Dica de Filme

A Pele de Vênus
2013
Direção: Roman Polanski



Fazer cinema minimalista não é tão fácil quanto parece. É preciso que tudo esteja no lugar certo, na hora certa. É cinema de detalhes, de minúcias, de sutilezas. O cenário tem que ser quase um personagem à parte. As atuações, competentes, no mínimo. Um roteiro que explore mais do que a superfície mostre. E, uma direção precisa completam o pacote. "A Pela de Vênus" tem tudo isso.

Tendo feito um filme com características semelhantes dois anos antes ("Deus da Carnificina"), o diretor Polanski resolveu fazer algo mais declaradamente teatral. E, o resultado ficou, em muitos aspectos, melhor. A princípio, o enredo é simples: fala dos esforços de Vanda em convencer o diretor de teatro Thomas a interpretar um importante papel em sua nova peça, baseada na obra de Sacher Masoch, "Vênus em Fúria".




Apresentando-se com todos os estereótipos possíveis de jovem bonita, mas pouco inteligente, Vanda faz com que Thomas expresse muito de seu preconceito contra as mulheres. Inclusive, na sua adaptação a figura feminina é bastante humilhada e submissa aos homens. Porém, as observações que a atriz vai fazendo ao diretor vão mudando, gradativamente de tom, num impressionante jogo que se inverte.

Ao contrário de "Deus da Carnificina", que tinha uma mensagem mais clara a passar (a inabilidade em conviver com o "outro", gerando toda a sorte de violência), "A Pele de Vênus" dialoga como tema do poder, mais especificamente com o poder que os homens têm sobre as mulheres (ou, pelo menos, pensam que têm). A reflexão a respeito da submissão, e como ela oprime é feita de forma bastante contundente e esperta pelo filme, que provoca os clichês o tempo todo.



E, tudo converge para a produção conseguir um resultado fascinante. Depois de "O Pianista", Polanski não vem errando a mão em nenhum filme. Aqui, não seria diferente. Já, a dupla de atores principais (Emmanuelle Seigner e Mathieu Amalric) entregam personagens muito bem construídos, com o nível de ironia perfeito para tecerem uma dura crítica ao patriarcado, e, por tabela, a toda forma de opressão por quem tem muito poder.



O final do filme, simbólico, é um bem-vindo conselho à liberdade, ridicularizando de forma convincente toda e qualquer forma de abuso e sujeição. Com todos esses atributos, trata-se, pois, de mais um grande filme da safra recente de Polanski, um dos que pertencem à velha guarda, e que é sempre confiável em entregar algo com substância e personalidade.


NOTA: 8/10

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