Lista Especial
Final de Ano


O ano de 2016 foi, sem dúvida, um pouco difícil em termos de cinema. Houve muita coisa boa, é verdade, mas, em contrapartida, também teve muita produção (muita, mesmo) incensada como algo extraordinário, porém, que não passou de fogo de palha. E, teve para todos os "gostos": blockbusters de super-heróis, filmes religiosos, longas pseudo-cults brasileiros, etc, etc, etc... Ecletismo, teve, mas, qualidade, nem tanto. Esta lista é um tanto polêmica, visto que muitos dos filmes daqui suscitaram paixões acaloradas entre cinéfilos por aí. Mas, é preciso entender que listas são subjetivas do gosto de quem a escreve, e nem se pretendem a ser a verdade absoluta. Portanto, fiquem à vontade para concordar ou, principalmente, discordar do que estiver aqui. O importante é ir contra a maré de opiniões prontas ou clichês. 

Então, vamos aos "vencedores" de 2016.


14°
"Martyrs"
Uma refilmagem é sempre bem-vinda caso acrescente algo ao original. Mas, quando, além de não adicionar nada, ainda piora o que foi feito antes, a coisa complica. Em 2008, pra quem viu a chocante produção francesa "Martyrs", viu até aonde filmes como "O Albergue" poderiam chegar se não estivessem tão preocupados com a sanguinolência desenfreada. Mas, então, Hollywood, como quase sempre, vem e estraga tudo o que foi feito. O remake de "Martyrs" é só apelativo no quesito "sangue", mas, covarde na condução e resolução da trama. Um total desperdício. Para os admiradores bem menos exigentes do "torture porn", no entanto, pode até ser algo passável de assistir.


13°
"Cafe Society"
Sim, meus caros, o queridinhos de muitos cinéfilos, Woody Allen, conseguiu fazer um filme ruim em sua atual fase, que vinha colhendo ótimos frutos, desde "Match Point". Mas, com "Cafe Society" não teve jeito. O cineasta usa e abusa de todos os seus clichês possíveis e imagináveis, do depressivo metido a intelectual à ninfeta pela qual ele se apaixona. Some-se a isso atuações pífias de todo o elenco, e uma história chata e sem, praticamente, nenhum atrativo. Nem os fãs ardorosos de Allen devem ter gostado do resultado. O negócio é esperar pra ver se ele se reinventa numa próxima chance.


12°
"Sala Verde"
Vez ou outra, sempre aparece aquele tipo de filme que quer ter "estilo", mas, que acaba indo pra canto nenhum. Se, em anos anteriores, tivemos um "Drive", que emulou muito bem o cinema louco de Tarantino, esse ano, tivemos este "Sala Verde", uma produção totalmente dispensável. A trama absurda e cheia de furos é só um pretexto para cenas gratuitamente violentas. Além disso, os personagens são irritantemente burros e caricatos, fazendo com que não nos importemos nem um pouco com eles. Nem o veterano Patrick Stewart se salva, fazendo mais caras e bocas, do que atuando de verdade. Enfim, uma grande bobagem.


11°
"Big Jato"
De fato, esse não foi um bom ano para Cláudio Assis. Além de ter se metido numa polêmica desnecessária, aonde expôs seu machismo de maneira bem tosca, ainda colocou nos cinemas, simplesmente, o seu pior filme. Mesmo sendo menos apelativo do que suas produções anteriores, "Big Jato" é o típico cinema tupininquim pedante, que quer ser cult a todo custo, cheio de uma pretensiosa "poesia", mas, vazio como um todo. Não ajudou muito o fato de ser baseado na obra de Xico Sá, outro pretenso "poeta das palavras". As únicas coisas que se salvam é a atuação de Matheus Nachtergaele e a bonita fotografia. Muito pouco.


10°
"Águas Rasas"
"Águas Rasas" tinha tudo para ser um filmão de sobrevivência no sub-gênero animais assassinos. E, realmente, ele se desenrola muito bem durante pouco mais de uma hora. A aflição e a angústia da protagonista ficam visíveis a cada instante em que ela se vê encurralada por um tubarão branco que a cerca por horas e horas a fio. Mas, subitamente, perto do final, o filme muda de tom, e tem um desfecho tão ridiculamente absurdo, que coloca por terra tudo de bom que havia sido feito até então. É como se o clima de "Tubarão" tivesse mudado para o escracho de "Sharknado". Só por isso, "Águas Rasas" merece estar por aqui.



"Boi Neon"
O cinema brasileiro em 2016 realmente esteve cheio de produções que começam do nada e chegam a lugar nenhum, mas, que parece que disseram muito. A princípio, a história de "Boi Neon" parecia ser interessante, mostrando o conflito de um aboiador que trabalha em vaquejadas com a sua paixão pelo mundo da moda. Mas, o que vemos, na verdade, são imagens desconexas, repletas de metáforas sem propósito, e culminando com uma cena de sexo longa, explícita e desnecessária à trama. Uma história que poderia, muito bem, ser contada em um curta-metragem de uns 5 minutos, mas, que aqui se estende e se alonga até o completo vazio.



"Jovens, Loucos e Mais Rebeldes"
Alguns filmes passam uma sensação, digamos, "inacreditável", não pela sua ruindade em si, mas, por terem sido feitos por certos cineastas. Richard Linklater, pra quem não se lembra, foi o mesmo dos cativantes "Antes do Pôr-do-Sol" e "Boyhood". O "inacreditável" é que alguém que fez produções tão interessantemente humanas, tenha se prestado a fazer algo como "Jovens, Loucos e Mais Rebeldes", simplesmente, um "Porky's" que quer ser intelectual. No entanto, enquanto o besteirol dos anos 80 ainda tinha certo carisma, este filme de Linklater é tremendamente irritante, com personagens bastante estereotipados, e muito, mas, muito machismo, mesmo. Pois, é. "Inacreditável".



