Filme Não Recomendável

Boi Neon
2015
Direção: Gabriel Mascaro


Chato e sem propósito. Se fosse para resumir "Boi Neon" em poucas e sucintas palavras, seria assim. Mas, como os ossos do ofício pedem que sejamos mais detalhistas, aí vai. Esse filme é mais uma daquelas típicas produções brasileiras que rodam, rodam e rodam para chegarem a lugar nenhum. Um tipo que se pretende cult, algo crítico, mas, no final, fica só na pretensão mesmo, e o espectador mais atento fica com a sensação de que tentaram lhe ludibriar.

A premissa é até boa, vejam: um homem que trabalha com gado, peão que coloca a "mão na massa" no negócio da vaquejada, mas que não é de todo modo rústico e gosta de moda e de costura. No mínimo curioso, e lá vamos nós, claro, conferir. O problema é que em quase duas horas de filme, simplesmente, nada acontece em "Boi Neon"; apenas a sensação de que algo fenomenal está prestes a acontecer. Mas o tempo passa, passa, passa... E, nada!




O filme é tão vago e sem nexo que duas cenas envolvendo uma mulher dançando com cabeça de cavalo demonstram muito bem isso. Essas imagens dão a entender que se tratam de devaneios do protagonista, e que essa até poderia ser uma ideia sua para um possível desfile no futuro. Só que essas sequências servem apenas como mero enfeite, pois nem ajudam na condução da trama, nem se propõem a serem a explicação de algo mais profundo. 

Em se tratando de enredo, o negócio também é sofrível. Simplesmente, o pouco que acontece não possui relevância alguma para a estória. Temos cenas intermináveis de bois de um lado para o outro, nos currais ou sendo derrubados nas vaquejadas (o filme bem poderia ser uma peça de propaganda - mal feita - do movimento vegano, quem sabe). Só que, do jeito que ficou, acaba sendo algo cansativo, que tem grande impacto nos primeiros minutos, mas, que depois, torna-se enfadonho.

Os personagens secundários também não ajudam. Temos uma mulher (caminhoneira) e sua filha que acompanham o protagonista, de evento em evento, carregando bois e outros homens na boleia do caminhão. Enquanto essa mulher é uma personagem muito fraca, sem a intensidade que a personagem pede, pelo menos, sua filha tem algum carisma. É da criança, inclusive, os melhores momentos do longa. Ela sempre tem uma resposta atrevida e seca na ponta da língua para dar aos adultos, e é ela quem, muitas vezes, salva o filme do fiasco total. (Já a atriz que interpreta a mãe, relegada a cenas dispensáveis no cinema pernambucano, tal como a masturbação na lavadoura de roupas em "O Som ao Redor", coube neste, depilar-se gratuitamente na boleia do caminhão).




Por ser uma típica produção brasileira estilo "cult", com mais cenas de efeito do que realmente uma estória bem contada, outro aspecto bem incômodo é o humor "involuntário" que aparece aqui e acolá. Isso acaba diluindo cenas que, por si, seriam muito bonitas. Exemplo? Quando o personagem principal pega uma revista erótica do amigo, ele começa a desenhar roupas cobrindo o corpo das mulheres. Seria uma bela analogia da personalidade dele, não é verdade? Porém, quando ele abre a revista, ela está "colada". Resultado: o cinema vem abaixo de rir de tão constrangedora que a situação é. Sutileza zero.

É, então que, no final, o filme mostra a que veio: exibe uma longa, naturalista e desnecessária cena de sexo, que, por ser feita numa fábrica de tecidos pode até ser, minimamente, interpretada como uma metáfora dos desejos do protagonista. Contudo, depois disso, o que temos é: o término da produção. Nada mais! O filme acaba sem oferecer, nem mesmo, algo em aberto para o espectador, ou algo mais consistente para interpretarmos. Simplesmente, termina. 

Em linhas gerais, "Boi Neon" é filhote de "O Som ao Redor", o pretenso "filme-protesto" de Kléber Mendonça, só que mais modesto. Ambos representam uma boa parcela desse cinema nacional que pensa que está dizendo/fazendo coisas extraordinários, quando está apenas realizando um exercício petulante de auto-contemplação. Felizmente, existem produções recentes, como "Tatuagem" e "Que Horas Ela Volta?", que, involuntariamente, servem como antídoto a tudo isso.




"Boi Neon" não é, senão, um produto vazio. Em termos de estória, ficou parecendo aquelas conversas de bar, onde alguém ouviu falar de algo inusitado, mas não sabe começo nem fim. Com cenas tecnicamente bem feitas, porém, "soltas", o filme testa a nossa paciência. Cairia muito bem num curta-metragem de dez minutos, e olhem lá. O ideal seria que essa pseudo-intelectualidade não contaminasse ainda mais o atual cinema nacional. Mas, a depender da bajulação que esse tipo de produção anda recebendo, preparem-se para mais chatices e sonolências na tela grande.


NOTA: 3/10


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