Dica de filme ("Mamãezinha Querida")

 Dica de Filme


Título: Mamãezinha Querida
Ano de lançamento: 1981
Direção: 
Frank Perry


Ser filha de mãe abusiva é padecer no inferno

As construções sociais ditam, categoricamente, que toda mãe é sagrada. Não importa se biológica ou afetiva, a questão é que uma mulher que exerça sua maternidade tem o direito, pelas regras da sociedade, de tratar os filhos da maneira que achar melhor, e o problema parece ser pior quando se trata de filha mulher, a quem tem que se curvar diante das exigências de sua progenitora. 

É verdade que nos dias atuais essa problemática é melhor aceita e debatida, e a figura da mãe imaculada e intocável vem dando espaço a críticas mais coerentes nesse assunto. Porém, décadas atrás, quando o tema ainda era tabu, um filme como "Mamãezinha Querida", que retrata bem isso, certamente, deve ter desagradado a boa parte da audiência, ou simplesmente, mães abusivas concordaram os métodos violentos da personagem Joan Crawford. 




Certo mesmo é que essa produção, mais de 40 anos depois, é um incômodo e forte retrato da maternidade tóxica, e ainda teve críticas a respeito do mundo das celebridades, que precisam de fama contínua (a qualquer custo). E, nesse sentido, é o que a atriz Joan Crawford faz. Vaidosa e manipuladora, vê cada vez mais o tempo passar, ela envelhecer, e pendendo papéis importantes em filmes de sucesso. Pra driblar isso, resolver adotar crianças, que, de qualquer jeito, serve como uma boa "publicidade". 

Claro, a personalidade de Joan não é tão simples assim. Ela mesma não foi criada pela mãe, e acabou perdendo 7 bebês em gravidezes mal sucedidas. A maternidade para alguém assim é um tema caro, portanto. Mas, não demora muito para vermos do que Joan é capaz como mãe, especialmente e exclusivamente, contra Christina, pois, a Christopher, o outro filho adotivo, ela é apenas um pouco carinhosa ou indiferente. 

Os abusos começam de maneira significativa, com Joan competindo com a filha em coisas triviais, como nadar numa piscina, e em outros momentos essa competição fica ainda mais clara, como quando a atriz pega Christina usando sua maquiagem, ou quando adulta, a filha precisa se ausentar de um programa do qual trabalha por conta de uma cirurgia. 

Fica muito nítido, portanto, que aqui temos uma caso de mãe abusiva, que parece ter inveja da juventude da filha, ao passo que fica cada vez mais ressentida por não ser a grande estrela de Hollywood do passado. Ao mesmo tempo que muitas das atitudes dele se resumem também ao controle, já que, pelo fato dela não ter mais isso em sua vida profissional, canaliza essas energias em sua filha da maneira mais violenta.




É importante também destacar como o roteiro (que é baseado numa verídica, descrita em um livro escrito pela própria Christina Crawford da vida real) mostra como uma criação abusiva mexe com o psicológico da vítima, onde esta, mesmo adulta, fica impotente diante das violências que sofre, e simplesmente não reage. Mais um dos pontos incômodos do filme que o fazem ser, de certa forma, além do seu tempo. 

As atuações estão brilhantes. Poucas vezes, Faye Dunaway esteve tão revoltante em uma personagem, e as atrizes que fazem a Christina criança e adulta (Mara Hobel e Diane Scarwid) também passam o horror, o desespero e, às vezes, a apatia ou melancolia de ter uma mãe que manipula cada passo seu. É desesperador. Por fim, a direção de Frank Perry constroi muito bem toda essa relação tóxica, expondo cada violência (micro e macro), e expondo o quanto isso deixa marcas para sempre nas vítimas.





"Mamãezinha Querida", portanto, é um drama quase de terror, especialmente, para quem se enxergar na posição de Christina, mostrando que a maternidade está longe de ser algo sublime, e que a sociedade, do seu jeito, impõe às mulheres que sempre sejam jovens, atraentes e tenham fama, mesmo que o custo disso seja ter inveja profunda da própria filha. Pesado, mas, que, felizmente, nos dias atuais, é um tema cada vez menos tabu. E que esse filme expõe de maneira desconcertante. 

Nota: 8,5/10

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