Lista Especial
Final de Ano

Se no cinema, o ano de 2016 não foi dos melhores, na música, o quadro não foi nem um pouco diferente. As rádios comerciais continuaram insistindo nos sucessos fáceis, naquele tipo de música que está "na boca da galera" hoje, e é esquecida amanhã. Só que não apenas o dito pop produziu coisas descartáveis nesse anos que passou, como também a chamada música alternativa ficou devendo (e, muito). Foram mais e mais fórmulas simplórias, sem ousadia, sem carisma, sem nada, enfim. Para ser justa, esta lista que segue tenta contemplar estilos díspares, para que a crítica não fique setorizada a apenas esse ou aquele estilo. É esperar que, em 2017, os nossos ouvidos sejam melhor tratados.

E, vamos às "paradas de sucesso".



15º
"The Stage"
Avenged Sevenfold
Há muito, o Avenged Sevenfold vem sendo ovacionado por fãs de metal e profissionais da área, a despeito de todo o preconceito que envolve a banda. Certo mesmo é que, pelo menos, eles tentar fazer algo que os diferenciei, mas, por mais que se esforcem, o grupo sempre fica no meio do caminho. "The Stage", por exemplo, tinha tudo pra ser um discão, vide a música de abertura, que lembra bastante os bons tempos do Iron Maiden e do Judas Priest. Só que, depois, o álbum vai perdendo fôlego gradativamente, até fica repetitivo e monótono. É inegável, contudo, que, instrumentalmente, os caras estão bem melhores do que no início da carreira, mas, no geral, ainda precisam provar que aguentam o tranco de comporem um trabalho marcante do começo ao fim. Agora, é aguardar uma próxima oportunidade.


14º
"Head Carrier"
Pixies
Ah, os bons tempos da era pré-grunge... Pixies, Meat Puppets, e outros que deram ao pessoal de Seatle a inspiração necessária para transformar barulho em melodia. Só que não estamos mais nos anos 90, e pra uma banda das antigas lançar algo novo é preciso que tenha um pouco a mais pra mostrar. No caso desse "Head Carrier", sobra barulho e falta atitude. São 12 composições sem inspiração, feitas no piloto automático, que não servem nem mesmo como panorama histórico para relembrar a época em que a banda estava no auge. O Pixies, é verdade, continuará sendo uma banda muito clássica, só que mais por conta de "Sufer Rosa" e "Doolitle", do que por "Head Carrier", totalmente dispensável na carreira do grupo.


13º
"O Rigor e a Misericórdia"
Lobão
É triste dizer, mas, um dos caras mais contestadores e inteligentes da música brasileira virou um mero papagaio de pirata da Direita, e a sua arte foi junto nesse empreitada ladeira abaixo. Foi até louvável o "tour de fource" de Lobão para gravar este disco, com financiamento à base de doações e tocando todos os instrumentos do disco. Até aí, ok. Mas, indo para a qualidade do material em questão, as canções presentes em "O Rigor e a Misericórdia" só têm um único intuito: atacar o Partido dos Trabalhadores. Não bastasse uma proposta tão rasa, as letras e os arranjos são pouco inspirados, bem distantes de petardos lançados outrora pelo cantor, como "A Vida é Doce" e "Sob o Sol de Parador". Atualmente, para Lobão, não há mais ironia e sutileza nas críticas, e, sim, puro discurso de ódio gratuito. E, não há nada pior do que um roqueiro domesticado desse jeito.


12º
"The Ashtonishing"
Dream Theater
Por mais que se repita que o Dream Theather tem uma qualidade técnica absurda (e, é verdade), o grupo também peca, muitas vezes, pelo excesso dessa mesma técnica. Sim, a banda tem ótimos álbuns em seu currículo ("Awake" e "Octavarium" que o digam), mas, a coisa complica quando resolvem querer inventar a roda, no caso, a elaboração de um álbum extremamente conceitual. O problema é que os músicos, às vezes, confundem composições bem elaboradas com canções desnecessariamente intrincadas, o que, inevitavelmente, cansa o ouvinte, se fomos partir do pressuposto de que temos aqui um disco duplo com 34 intermináveis temas, em pouco mais de 2 horas de duração. O que parece ser apenas um "desafio" em forma de música, acaba sendo algo boçal, mesmo.


11º
"We’re All Somebody From Somewhere"
Steven Tyler
O Aerosmith continua aí, fazendo shows energéticos e discos não tão bons assim. Mas, o seu vocalista, Steven Tyler, resolveu se aventurar por novas praias, e o resultado é este sonolento "We're all Somebody from Somowhere". Tudo bem, e é até compreensível que o cantor quisesse fazer algo diferente de sua banda, até para evitar comparações, mas, ao invés de ter feito uma escolha de estilo um pouco mais condizente com a sua voz, resolveu partir para um pop xarope, irritante, e que testa a boa vontade do ouvinte a cada segundo. Ficou parecendo que o cantor estava desgostoso com o fato da sua banda não estar fazendo mais tanto sucesso, e resolveu tentar voltar às paradas com um disco sob medida para agradar a gregos e troianos. Resultado? Um dos piores lançamentos do ano. Bem feito.


