do final, a produção reserva uma pequena catarse, que é como se fosse uma vingança pelo passado sangrento da formação dos EUA. 

Um filme complexo e profundo, que, além de ser emocionante ao reforçar valores como ética e honra, ainda retrata povos originários de uma maneira correta, sem estigmas ou preconceitos. Some-se a isso personagens fantásticos, uns numa jornada por sobrevivência, e outros, traçando um caminho mais interior, de (re)descobertas. Em suma, um verdadeiro clássico do cinema. 



Nota: 10/10


Comentários