Debate Sócio-Político

OS LEGADOS DA COPA


Hoje, começa a tão alardeada Copa do Mundo no Brasil. E, como todo evento desse porte, e pelo o que ele está sendo usado (mais como plataforma política do que para a diversão passageira do povo), há mais desinformação do que informação. Tudo começou cm o anúncio do evento, em 2007, ainda durante o governo Lula:


A festa,aparentemente, estava garantida. Afinal, somo o país do Carnaval, e sediar uma Copa do Mundo seria um privilégio. Seria! Pois, o tempo passou, e os problemas não tardaram a aparecer. Primeiro, vamos aos gastos. A previsão inicial, que antes era de cerca de R$ 5 bilhões já ultrapassa os R$ 30 bilhões, e especula-se que seja ainda maior após o término do evento. Alguns até afirmam que parte desses gastos foram da iniciativa privado, e não da pública. O que se esquecem é que esse foi o discurso de 2007, onde se prometeu que 70% do dinheiro destinado para a Copa seria privado, tendo financiamento público somente as obras de mobilidade urbana.

À revelia das leis de controle fiscal para atender melhor o "padrão FIFA", e não atrasar as obras, o que foi prometido está longe da realidade. O Tribunal de Contas da União publicou um estudo sobre o investimento de bilhões para organização do Mundial no Brasil e demonstra que a Copa 2014 está tendo 98,5% de verbas públicas. Isso mesmo, quase a totalidade! Pouco se diz que a FIFA, mesmo se tratando de uma entidade sem fins lucrativos, terá um faturamento de R$ 9,7 bilhões, ao passo que na África do Sul o faturamento foi de R$ 7 bilhões e na Alemanha de 4,4 bilhões. Tudo com dinheiro público, e com isenção fiscal do governo brasileiro. E, mesmo assim, ocorreram inúmeros atrasos, principalmente em obras realmente importantes, como os de mobilidade urbana:


Diante disso, a própria FIFA, o que é lógico, isenta-se de qualquer responsabilidade:


Por sinal, cabe aqui discutir a respeito da FIFA, a federação internacional de futebol, e que está por trás de tudo isso. O jornal New York Times, recentemente, publicou um breve resumo da entidade:

"Com a mão de ferro de Sepp Blatter, a FIFA há muito tempo se meteu em escândalos rotativos que é difícil imaginar um momento que não esteja imersa numa crise de relações públicas atrás da outra. Em 1998, Blatter sucedeu seu mentor, João Havelange, ele também contaminado por escândalos. Sob a liderança de Blatter, funcionários da FIFA foram acusados de má administração financeira, aceitar propina e instituir um nível de sexismo e homofobia que parece vir de outro século."

Com 110 anos de existência, ela, mais do que nunca, vem sendo cercada de escândalos e desmandos. Exemplo mais novo foi a escolha do Catar como país sede da Copa de 2022. A votação que levou a isso está cercada de dúvidas. O Comitê de Ética da FIFA tem feito uma investigação que será concluída em setembro ou outubro. Segundo o site euronews, cinco milhões de dólares terão sido pagos, em subornos, por Mohamed Bin Hammam, presidente da Confederação Asiática de Futebol e membro executivo da FIFA, para garantir que a organização do Mundial 2022 fosse entregue ao Qatar.

Mas, esse não foi o único caso. Em 20 de abril do ano passado, foi divulgado um relatório das investigações feitas sobre os escândalos de corrupção. O documento confirma que João Havelange teria recebido milhões de dólares entre 1992 e 2000 da ISL, empresa de marketing ligada à entidade, em propinas relacionados a venda de direito de transmissões da Copa do Mundo. Segue vídeo que fala da renúncia de Havelange após o ocorrido:


E, é essa a entidade, a organização que está comandando esta Copa do Mundo, e que nos faz desconfiar que ainda houveram mais desmandos na realização do Mundial agora. Só que os problemas internos do Brasil por causa desse evento não param apenas nos gastos e nos casos de corrupção. Até agora, 10 operários já morreram devido à falta de segurança nas obras. O número é cinco vezes maior do que o registrado no período que antecedeu o torneio de 2010, realizado na África do Sul. O primeiro óbito nas construções dos estádios para a Copa foi registrada em junho de 2012, quando José Afonso de Oliveira Rodrigues, de 21 anos, despencou de altura de 30 metros no estádio Mané Garrincha. O maior número de mortes, quatro, ocorreu na Arena da Amazônia, em Manaus.

Temos que discorrer também a respeito de um dado absurdo: mais de 200 mil pessoas perderam suas casas em virtude dessas obras. Só em Pernambuco, foram mais de 12 mil pessoas desapropriadas. 

Mas, na prática, é o legado deixado pela Copa em outros países? Então, vamos aos fatos. 

Segundo artigo publicado no UOL, o turismo na Coréia do Sul quase não foi afetado pelo incrível investimento em infraestrutura. O número de visitantes foi exatamente o mesmo nas temporadas de verão de 2001 e de 2002: aproximadamente 460 mil pessoas. Na Alemanha, observou-se um impacto econômico imediato e igualmente incongruente após o país sediar a Copa do Mundo de 2006. Em relação aos estádios em si, a Coréia  gastou cerca de US$ 2 bilhões para construir dez novos estádios, e Japão precisou construir sete novos estádios e reformar outros três, ao custo de US$ 4,5 bilhões. Hoje, eles são chamados de “elefantes brancos”. A construção do maior estádio do Japão, com 64 mil lugares, custou US$ 667 milhões. Depois da Copa, a cidade pagou US$ 6 milhões por ano para manter as instalações para um time local que mal atrai 20 mil torcedores.

Por fim, claro, há a famigerada criminalização aos protestos contra a realização da Copa do Mundo, sob prerrogativas político-partidárias. Os "pessimistas" são covardemente ridicularizados nas redes sociais, e os que estão nas ruas, correm o rico de serem duramente rechaçados pelo Exército e demais polícias. Mesmo as manifestações dentro do todos trâmites legais parecem estar sendo sumariamente proibidas.

Em suma, a questão relacionada à Copa do Mundo no Brasil poderia ser direcionada unicamente ao lado divertido do evento, mas com um entretenimento caro desses, fica difícil aplaudir algo calcado em tantas mentiras, falácias, corrupções e violências.

Esses são, pois, os legados deixados (com ou sem vitória da Seleção Brasileira).


Erick Silva

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