10º
"World On Fire"
Yngwie Malmsteen
Verdade seja dita: depois do influente "Rising Force", de 1984, o sempre pedante Yngwie Malmsteen sempre gravou, absolutamente, o mesmíssimo disco, com um power metal de muita velocidade e pouco sentimento. Tudo bem, ele é um "monstro" na guitarra, mas, e daí? Tocar um instrumento musical não é só mostrar uma técnica infinita, que parece nunca acabar. Escutar um disco inteiro dele é um exercício de paciência, até para os guitarristas profissionais. Não há variações audíveis, apenas, mil notas tocadas na velocidade da luz, o que, depois de um tempo, enjoa fácil. E, claro, discos de guitarristas não precisam ser assim (vide o mais recente e ótimo trabalho do Joe Bonamassa). Agora, pra quem gosta de alimentar a vaidade interminável de Malmsteen, pode ir escutar "World on Fire" sem medo.



"The Getaway"
Red Hot Chilli Peppers
Há cada lançamento, o Red Hot se distancia, cada vez mais, de sua essência e dos vindouros anos de talento musical, quando estava no auge, entre as décadas de 80 e 90. Pouco ou nada em "The Getaway" lembra os perfeitos "Mother's Milk", "BloodSugarSexMagik" e "Californication", com exceção da competente "cozinha" formada por Chad Smith e Flea. Já, Anthony Kieds está mais e mais repetitivo em seus trejeitos vocais. No entanto, a grande diferença aqui é a falta que John Frusciante faz. Tudo bem que Josh Klinghoffer é um bom guitarrista, mas, neste disco, faltou o carisma que só Frusciante conseguiu dar, até hoje, ao som da banda, numa união de elementos que sempre foi o seu diferencial. Escutando "The Getaway", você sente falta de alguma coisa, algo que "amarre" o som, o que acaba deixando a audição chata do começo ao fim.



"Allehop"
O Teatro Mágico
Quando o Teatro Mágico surgiu, gerou, automaticamente, uma legião de fãs tão apaixonados, num fenômeno que só foi comparado ao que aconteceu aos Los Hermanos ou com o Cordel do Fogo Encantado anos atrás. E, o grande mérito da banda era, justamente, unir a música com um espetáculo visual, circense. Já, em disco, e somente em disco, a coisa mudava de figura, e por mais que houvesse uma ou outra composição mais "esperta", um álbum do Teatro Mágico sempre parecia estar faltando algo. Com este novo lançamento, "Allehop", a sensação fica ainda mais forte, devido à uma sonoridade adotada que lembra muito o pop nacional dos 80. E, aí é que está o problema: ficou totalmente fora de sintonia com a proposta da banda que, até então, estava dando um pouco certo. Dificilmente, "Allehop" irar gerar um ótimo espetáculo, da mesma forma que, sonoramente, é tão pasteurizado quanto enfadonho.



"Electromob"
Cachorro Grande
Assim como Lobão, a Cachorro Grande parece que gostou desse negócio de "querer ser" de Direita, e, logo no single do novo álbum, "Electromob", destilou ataques gratuitos ao PT e à Esquerda. Até aí, se no restante do disco, ainda tivéssemos alguma qualidade, poderíamos até relevar (um pouco) tal apelação (afinal, acaba sendo bem estranho, já que a banda nunca foi "crítica" em suas letras, e agora, soou como oportunismo). Mas, para o infortúnio de quem ouvir "Electromob", perceberá que o grupo perdeu a mão de vez. Abandonando o rock sessentista dos Stones, e apostando em algo mais tecno (um Prodigy, por exemplo), a Cachorro Grande não encontra o tom, e fica parecendo tudo forçado, como se ela tivesse feito esse disco só pra vender, sem gostar, verdadeiramente, do que estavam fazendo. Soa como um Chico Buarque fazendo um disco de funk (só por essa analogia, já dá pra perceber o "nível" de ruindade de "Electromob").



