Dica de Disco

Get Born
2003
Artista: Jet


No "mundo encantado" do showbizz, não são raros os casos de bandas que vem e vão sem mostrar a que vieram, e do qual não se sente a mínima falta. O caso do grupo australiano Jet é peculiar. Hoje em dia, não se fala mais dele, mas, quando lançou seu primeiro disco, este "Get Born", foi um sopro de vitalidade no rock daquela época, e até os dias atuais, ainda pode ser considerado um dos melhores trabalhos do gênero nos últimos 15 anos. Os motivos que fizeram a banda estar no ostracismo, tendo encerrado suas atividades em 2012, são muitos, o que é uma pena, pois este disco demonstrou que eles tinham um ótimo potencial.

E, o que faz de "Get Born" um trabalho tão bom é justamente que ele é descomplicado. Nada revolucionário, nada de novo, nada de experiências desnecessárias. Apenas baixo, bateria e guitarra a serviço de músicas que grudam nos ouvidos já na primeira audição, mas, que nem assim, são composições de gosto duvidoso, sendo tudo muito bem tocado, e com aquela urgência típica dos melhores álbuns de rock.



As referências da banda já começam na primeira faixa, a ótima (e, rápida) "Let's Dance", cujos acordes iniciais nos lembram o AC/DC fase Bon Scott. Com uma influências dessas, não poderia dar errado: este é um grande cartão de visitas. Mas, não para por aí. A seguinte, "Are You Gonna Be My Girl", é fabulosa; dançante e pesada na medida certa. Não tem como não cantarolar a canção logo de cara. Pra fechar essa trinca irretocável, temos outra canção primorosa do rock'n roll mais simples possível: "Rollover Dj". Não mé preciso dizer que as três ficam excelentes ao vivo, ideais para fecharem qualquer show.

Depois de tanta energia, vem a genuinamente bonita "Look What You've Done", uma balada nem um pouco enjoativa. Os acordes "à lá AC/DC" voltam com tudo na ótima "Get What You Need", que, assim como as anteriores, mostra um padrão de qualidade acima da média no que é feito no rock, em geral. "Move On" é mais uma balada NÃO descartável, e que nos remete ao bom britpop dos anos 90, em especial, do Supergrass. As linhas de guitarra e gaita, que dão um tom meio "Beatles" à canção, deixam tudo com um charme ainda maior.



Um charme que também encontramos na boa "Radio Song" (essa, TOTALMENTE Beatles), e mesmo não tendo o padrão de qualidade das músicas escutadas até aqui, não faz feio. A agitada "Get Me Outta Here" volta com o barulho necessário uma banda como o Jet, mas, também não é das melhores coisas do disco, apesar de, assim como "Radio Song", ser um boa composição. A coisa volta a surpreender com "Cold Hard Bitch", que, mais uma vez, traz o AC/DC como base, só que com uma identidade mais própria, principalmente, pelo tom do bom vocalista Nic Cester.

"Come Around Again" pode ser considerada, incrivelmente, a balada dispensável do disco.  Bem tocada, não acrescenta nada além do que já ouvimos no decorrer de "Get Born", ao contrário de "Take It OrLeave It", que começa de um jeito um pouco Rolling Stones, para explodir num rock anos 60 pra ninguém botar defeito (só que bem mais pesado, diga-se). Vai na mesma direção a estupenda "Lazy Gun", que chega a recordar os bons momentos do glam rock, tipo T-Rex e Marc Bolan. "Thimoty" é uma balada mais minimalista que as demais do disco, e por isso mesmo, destaca-se. E, por fim, o disco termina com a ótima "Sgt. Major", praticamente, uma compilação de tudo o que escutamos até aqui, com vários elementos interessantes, tornado essa uma música única, e digna de fechar um trabalho como esse.


"Get Born" não salvou o rock. E, o Jet já nem existe mais. Porém, nesse mundo fútil do entretenimento de fácil assimilação, que canibaliza suas próprias crias com voracidade incrível, a estreia do Jet foi um sopro de vitalidade no rock, resgatando artistas e épocas que fizeram o estilo ser o que é. Provas mais do que suficientes para considerar "Get Born" um discaço de rock, sem concessões. 


NOTA: 8,5/10

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