Dica de disco ("Anthem of the Peaceful Army" - Greta Van Fleet)


Dica de Disco

Anthem of the Peaceful Army
2018
Artista: Greta Van Fleet


Primeiro disco da banda Greta Van Fleet reforça a influência do Led Zeppelin, mas aponta para outros caminhos bastante interessantes

O fã de rock, seja ele novo, ou com uma idade já avançada, e muitos discos escutados, infelizmente, tem uma tendência um tanto chata de reclamar por reclamar. Se a banda soa muito diferente dentro do estilo, ela é acusada de experimental e enfadonha demais. No entanto, se o grupo, mesmo demonstrando grande talento, emula bastante as baandas clássicas, ele é acusado de plágio, de falta de originalidade. 

A verdade é que agradar a gregos e troianos é difícil, ainda mais num meio onde o fundamentalismo de ideias, muitas vezes, dá a tônica da questão. Dito isso, a jovem banda Greta Van Fleet já foi acusada de ser uma cópia descarada do Led Zeppelin antes mesmo que lançassem o seu primeiro disco "cheio", e com todos os integrantes na faixa dos seus 22 anos, ainda tendo, pois, muito tempo para amadurecerem musicalmente. 

Em suma: as acusações não levam em consideração uma série de fatores.




O primeiro dos fatores que devemos levar em consideração é que o próprio Zeppelin de Chumbo foi acusado de plágio em início de carreira (o que irritava bastante Jimmy Page). A clássica banda de hard rock só veio a ter um pouco do prestígio da crítica após o terceiro álbum. Só que verdade seja dita: a despeito da genialidade dos integrantes do Led, o grupo realmente pegava elementos de outros artistas que gostavam e compunham com base em suas influências. 

Ou seja: coisa que 99,9% dos grupos fazem. O que o Greta Van Fleet está fazendo é exatamente a mesma coisa, com o ingrata tarefa de viverem no ano de 2018, quando muita coisa no mundo do rock já foi feita, refeita e desfeita, o que torna qualquer nova banda do estilo um alvo em potencial dos fãs mais xiitas do estilo.

Outra questão que devemos levar em consideração: o Greta Van Fleet tem em seu cast de músicos alguns dos caras mais talentosos que surgiram na cena nos últimos anos (o estupendo guitarrista Jake Kiszka que o diga). Porém, chegamos na parte mais polêmica: o vocalista Josh Kiszka realmente é uma cópia descarada de Robert Plant? 

A resposta: definitivamente, não. 

Os timbres são similares, mas escutando ambos com atenção, ouve-se claramente que Josh tem um "jeito" diferente de entonação, o que deixa o som do Greta Van Fleet com um sabor especial. Ora, de fato, "lembra" Plant, mas, em outros momentos, fica evidente que se trata de um garoto com um tremendo alcance vocal, e com um carisma muito cativante. 

Se isso é pecado, façam-me o favor! 

PS: ressalte-se a ótima cozinha sonora, composta pelo baixista Sam Kiszka e pelo baterista Danny Wagner.



E, quanto ao disco Anthem of the Peaceful Army em si? Um álbum de rock divertido como há muito não se ouvia. As canções possuem vida própria, e mostram bem a competência desses meninos e o quanto ainda podem evoluir. 

Destaque para a poderosa abertura com Age of Man (interpretada de maneira emocionante), a cadenciada When the Curtain Falls (com um ótimo refrão) e as belas acústicas You're the One e Anthem. Todas não somente remetendo ao Led em si, mas, mostrando influências diversas do hard setentista, além de coisas mais modernas, como Black Crowes. 

Um primeiro disco, portanto, redondo, enxuto, sem grandes arroubos sonoros, mas, que garante alguns minutos de boa música em seu player.

Veredito? Se você é um roqueiro que aprecia, particularmente, aquela fase que o rock teve entre o final dos anos 60 e o final dos anos 70, esse disco é perfeito. Não é a "salvação" do estilo, mas, tão pouco, decepciona. Vale cada minuto escutado. 

E, lembre-se: estamos falando de garotos muitos jovens, que demonstram um talento musical muito claro (e, em alguns aspectos, até raro hoje em dia). Desmerecer o trabalho deles devido a influência A ou B, e, no mínimo, ter insensibilidade artística para perceber o quanto estamos diante de uma baita banda que ainda tem muito o que crescer. 

Conselho? Esqueça comparações inócuas e preconceitos tolos, e simplesmente escute o som, tentando curtir suas nuances. Depois, a gente conversa...


NOTA: 8/10


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