"Aquarius"
2016 foi marcado por ser um ano de muita polarização ideológica, do tipo "preto no branco", sem o contraditório. Quando a equipe de "Aquarius" protestou em Cannes, o palco já estava formado para as opiniões: quem era contra o golpe parlamentar que destituiu Dilma tinha a "obrigação" de gostar do filme de Kléber Mendonça, e quem era a favor do impeachment da ex-presidente, tinha o "dever moral" de odiá-lo. Deu certo. Em geral, as opiniões a respeito de "Aquarius" vinham mais carregada de paixão ideológica do que pela "qualidade" cinematográfica do mesmo. E, o que temos, honestamente, é um filme fraco, com uma história mal contada, atuações ruins, direção capenga e cenas realmente constrangedoras (no pior sentido).


"Os 8 Odiados"
Tarantino entre os piores do ano? Sim, é verdade. O mesmo que fez os clássicos modernos "Pulp Fiction" e "Bastardos Inglórios", aqui, perdeu a mão feio. Isso porque ele, assim que nem Woody Allen em "Cafe Society", abusou demais dos próprios clichês que, outrora, soavam excelentes. Em "Os 8 Odiados" temos um festival de personagens irritantes e desinteressantes (e, não importa que sejam vilões, já que Tarantino já provou que pode elaborar ótimos antagonistas), diálogos excessivamente expositivos, beirando o ridículo, e claro, muito sangue, mas, sem muito propósito. Salvam-se algumas cenas de impacto, porém, que se perdem na longa duração do filme. No geral, um exercício estético um tanto vazio, e, na maior parte do tempo, pouco envolvente.


"Deadpool"
Aqui, tivemos uma chance de ouro dos chamados "filmes de super-heróis" irem além do que é oferecido todos os anos nos Multiplexes da vida. Só que, tirando uma violenciazinha a mais aqui, e uma piada mais politicamente incorreta acolá, o que se vê é um produto extremamente genérico. Isso porque é SOMENTE o que assistimos em "Deadpool": violência exacerbada e escracho de cunho sexual. Nem o fato da tão falada quebra da quarta barreira é bem explorada aqui, servindo apenas como pretexto para piadinhas sem graça. Se era pra ser escrachado, que fosse bem mais ousado e anárquico do que isso.


"Batman vs Superman"
Esse, de fato, não foi um bom ano para as produções de super-heróis, em espacial para os filmes da DC. "Batman vs Superman" não passa de um engodo com mais de duas horas e meia de duração, aonde temos muita pose, firula e estilo, e pouquíssimo conteúdo. Mas, não para por aí. Ainda temos um roteiro pessimamente escrito e vilões completamente desperdiçados, sem contar uma participação da Mulher Maravilha apenas para cumprir tabela. Chega a ser heresia com os fãs de quadrinhos que dois dos seus maiores ícones tenham sido relegados a um filme tão ruim. Uma pena.


"Esquadrão Suicida"
"Batman vs Superman" teria sido pior filme de super-heróis do ano caso não tivesse surgido um "Esquadrão Suicida" no meio do caminho. Isso porque, apesar da ruindade da produção de Zack Snyder, pelo menos, ela tinha uma espécie de continuidade que dava certo equilíbrio à história. Aqui, não. Parece que foram filmados 6 longas diferentes, e um "gênio" da edição juntou tudo da maneira que deu, com uma linguagem pra lá de irritante de videoclipe. Os personagens são completamente mal desenvolvidos, com exceção do Pistoleiro e da Arlequina, e, pra completar, ainda tivemos a pior vilã de uma produção do gênero em muitos anos, uma tal de Magia. Apesar disso tudo, fez muito sucesso, o que pode ser a prerrogativa para filmes assim serem cada fez mais frequentes. Saudades de Nolan.


"Deus Não Está Morto 2"
O problema de filmes como este não é nem o fato de serem uma "propaganda do Cristianismo", afinal, um realizador de cinema tem todo o direito de fazer algo baseado nas ideias em que acredita. O problema, mesmo, é que essas "propagandas" desqualificam todo o que é contraditório. Em "Deus Não Está Morto 2", por exemplo, os ateus são visto como gente má, mesquinha, cruel, pintados com as piores cores possíveis. O roteiro (bobo) ainda força a amizade ao apresentar situações completamente absurdas, só para colocar os cristãos como vítimas da sociedade, como o povo mais perseguido do mundo. Se, no filme anterior, houve bastante desonestidade intelectual, neste, a coisa chega a ser vergonhosa (até pra quem seja cristão). Uma produção, por incrível que pareça, bem nociva em vários pontos.


"Os Dez Mandamentos - O Filme"
A incursão da Igreja Universal no mundo do cinema não poderia ser mais desastrosa. Sendo nada mais, nada menos, do que uma "compilação" dos episódios da novela da qual se originou, "Os Dez Mandamentos - O Filme" possui defeitos graves, além da falta de unidade narrativa, óbvio. Figurinos medíocres, atuações dantescas e efeitos visuais horríveis apenas algumas das falhas mais visíveis. Por sinal, este filme estreou logo no início de 2016, o que já preconizava que este seria um ano tenso. A profecia, involuntariamente, ficou clara: em geral, filmes religiosos são muito ruins e devemos fugir deles como o Diabo foge da cruz. Amém.


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