Lista Especial
Final de Ano


O ano de 2016 terminou com bastante saldo negativo em algumas áreas, é verdade, mas, o que ficou de bom, realmente, foi tão bom que se destacou. Na música, por exemplo, não tivemos lá muitos lançamentos marcantes, porém, os que se mostraram com qualidade devem ficar na playlist de muita gente por um bom tempo. Uma pena que, infelizmente, uma coisa se recusa a mudar: o vício dos meios de comunicação, em especial, das rádios, em tocarem sempre o último sucesso do momento, e somente ele, impedindo que um público maior tenha acesso a coisas verdadeiramente variadas. Nesta lista que segue, por exemplo, tem artistas brasileiros que podem ser considerados, sim, populares. Mas, por que não tocam nas rádios? Eis um "mistério" que deixaremos pra desvendar, talvez, agora em 2017.

Por enquanto, fiquemos o que de melhor tivemos em termos música no ano que passou.



15°
"Teens of Denial"
Car Seat Headrest

Sabem aquelas bandas que não apresentam absolutamente nada de novo em termos de som, mas, que você não consegue parar de escutar de tão bom? Assim é Car Seat Headrest, forte candidato a grupo queridinho no mundo indie num futuro próximo. Atributos não faltam, já que os rapazes conseguem fazer uma música bastante simples, mas, com garra e energia suficientes para tornar qualquer trabalho deles viciante. Não importa que você já tenha escutado algo similar num Radiohead ou num Arctic Monkeys da vida. As influências são propositais, porém, não incomodam. É esperar que, assim como as suas influências, eles também evoluam nos lançamentos posteriores, e não parem no meio do caminho. 

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14°
"Anyway You Love, We Know How You Feel"
The Chris Robinson Brotherhood
É uma pena, mas, a bandaça The Black Crowes, ao que tudo indica, não volta mais. Com o encerramento em definitivo de suas atividades em 2015, os seus fundadores (os irmãos Robinson)resolveram se aventurar em carreiras solo. E, enquanto o guitarrista Rich partiu pra um rock mais tradicional, Chris acertou mais a mão ao diversificar e ampliar as influências que os Corvos Pretos de Atlanta já tinham. O resultado é este disco aqui, que possui o rock como base, mas, o soul e o rhythm and blues na alma e na veia. As canções do álbum são mais do que agradáveis; são ricas em arranjos e melodias, mostrando que esse tipo de "velharia sonora" ainda tem muito a oferecer. E, assim como era recomendado com o The Black Crowes, é escutar "Anyway You Love, We Know How You Feel" naqueles momentos mais cool e viajantes possíveis. Será recompensador.

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13°
"Sabotage"
Sabotage

Este disco póstumo comprova, primeiramente, uma coisa: dentro do, às vezes, monocromático cenário do rap nacional, Saboatge ainda tinha muito a oferecer. De cara, saltam aos ouvidos as participações especias, que contribuem bastante para reforçar a mensagem do disco, como Negra Li e Happin Hood. Do próprio Sabotage, ficam as boas rimas, um discurso que pode incomodar, mas, que não chega a ser apelativo, muito menos, é discurso de ódio, como muitas vezes, os Racionais faziam, e um feeling incrível para contar histórias do cotidiano. A sonoridade também é diversificada, deixando tudo muito bom de ser escutado, numa alquimia muito boa entre letra e melodia. No final, fica a sensação ao mesmo tempo boa, por termos escutado um belo disco, e desagradável, por Sabatage ter nos deixado devido ao que combatia na própria arte.

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12º
"Red Sun"
Three Leg Dog
Descobrir bandas bastante desconhecidas, e até mesmo "obscuras", acaba gerando uma sensação duplamente antagônica: a alegria de ter encontrado algo fora do grande circuito que seja de qualidade, e a lamentação por esse algo, justamente, por não ser muito conhecido, estar fadado ao primeiro lançamento, apenas. A banda originária da Estônia (vejam só!) Three Leg Dog causa esse tipo de sentimento no ouvinte, muito por "culpa" de um rock vigoroso que eles fazem, calcado, sim, nos anos 70, mas, sem ser "perdido no tempo". As canções são muito bem trabalhadas, e caso o grupo tenha as oportunidades certas, ainda ouviremos falar mas deles. Torcer por isso.



