Dica de Filme

O Rei dos Porcos
2011
Direção: Sang-ho Yeon


O bullying é uma prática odiosa, covardia em estado puro. Mas, estranhamente, sempre consegue gerar bons filmes. Só que, paralelo a isso, são, geralmente, produções pesadas, onde o espectador tem que ter um certo estômago para aguentar ver todo tipo de humilhações a que uma pessoa é sujeita na mão de grupos. Mas, também, frequentemente, expõe com muita nitidez a sordidez humana, que sempre está em busca de poder, mesmo que precise subjugar o outro, e a reação dos oprimidos, às vezes, com bastante violência.

O anime "O Rei dos Porcos" vai um pouco além, não tendo apenas o bullying como seu tema central. Claro que isso é o mote das melhores cenas da animação, mas, o roteiro, escrito em clima de suspense e, não raro, com muito terror, explora outros assuntos, como o consumismo, a necessidade de se pertencer a um grupo, os conflitos familiares, o conceito que essa sociedade tem de sucesso, entre outras coisas.




Obviamente, o aprofundamento disso nos poucos mais de 90 minutos do desenho não chega a tanto, mas, mesmo assim, a produção aborda todas essas questões de maneira interessante, e até um tanto pesada. Logo no início, a imagem de uma mulher morta, aparentemente estrangulada, e um rapaz no chuveiro, aos prantos. Corta para uma cena em que o rapaz está passando por dificuldades no emprego. Desolado, sai para beber, e encontra um amigo de infância, que vai reviver momentos trágicos e obscuros da vida dos dois, quando eram molestados na escola.

A partir daí, temos um vai-e-vem no tempo, ora mostrando os dois pré-adolescentes, ora, eles conversando nos dias de hoje, relembrando fatos marcantes em suas vidas. E, realmente, são fatos sem nenhum pingo de alegria. Mesmo quando passam a serem salvos por outro aluno do colégio, o período em que sofriam bullying de outros meninos não era fácil. Espancamentos e torturas psicológicas eram constantes.




É quando o amigo misterioso deles vai se delineando quem é, que o anime ganha um tom mais sombrio, de insanidade. Pra ele, só podemos parar de sermos oprimidos se superarmos nossos algozes. Pra isso, precisamos encontrar a verdadeira maldade. Nesse momento, no entanto, o desenho peca por uma cena desnecessária, envolvendo um gato. É até entendível o que quiseram passar com isso, mas, poderia ter sido mostrado de outro modo, menos apelativo.

Tirando apenas essa sequência, "O Rei dos Porcos" consegue passar seu intento de dialogar sobre sérias perturbações humanas, além de nossas falsas necessidades atuais. É notório que um dos garotos que sofre bullying sempre queira parecer que vem de família rica, mas, sempre é humilhado por isso. É quase como uma luta de classes dentro do colégio, mas que resulta sempre na vitória dos mais ricos e dos mais velhos.




O próprio desarranjo familiar contribui para isso, já que o pai de um dos meninos é dono de um bordel, e que vive maltratando suas empregadas, e a mãe de outro é garota de programa desse mesmo bordel. A revolta dos garotos é latente, crescendo cada vez mais, a ponto de explodir a qualquer momento. Levando-se em consideração que vemos, hoje em dia, mais e mais tragédias, protagonizadas por jovens negligenciados, a arte imita, tristemente, a vida.

Mesmo com algumas falhas de andamento, que, às vezes, "trava" a estória, "O Rei dos Porcos" é uma produção muito coerente com o que vivemos nesses dias, e se torna até necessário assistí-lo, tanto quanto "A Classe" e "Precisamos Falar Sobre Kevin". Afinal, o modo como estamos tratando os nossos jovens, merece e precisa de críticas urgentes.


Nota: 7,5/10

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