Dica de Filme ("Das Lehrerzimmer/A Sala dos Professores")

 Dica de Filme

Título: Das Lehrerzimmer (A Sala dos Professores)
Ano de lançamento: 2023
Direção: İlker Çatak

Tensão, preconceitos e ética entre professores e alunos

Relações entre professores e alunos são quase sempre bem complicadas, complexas e, por vezes, tensas. Espera-se muito que o docente seja um educador quando a criança (ou adolescente) que está ali na sua frente já veio de uma educação moldada em casa. E, nisso, multiplique por "n" alunos, cada um com seus problemas, dilemas e vivências. 

E são essas relações entre que serão colocadas à prova neste excelente filme alemão aqui.

Em "A Sala dos Professores", somos apresentados inicialmente à professora Carla e sua dinâmica com a classe onde ela ensina. Aparentemente, tudo corre bem, excerto por uma onda de pequenos furtos no colégio. No começo, a acusação recai sobre alguns alunos, pra depois uma revelação ser feita e ir escalonando para uma tensão cada vez mais angustiante onde de um lado teremos uma professora disposta a lutar por um de seus alunos, e do outro, intrigas e falta de escrúpulos.

Não, aqui não temos nenhum filme hollywoodiano edificante e um tanto piegas sobre a relação aluno problemático/professor herói. A coisa é mais crua, pé no chão, ao mostrar como exercer a profissão de docente pode ser complicado. Carla, por exemplo, pelo fato de ser uma professora recém-chegada na escola, precisa enfrentar as picuinhas de seus colegas, ao mesmo tempo que passa por mais bocados nas mãos de certos alunos, e da incompreensão de alguns pais. 

Não se trata, portanto, de transformar a profissão de professor em algo heróico, e sim, em mostrar como o sistema de ensino é falho em certos aspectos, com algumas instituições mais preocupadas com a imagem do que em fazer justiça pelos seus alunos, ou mesmo como uma criação problemática pode destruir um aluno exemplar devido aos erros dos adultos

Nesse sentido, "A Sala dos Professores" não poupa críticas a ninguém, e Carla, justamente pela sua resignação em alguns momentos, também paga caro, por mais que as suas atitudes, a todo o momento, tentem ser as mais éticas possíveis com um de seus alunos. Violência psicológica e física, acusações falsas e distorções da verdade serão corriqueiras nessa espiral de negligências onde, aparentemente, ninguém quer resolver, de fato, a questão dos furtos no colégio. Apenas, acharem um culpado, e se ver livre do problema.

A cada cena, o filme constrói uma tensão que beira o insuportável, onde parece sempre pairar no ar uma sensação de tragédia a todo o momento. O formato quadrado da tela piora ainda mais essa sensação de opressão e de desconforto. Pelo fato de "A Sala dos Professores" se passar 99% dentro de um único ambiente, a escola, esse sentimento de clausula contribui bastante para a atmosfera do longa, e ainda parece passar a mensagem que alguns personagens alitambém estão presos numa espiral de problemas cada vez maiores. 

A câmera do diretor İlker Çatak está sempre se movimentando, sempre inquieta, mesmo nos momentos iniciais, onde tudo parece estar mais tranquilo. É como se fosse impossível parar o que está prestes a acontecer, como se nós ficássemos cada vez mais desorientados junto com Carla, quase no final do filme, só resta a ela (e a nós) extravasar essa tensão insuportável com um grito, numa cena que, mesmo simplerrima, representa bem "A Sala dos Professores".

Mesmo com uma temática aparentemente muito básica, estamos diante de um filme que, de certa forma, perturba bastante, como se nada do que fosse feito ali adiantasse para ajudar quem quer que seja, com a relação professor -aluno cada vez mais fragilizada diante da negligência de quem deveria zelar por isso. A sensação que fica é um sentimento grande de impotência, e que provoca muito desconforto. E alguns questionamentos. 

Nota: 9/10