Dica de Disco

The Serenity of Suffering
2016
Artista: Korn


A arte não é uma prática engessada, nem tem a obrigação de seguir regras. No entanto, quando se começa uma determinada linha (e, ela dá certo), é muito melhor que essa linha seja mantida até o fim. Na música, por exemplo, é comum, um disco começar muito bem, e ir perdendo força aos poucos, aonde, no final, acabamos tendo um resultado pífio. E, parece que o Korn tem esse "karma" a cumprir, se bem que, dessa vez, o resultado não ficou tão ruim assim, muito pelo contrário. Mas, deu "esperanças" de que este novo lançamento da banda seria um excelente disco, coisa que não é.

Vamos aos fatos. Esqueçamos qualquer forma de preconceito. Não importa se é new metal, doom metal, black metal, ou qualquer sub-gênero inútil. É tudo rock, e em primeira instância, tudo música. Se ela for boa, não custa nada apreciá-la,, seja ela um belo jazz ou um carismático samba de raiz. Com isto, e antes de mais nada, o Korn sempre mostrou certa competência naquilo que faz. Ok, é verdade que o grupo não possui em sua formação nenhum instrumentista virtuoso e nem as letras são tão primorosas assim. Mas, em muitos aspectos, o som empolga, e o vocalista Jonathan Davis, sejamos justos, é um tremendo cantor. 






Com tudo isso em mente, falemos, enfim, de "The Serenity of Suffering", o 12° álbum de estúdio da banda. E, já começa com o som na talo. Sim, "Insane" é séria candidata a hit, e tirando a costumeira afinação na guitarra, tão característica no som do grupo, uma coisa que chama a atenção é que Davis está apostando mais nos guturais, o que é uma grata surpresa. De resto, o velho feijão com arroz, mas, feito com muita competência. Em seguida, aquela que, facilmente, é a melhor do disco: "Rotting in Vain", que possui um ótimo refrão, ideal pra ser cantada nos shows.

As duas próximas canções, "Black is the Soul" e "The Haiting", também são maravilhosas, ´com uma energia e uma potência que há muito tempo não se ouvia num trabalho do Korn. Aí, pensamos: "disco do ano", certo? Infelizmente, não. A coisa começar a complicar a partir da quinta faixa, "A Different World", que tem participação do Corey Taylor, do Slipknot. Ela não é, necessariamente, uma música ruim, mas, cansa tão rápido, que dissipa facilmente a boa impressão que as composições anteriores trouxeram. Só que, até aí, normal. Um pequeno deslize, não é verdade? A irritantemente pop "Take Me" responde por si. Ela parece as piores coisas que o Linkin Park já fez, o que não se justifica, pois, o Korn é uma banda mais antiga.





E, já na sétima faixa, "Everything Falls Apart", constatamos algo surpreendente: a banda começa a perder fôlego muito rápido pra quem começou com composições tão empolgantes e bem dosadas. Mas, vamos em frente, dando chance ao Korn. Eis que escutamos, pelo menos, uma música que, se não é uma maravilha, "Die Yet Another Night", também não decepciona. É cadenciada e explosiva na medida certa, e evita a sensação de decepção que o disco já estava começando a provocar. Mas, ainda assim, somos obrigados a escutarmos "When You're Not There", canção pesada, sim, mas, sem muita inspiração, ficando bem igual a tantas outras que o grupo já fez.

"Next in Line", por ser um pouco mais simples, é melhor resolvida, tem umas experimentações interessantes, e chega a manter as coisas na média. Bem melhor é "Please Come For Me", que tem uma melodia mais trabalhada e um instrumental mais "na cara", e menos afetado. "Baby" seria uma música legal se o Korn estivesse começando agora. Não é o caso. Pra quem já conhece a banda de longa data, vai identificar fácil ecos de outras canções do grupo nesta música. Contando o fato de que ela é a mais longa do disco, então, podemos classificá-lo como a pior de todo o álbum. A derradeira canção, "Calling Me Too Soon", não tem absolutamente nada de diferente das demais. Não empolga na maior parte do tempo, apesar de ter uns bons guturais no meio dela. Mas, muito pouco para "salvar" o cenário geral.

E, o que temos aqui, no final das contas, só não beira a decepção porque temos, em última análise, 7 ótimas canções de um total de 13. Mesmo assim, não deixa de ser chato constatar que a banda poderia ter se esforçado um pouco mais. Assim, teríamos, sem sombra de dúvida, um dos discos do ano. Só que o que temos é um bom apanhado de músicas razoavelmente pesadas, que, mesmo empolgantes, não devem ficar na cabeça do ouvinte por muito tempo. Uma pena.


NOTA: 7/10

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