Dica de Filme


Taxi Driver
1976
Direção: Martin Scorsese


A solidão. Ato de olhar para si. Não ter ninguém. Refletir sua condição. Preencher o vazio com coisas mundanas. Quanto mais caminha, mais dúvidas vão aparecendo. O desespero em querer fazer algo, em poder SER algo. Até que... tudo explode da pior forma possível.

Pode parecer confuso, mas essa é a mente de alguém. Mais precisamente de Travis Bickle, um renegado, um pária, alguém simplesmente que está à margem da sociedade. Além de ser anti-social, ele nutre um profundo ódio pelo o que aí está.



O fato dele ter servido durante a Guerra no Vietnã contribui para o seu estado de espírito. E, agora, como taxista a perambular pelas ruas de Nova Iorque, seu desconforto só aumenta.

Nada parece lhe agradar. De seus amigos de profissão até uma jovem (que é cabo eleitoral de um conhecido candidato a Senador), nenhuma pessoa lhe interessa verdadeiramente. Isso até conhecer a Iris, uma garota de programa das proximidades. Travis sente uma profunda afinidade com ela, e passa a querer ser o seu "tutor".

É na relação entre Travis e Iris que vem a explosão. Violenta, com uma forte carga de justiça, e impressionantemente brutal.


O diretor Martin Scorsese faz aqui aquele que pode ser considerado o seu melhor trabalho. Mesmo construindo aos poucos a personalidade do protagonista, ele não perde a mão. Vai mostrando, pontualmente, cada fato que fará Travis afundar mais e mais em seu próprio íntimo.

Muito dessa atmosfera densa que permeia o filme se deve ao período em que ele foi feito. Na década de 70, os EUA ainda estavam arrasados pela vergonha ocorrida no Vietnã, e a sociedade, como um todo, estava imensa numa espécie de pessimismo.


O personagem Travis é a representação generalizada desse sentimento de desesperança e dessa busca por alguma redenção. E, é o tipo de papel que caiu como uma luva para o (ainda) jovem Robert De Niro. Sua interpretação é soberba. Consegue passar piedade e carisma de alguém tão arisco e sombrio.

Bom destacar que as outras atuações estão ótimas. Desde a estreante Jodie Foster até o sempre competente Harvey Keitel, todos desempenham um trabalho muito bom. A trilha sonora de Bernard Herrmann combina perfeitamente com o clima da produção, produzindo um jazz com muita melancolia e tristeza.


Os trinta minutos finais do filme são um caso à parte. De tão violenta (para a época), essa sequência teve que sofrer modificações técnicas na película original para que, por exemplo, a coloração do sangue não ficasse tão forte na tela. O resultado deixou as imagens com um tom meio "alaranjado" nessa parte; o que não diminui em nada sua tensão, diga-se.

E, assim como seu personagem principal, "Taxi Driver" foi, de certa forma, um filme renegado. Mesmo com o sucesso que fez, não ganhou nenhum dos vários Oscars que concorreu, mas, em contrapartida, arrebatou a Palma de Ouro em Cannes. O tempo, tranquilamente, tratou de colocá-lo como um clássico absoluto da sétima arte.


Analisando de forma contundente a questão da solidão humana, "Taxi Driver" aborda assuntos que dialogam conosco até hoje. Um filme verdadeiramente forte e bem elaborado, de um tempo onde Hollywood ainda fazia produções mais ousadas e instigantes.


NOTA: 10/10

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