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Nevermind: Há 25 Anos, o Nirvana Entrava para a História
Por Erick Silva


A reinvenção é uma necessidade. No caso da indústria fonográfica, de tempos em tempos, algo de verdadeiramente novo, ou simplesmente de grande energia criativa, surge para tirar um pouco a letargia de artistas tão comuns, banais, triviais. Dito isto, voltemos no tempo, mas, precisamente, no início da década de 90 passada. O que tínhamos na música norte-americana, em geral? Michael Jackson e Witney Huston nas suas fases mais bregas. No rock, a coisa não era diferente. Com raríssimas exceções (como o Guns'n Roses), o que predominava era o chamado "metal farofa", que não perdia em nada em termos de breguice para os outros artistas citados. Tudo muito padronizado e chato, portanto.

Mas, numa cidadezinha de Washington, Seattle, uma "estranha" movimentação acontecia. Várias bandas, cada uma com um estilo próprio de fazer rock, mas, quase todas com um espírito bastante garageiro, fazendo um som totalmente underground, começavam a surgir. Nascia aí, meio que sem querer, o movimento grunge. Dentre essas bandas, estava o Nirvana, que já havia lançado seu ótimo debut em 1989, "Bleach", pela gravadora independente Sub Pop. Mesmo após a boa receptividade do disco, Kurt Cobain (o vocalista e guitarrista) e Krist Novoselic (o baixista) estavam insatisfeitos com o baterista Chad Channing, o que fez com que procurassem outra pessoa pra empunhar as baquetas do Nirvana. Eis que entra Dave Grohl, e, como Novoselic mesmo disse à época, "agora, tudo ficou no lugar".



Nesse meio tempo, Cobain já estava compondo para o próximo disco da banda, e escutando muito The Melvins, R.E.M., The Smithereens e Pixies, e tais influências foram determinantes para a concepção de "Nevermind": algo mais pop, mas, sem perder a crueza de outrora, nem a identidade que característica do grupo, repleta de guitarras distorcidas, letras confessionais, sem abdicar da melodia. E, bastou o disco ser lançado para o estrondo acontecer, surpreendendo a todos, inclusive a banda (para o bem e para o mal). Lembrando que a gravadora, a Geffen Records, esperava que "Nevermind" só vendesse em torno de 250.000 cópias, que foi a quantia alcaçda por "Goo", álbum de estreia do Sonic Youth pela Geffen. 

Estreando na parada da Billboard na posição 144, o segundo disco do Nirvana foi crescendo em vendagens, chegando a adquirir certificado de disco de ouro e de platina em pouquíssimo tempo. O auge aconteceu em Janeiro de 1992, quando "Nevermind" atingiu o 1° lugar da Billboard, desbancando ninguém menos que o todo-poderoso do pop Michael Jackson. A essa altura, o álbum já vendia cerca de 300 mil cópias por semana, principalmente com o sucesso do carro-chefe "Smells Like Teen Spirit", que se transformou num hino da geração grunge, e uma das mais importante músicas do mundo pop até hoje.


Mesmo com tanto sucesso, algum coisa não ia bem, e o nome disso era Kurt Cobain. Chocado com a ascensão da banda em tão pouco tempo, o líder do Nirvana não se sentia bem com o estrelato, e isso foi cobrando, cada vez mais, o seu preço. Tanto é que o próximo disco da banda pós-Nevermind foi um lançamento de sobras de estúdio, covers e afins, "Incesticide", que mostrava um Nirvana bem mais cru. E, algum tempo depois, veio mais um disco de inéditas, "In Utero", que pouco ou nada lembrava o frescor pop de "Nevermind". Mesmo assim, o grupo continuou a fazer sucesso até o fim da vida de Cobain, que cometeu suicídio em 5 de Abril de 1994, apenas dois anos e meio após o lançamento de "Nevermind".

O álbum com o bebê sendo pescado com uma nota de 1 dólar continua sendo ´bastante influente até os tempos atuais, O seu som despojado, mas, bem trabalhado, num limiar entre o underground e o pop, possibilitou ótimas bandas do meio alternativo serem conhecidas posteriormente, como Queens of the Stone Age e White Stripes. Só que, além da influência estética, o principal de "Nevermind" foi mostrar que o mainstream tem condições de vender música boa, ao passo que os artistas não precisam perder sua identidade para ficarem mais palatáveis ao público. Amalgamando o melhor de cada mundo, o Nirvana construiu um disco de rock no patamar de importância de um "Nevermind the Bollocks" (Sex Pistols) ou de um "Revolver" (Beatles).






Ainda hoje, a indústria fonográfica procura pelo seu "novo Nirvana". Busca inútil, pois, grupos assim, e que lançam petardos ao nível de "Nevermind", não aparacem como se fossem fabricados numa "linha de produção". Não estamos falando desse pop descartável (que, inclusive, mesmo que por porco tempo, foi desbancado pelo segundo registro do Nirvana), e sim de um autêntico e genuíno espírito de furor artístico. 

Como já disse o grande Neil Young:

"Rock'n roll can't never die"!

Nota de "Nevermind": 10/10

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