Dica de Filme ("John Wick: Um Novo Dia Para Matar")

Dica de Filme

John Wick: Um Novo Dia Para Matar
2017
Direção: Chad Stahelski


SEGUNDO EXEMPLAR DA FRANQUIA "JOHN WICK" DIVERTE, ENTREGANDO EXATAMENTE O QUE SE ESPERA DELE, MAS, NÃO MAIS QUE ISSO

Com quantos clichês se faz cinema de ação? Pelos menos, a depender das revisitações do gênero que aparecem aqui e acolá, são filmes que sempre terão lugar garantido nas salas de exibição, alguns, com resultados melhores do que outros. O mais recente que ficou acima da média foi o ótimo "Mad Max: Estrada da Fúria", em 2015. 

Dois anos depois, a nova sensação atende pelo nome de "John Wick: Um Novo Dia Para Matar". Trata-se, é verdade, de um filme bem divertido, que empolga em alguns momentos, mas, não se enganem: como diria o narrador de "Clube da Luta", o que vamos encontrar aqui é a cópia da cópia da cópia. E, isso é bom? Bem, sim e não.




Primeiro, os aspectos positivos. Temos muitas cenas de ação estupendamente bem coreografadas, com a adrenalina necessária para deixar os fãs do gênero imensamente satisfeitos. Claro, algumas são absurdas além da conta, mas, pra serem boas, precisam ser isso mesmo: absurdas. 

Outro bom aspecto é a história simples, que desce redonda, sem muitas complicações ou reviravoltas. É tudo muito preto no branco, direto, objetivo, sem firulas. A direção de Chad Stahelski, que dirigiu o primeiro filme do personagem John Wick ("De Volta ao Jogo") ao lado de David Leitch, faz aqui um trabalho competente, conseguindo mesclar bem cenas de ação com outras mais calmas, fazendo as duas horas da produção passarem quase que despercebidas.

E, qual é o problema de "John Wick: Um Novo Dia Para Matar"? Simples: ele requenta DEMAIS velhas fórmulas. Óbvio, quando um filme usa bem os clichês do gênero ao qual faz parte, consegue, geralmente, resultados satisfatórios. 

Mas, aqui, a coisa é MUITO parecida com outros exemplares, que, às vezes, deixa tudo genérico demais. O anti-herói que perdeu a esposa, e hoje tem uma vida solitária, os vilões "ruins de mira" que não acertam o seu alvo, mas, o alvo em questão sempre acerta os vilões, as já batidas conveniências de roteiro, o inevitável confronto final, cujo resultado já antevemos de longe, etc, etc, etc. 

Ok, para um cinéfilo de ocasião, que esteja começando a sua jornada agora, vai achar este filme o máximo, mas, pra quem já viu "Dirty Harry", "Duro de Matar", e mais recentemente, "Mandando Bala", vai sentir um inevitável sentimento de déjà-vu.




E, é nesse ponto que "John Wick: Um Novo Dia Para Matar" cai num certo dilema: suas qualidades acabam, ocasionalmente, transformando-se no seu calcanhar de aquiles. Um bom exemplo disso são as cenas de ação, basicamente resumidas a tiros, tiros e mais tiros. Em todas essas sequências, acontece exatamente a mesma coisa: John Wick, muitas vezes, com uma única arma (sic) consegue matar a todos, e, geralmente, sai sem nenhum arranhão. E, isso se torna um tanto chato justamente pelo fato da história, em algumas ocasiões, levar-se a sério demais. 

Vejam bem: a franquia "Velozes e Furiosos", por exemplo, possui cenas totalmente sem sentido de tão absurdas, mas, as histórias acompanham essa "galhofa" das sequências de ação. Ou seja, são elementos que entram em sintonia. Em "John Wick", muitas cenas completamente estilosas se juntam a momentos demasiadamente sérios, o que contribui negativamente para a "diversão". 

Outro ponto negativo a se destacar é Keanu Reeves. Tudo bem, ele não é um exímio ator, apesar do carisma que possui, e todos nós já sabemos disso. Mas, em filme de ação, fica notório que ele não se encaixa (o primeiro "Matrix" é a honrosa exceção dessa regra). Porém, no caso de "John Wick", ele não consegue passar a motivação necessária que o personagem exige, e isso fica provado até nas frases de efeito que solta, totalmente sem carisma saídas de sua boca. 

Ao menos, os coadjuvantes se saem um pouco melhor, como no caso de Ruby Rose, que faz a assassina muda (!) Ares, Ian McShane, que interpreta Winston, dono da organização criminosa da qual John Wick fazia parte, e o rapper Common, que se mostra bastante competente ao fazer Cassian, rival do protagonista. O restante do elenco só cumpre tabela, mesmo, fazendo atuações no piloto automático, a exemplo de Laurence Fishburne.




Sim, mas, no final, "John Wick: Um Novo Dia Para Matar" é um filme divertido? Sim, e muito. Só que não há a profundidade de um "Exterminador do Futuro", o carisma de um "Duro de Matar", o sacarmo de um "Mandando Bala", ou a pura galhofa de "Velozes e Furiosos". 

Tudo é competente naquilo que se propõe, é verdade, mas, é "tão competente", que os seus realizadores não se arriscaram a irem um pouco além dos clichês. Ou seja, é uma zona de conforto aonde não há grandes erros, mas, também não há grandes acertos. 

Diverte e empolga enquanto dura, porém, será que "John Wick" vai envelhecer bem, e daqui há uns 15 ou 20 anos, mais ou menos, ainda vamos nos divertir com ele? Acho pouco provável. Mas, na falta de algo que seja entretenimento puro, sem grandes compromissos, é válido. 


NOT: 7/10


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