"California"
Blink-182
Não há muito o que se esperar do Blink-182, é verdade, afinal, eles sempre foram mais pop's do que punks, e, tirando as piadinhas do início da carreira, em termos de sonoridade, a banda nunca foi um grande destaque. Só que os rapazes "cresceram", "amadureceram", e o que antes tinha até certo humor, ficou chato. Ou seja, não sobrou nada. As músicas de "California", por incrível que pareça, têm potencial, mas, seriam melhor executadas por um grupo mais talentoso. É tudo, basicamente, a mesma coisa, no piloto automático, e aquele vontade enorme de soar, quem sabe, um Dead Kennedys. Só que, pra isso, o Blink-182 precisaria ousar bem mais (coisa que o mainstream do qual fazem parte não permite de jeito nenhum).



"Revolution Radio"
Green Day
Quando o Green Day surgiu, no longínquo ano de 94, com o divertido "Dookie", era uma banda, no máximo, muito legal. Conseguiram evoluir bastante com o ótimo "American Idiot", mostrando que podiam ser provocativos como os autênticos punks, e, ao mesmo, tempo, chegar ao grande público. Mas, eis que chega este "Revoltution Radio", e tudo vai por água abaixo. O disco não se salva nem nos momentos mais reflexivos, muitos menos, nas horas de "pancadaria". É tudo milimetricamente formatado para agradar as massas, sem um pingo, sequer, de espontaneidade. Não deixa, portanto, de representar boa parte do rock atual, mais comportado e menos contestador.



"Tropix"
Céu
Não tem jeito. Por mais que seja a queridinha do alternativos, Céu é muito "fake". Os seus discos, em geral, transpiram falta de originalidade, e este "Tropix" não é muito diferente. É verdade que ela té tenta umas variações na voz aqui e acolá, mas, é tudo (absolutamente tudo!) no mesmo tom, como se ela não estivesse suficientemente empolgada para cantas as próprias canções. Isso sem contar aquele tipo de sonoridade que quer ser "moderninha", mas, que acaba caindo no lugar comum. Claro que as propostas são um pouco diferentes, porém, experimentem comparar com os trabalhos da Juçara Marçal, por exemplo, em especial, o seminal "Encarnado", e percebam a questão da variação estética que torna um trabalho mais rico. "Tropix", em contrapartida, parece uma única música, e sem o devido tempero, o que é pior.



"This House is Not For Sale"
Bon Jovi
Ok, criticar a fase atual do Bon Jovi é clichê, concordo. Mas, fazer o quê se a banda já não consegue gravar mais nada que seja, minimamente, marcante? Tudo bem que eles não quisessem continuar com o estupendo hard rock que os consagrou nos anos 80, mas, se era para desbancar para o pop, que, pelo menos, fosse um pop com uma certa qualidade.  Só que escutar qualquer novo trabalho do Bon Jovi é que nem comer uma comida requentada: você sabe, exatamente, que gosto tem, e é quase certo de que você terá uma tremenda indigestão. Neste novo disco, nem o guitar hero Ritchie Sambora consegue salvar o álbum do marasmo total. Acredito até que os fãs mais ardorosos do grupo já estejam cansados dele gravar sempre o mesmo disco pop de baladas. Eu não os recriminaria.



"Nine Track Mind"
Charlie Puth
O pop é cheio de vertentes e variantes, e, por mais que se tenha algum preconceito contra ele, o estilo vez ou outra, apresenta artistas de qualidade. Este, no entanto, NÃO é o caso de Charlie Puth. O problema maior é aquela velha e nociva falta de identidade que assola, pelo menos, 90% desse meio. Tem horas que ele "quer ser" Justin Timberlake. Em outras, um Elton John mais jovem. E, por aí vai. Não há carisma, nem vontade de fazer diferente. É tudo feito pra tocar nas paradas de sucesso, e ser trilha sonora de filmes e novelas. Nada, portanto, original. Pra quem gosta, mesmo, de pop, Rihanna e Beyoncé conseguiram, em 2016, fazer discos bem melhores do que este aqui, que, provavelmente, deverá ser o cantor preferido da molecada até o próximo verão. E, só.



"Glory"
Britney Spears
Britney Spears já foi sex symbol, raspou o cabelo, autoproclamou-se o anti-cristo em pessoa (!), e, pero que si, pero que no, "deu a volta por cima". Mas, quem, ainda hoje, considera, realmente, a cantora relevante no meio musical? Os tempos já não são os mesmos de "Baby One More Time", e, por mais que a arte de muitos desses cantores pop seja descartável, para se manter no topo, é preciso ir além da pose e das coreografias, milimetricamente, ensaiadas. Às vezes, parece que Britney Spears quer ser a nova Madonna, no entanto, também já não estamos nos anos 80. Portanto, o que sobra de um novo lançamento dela é um punhado de canções sem sal, com uma pseudo-sensualidade constrangedora, ficando evidente que ela parou no tempo. Uma ou outra canção aqui talvez embale as paradas de sucesso por algumas semanas, mas, daqui há algum tempo, é provável que nada seja lembrado do disco. "Oops... She did it again"...



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