11°
"Duas Cidades"
Baiana System


Ainda um pouco desconhecida do público mais "antenado" no Brasil, o Baiana System é o tipo de grupo que merece, no mínimo, uma atenção mais apurada. Tendo lançado um disco homônimo em 2010, agora eles retornaram com um trabalho que aponta novos horizontes para a proposta desse pessoal. Encontramos um multiculturalidade autêntica, sem soar fake, e que vai do Dub ao samba reggae fácil, fácil. Além disso, em essência, a banda tem um questionamento social que surge de maneira pertinente, até mesmo no próprio título deste disco, que evoca as diferenças (e, implicitamente) os preconceitos entre as linguagens das cidades alta e baixa de Salvador. E, é propondo uma mistura entre a miscelânea de culturas que o Baiana System manda o seu recado, direto, conciso, sem arrodeios.

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10°
"Blackstar"
David Bowie

Quando "Blackstar" saiu, mal se imaginava que as letras soturnas e introspectivas do disco, na realidade, eram uma espécie de "carta de despedida" aos fãs, já que, na época das gravações, Bowie já tinha consciência da doença que o vitimaria algum tempo depois. Encarando tudo (a vida, a morte, os amigos, a família, o sentido das coisas, enfim) com inacreditável sobriedade, o eterno "camaleão do rock" fez de "Blackstar" uma aula não só de boa música, mas, também de profundas e necessárias reflexões. Trata-se do acaso de um artista cujo legado para a o meio musical continuará sendo inestimável. Um adeus honesto, digno de quem já encanou ninguém menos do que Ziggy Stardust.




"Schmilco"
Wilco

Temos aqui um dos discos mais interessantes e despretensiosos do ano que passou. O Wilco não quer inventar a roda, nem fazer a revolução. Apenas pretende produzir boa música, algo que tem de sobra em "Schimilco". Com o característico som da banda, que vai do country ao folk, passando pelo britpop sem maiores problemas, o Wilco nos garante quase 40 minutos de algo muito agradável aos ouvidos, e ainda assim, inventivo. A simplicidade das composições é só aparente, pois, com um pouco mais de atenção, dá pra notar o cuidado com que cada harmonia foi feita, cada nota foi colocada. Não chega a ser magistral como "Yankee Hoteç Foxtrot" (a obra-prima do Wilco), mas, ainda assim, é um bonito conjunto de canções elaboradas com esmero.

Onde baixar:
https://soundpark.pt/album/torrent-184977-wilco-schmilco-2016




"IV"
Santana

2016 marcou a volta de Carlos Santana. Mas, não o Santana dos hits, das participações especiais de artistas da moda ou dos grammy's, e sim o Santana de Woodstock, aguerrido, tirando de sua guitarra as mais belas e intensas melodias possíveis. Junte-se a isso o fato de "IV" apresentar aquela mesma musicalidade exuberante que fez de "Abraxas" um dos melhores álbuns de todos os tempos. O novo lançamento do instrumentista prova que o tempo não passa quando se tem um talento genuíno. O som remete diretamente aquelas jam sessions insanas que Santana fazia nos palcos durante a década de 70. Um disco, portanto, de classe, para provar que o guitarrista está mais vivo do que nunca. Muy bueno!




"A Moon Shaped Pool"
Radiohead

Há quem ainda espere que o Radiohead grave um segundo "The Bends" ou um outro "OK Computer". Só que, pra quem realmente conhece a banda de Thom Yorke, sabe muito bem que nunca será assim. O grupo sempre se notabilizou por ir contra a maré, buscando, muitas vezes, o caminho mais difícil. Dito isto, o que vamos encontrar em "A Moon Shaped Pool" é o mesmo estilo de "anti-música" presente em "Kid A" ou em "Amnesiac". Quem quiser melodias assobiáveis ou refrões facilmente cantados, procure em outro lugar. Este disco qui é para ser ouvido com calma, com total silêncio ao redor, e se deixar levar pelos pequenos detalhes que identificamos aqui e acolá. Obviamente, não é um ritual comum hoje em dia. Mas, quem se arriscar a fazê-lo, encontrará em belo disco.

Onde baixar:
https://soundpark.pt/album/torrent-187983-radiohead-a-moon-shaped-pool-deluxe-edition-lossless-2016



"Blues of Desperation"
Joe Bonamassa
O blues e o rock têm muitas similaridades. Uma delas é que, de tempos em tempos, sempre surgem os "profetas do meio musical" decretando a "morte" de um deles. É quando surge algum artista bem acima da média que, como uma provocação, cala a boca dos mais pessimistas, dando um sopro de vitalidade aos estilos. Nisso, chegamos a Joe Bonamassa, que há anos vem fazendo um ótimo trabalho, seja em carreira solo, seja em bandas como a Black Country Communion. E, a cada lançamento, o atestado de qualidade do guitarrista se comprova. "Blues of Desperation" exemplifica bem isso, pois se trata de um trabalho completo, que não se prende somente ao blues, apesar de ter nele a sua fonte principal de inspiração. Além disso, o próprio Bonamassa está cantando em uma harmonia melhor com as suas composições, fazendo deste um de seus melhores registros.




