Dica de Documentário

Cobain - Montage of Heck
2014
Direção: Brett Morgen


Aviso: esta resenha foi escrita por um fã inveterado do Nirvana e da pessoa de Kurt Cobain. Por isso, não estranhem se aqui ou acolá aparecerem alguns adjetivos um tanto exagerados. Ossos do ofício. Contudo, tentarei ser o mais imparcial possível para que vocês tenham noção da qualidade deste documentário. Só que, de cara, tenho que admitir: que tremendo filme conseguiram fazer!

O que, de fato, temos aqui é um apanhado nada óbvio de um dos grandes expoentes da música nas últimas décadas (perdão pela constatação, Kurt. Sei que você não aprovaria!). Seria muito fácil explorarem o já tão explorado suicídio dele como "mais uma atitude insana de um roqueiro viciado em drogas". Não, a questão apresentada aqui vai mais fundo, e tenta buscar as origens de tudo o que se passou na vida do artista.



Para tanto, são mostradas imagens dele ainda bebê. Com o passar dos anos, o documentário vai expondo, claramente, que ele era uma criança hiperativa, ao mesmo tempo que carente. Ter pais ausentes (e até de uma certa forma, ignorantes) só contribuiu para Kurt ficar cada vez mais "rebelde". Uma rebeldia até justificável, já que fica nítido que ele passou a ser rejeitado por toda a família, sem exceção! Evidentemente, que isso cobraria o seu preço mais tarde.

O bom desse filme é que ele preenche "lacunas" de forma esperta. Seria muito pedante ele só mostrar depoimentos de familiares e amigos de Kurt, mesclados com imagens de "arquivos pessoais". Portanto, para driblar isso, foram produzidos espécies de "clipes" com as músicas do Nirvana, cada um representando um estágio diferente na vida dele, além de animações que ilustram bem sua trajetória, e dão uma bela arejada na narrativa.




Um dos pontos altos é quando o Nirvana "estoura" depois do arrasa-quarteirão "Nevermind". Nesse momento, a mãe de Kurt fala que chorou de tristeza e medo após ouvir uma demo desse disco, pois ela viu, nitidamente, que o filho estava com problemas e não aguentaria a pressão. E, realmente, Cobain passa a mostrar um imenso tédio e descomunal desconforto durante entrevistas, shows, etc. Ser "porta-voz" de uma geração era demais para a mente dele.

Começa, então, um período bem autodestrutivo em sua vida. O proposital "péssimo" show que ele fez no Hollywood Rock, no Brasil, demostra isso. A banda também meio que embarcou nessa sabotagem contra si mesmos, e, ao invés de lançarem um "novo Nevermind", colocam no mercado um disco de extras e demos da época em que eram mais punks e crus. Por sinal, mercado e mídia que Kurt odiava, e teria razões suficientes pra isso.



Depois de conhecer Courtney Love, e ter uma filha com ela, a imprensa não perdoou. Eram normais manchetes do tipo "Filha de Cobain já nasce drogada", entre outras coisas do tipo. A abstinência dele por heroína, com isso, só fez piorar. Em paralelo, todos esperavam o novo álbum do Nirvana, preferencialmente tão pop e radiofônico quanto "Nevermind". O tapa na cara veio com "In Utero", melhor e mais sujo disco da banda.

E, tudo isso é contado no documentário sem pressa, pontuando as informações que são necessárias, e, melhor: não julgando Kurt em nenhum momento. Mostrá-lo brincando tão apaixonadamente com a filha, ao passo que ele se acabava física e mentalmente por conta de uma fama que ele não soube administrar, expõem um artista humano, cheio de virtudes e defeitos, mas, primordialmente, humano. E, muito honesto, franco e inocente.


"Cobain - Montage of Heck" termina da maneira mais sóbria e respeitosa possível: apenas com a informação de que Kurt cometeu suicídio aos 27 anos de idade. Ponto. Terminado. Sem nenhuma exploração desse fato, sem nenhuma sensacionalismo. Isso porque o objetivo pareceu ser trazer o artista mais pra perto de nós, fora da "aura mítica" de grande astro do rock. Apenas, uma pessoa extremamente triste e angustiada com uma sociedade, esta sim, doente. Obrigado, Kurt!


Nota: 9/10

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