"You And I"
Jeff Buckley
Este disco póstumo faz bastante jus ao talento que Buckley mostrou, e que, infelizmente, não teve tempo de se aprimorar. Entre uma raridade e outra desse disco, encontramos uma sublime versão para "Just Like Woman", do Bob Dylan, rivalizando com a soberba interpretação de Buckley para "Hallelujah", de Leonard Cohen. Para quem já conhecia o rapaz do estupendo "Grace", um dos melhores álbuns dos anos 90, com certeza, já sabe o que vai encontrar aqui: arranjos muito bem cuidados, um lirismo à flor da pele, interpretações perfeitamente passionais do cantor, entre outros atributos. É uma pena que esse tipo de material tenha que ser uma "sobra" do que ele gravou há anos atrás, e que não teremos mais o prazer de ouvir algo de novo dele. Um misto de deslumbramento por uma arte bem feita, e de tristeza pela partida precoce de Buckley.


"Dystopia"
Megadeath
Os mais puritanos do metal talvez chiem, mas, Kiko Loureiro meio que "salvou" o Megadeath. Convenhamos: os trabalhos anteriores da banda de Dave Mustaine estavam longe de serem memoráveis, sendo, no máximo, legais e bem executados. Porém, foi com a entrada do ex-guitarrista do Angra, que o Megadeath ganhou novo fôlego, fazendo, aí sim, um discaço. Cada canção de "Dystopia" tem feeling, carisma, energia. Mustaine está cantando bem melhor, além de toda a banda se mostrar bem afiada. E, claro, Loureiro mandando riffs e mais riffs certeiros, completando as composições de forma primorosa. Sem dúvida, em jovem clássico de uma lenda do rock pesado.


"Hollow Bones"
Rival Sons
O rock setentista vem ganhando cada vez mais espaço como fonte de inspiração para novas bandas. Mas, verdade é que poucas se salvam. A maioria não vai além de uma mera cópia. E, um número pequeno faz como o Rival Sons, que usa de suas influências para buscar uma identidade. Todos os discos da banda mostram uma clara evolução, e, como não poderia deixar de ser, este mais recente é o melhor da carreira da banda. Não se limitando a um som óbvio que lembre, claro, Led Zeppelin, Black Sabbath e adjacências, o Rival Sons compôs um trabalho em que cada canção tem vida própria, parecendo-se, em parte, com as influências do grupo, mas, com a cara deste. Um típico disco de rock de arena, muito bem-vindo, por sinal.




"MM3"
Metá Metá
Há muito tempo que a música brasileira carece de inventividade. Pode parecer chatice de quem fala, mas, é preciso ter certa paciência para encontrar algo que seja, pelo menos, "diferente". E, nesse quesito, o Metá Metá consegue. Mas, não só. A banda consegue extrair fina melodia e autêntica poesia, muitas vezes, de sons estranhos, anti-comerciais, mas, que na proposta, funcionam perfeitamente. Ajuda muito o fato do grupo ser formado por uma cantora de atitude (Juçara Marçal), um saxofonista muito bem entrosado (Thiago França) e um guitarrista altamente criativo (Kiko Dinucci). Com uma junção dessas, fica difícil alguma coisa dar errado. Resultado: simplesmente o melhor disco brasileiro do ano passado.

Onde baixar: 
http://www.hominiscanidae.org/2016/05/meta-meta-mm3-2016.html




"Hardwired... to Self-Destruct"
Metallica

Polêmicas à parte, o Metallica é o tipo de banda que sempre se reinventa, para o bem e para o mal, mesmo quando faz algo um pouco mais tradicional. Depois de irem ao inferno com "St. Anger" e perderem mais um punhado de fãs xiitas com "Lulu" (este, em parceria com Lou Reed), eis que em 2016 eles surgem com um disco maravilhoso, que mescla de maneira surpreendente os melhores momentos de sua carreira. Tem, pois, do hard rock ao thrash, mas, sem soar nada datado ou forçado (que nem aconteceu com "Death Magnetic"). O disco é duplo, e, indiscutivelmente, o primeiro é o mais legal, contendo as melhores faixas. Mas, a "segunda parte" do álbum é muito boa, diga-se; só não está no mesmo nível da anterior. No geral, "Hardwired... to Self-Destruct" é um trabalho, ao mesmo tempo, coeso e empolgante, e ainda dá um novo gás ao grupo, que estava mesmo precisando mostrar o porquê se tornou um dos ícones do metal

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