DICA DE DILME ("Colmeia")

 Dica de Filme


Título: Colmeia
Ano de lançamento: 2021
Direção: 
Blerta Basholli



A difícil sobrevivência entre as consequência de uma guerra e o patriarcado

Estamos no ano de 2021, e é inegável que tivemos avanços em todo o mundo, em diversas áreas. Mas, algumas coisas ainda teimam em existir, transformando a vida de alguns e um inferno. A guerra, esse conflito, na maioria das vezes, travado de maneira inútil e por causas não tão nobres, continua a ser um problema que o ser humano insiste em cometer. E, há o patriarcado, essa mentalidade arcaica que coloca o homem no centro do universo, e a mulher à margem, submissa e servil. 

É nessa realidade que se desenrola a trama de "Colmeia", filme baseado em eventos reais ocorridos em 1999, mas, que poderiam muito bem ser dos dias atuais. Aqui, temos a história de Fahrije, cujo marido é um desaparecido de guerra. Para poder sobreviver, ela e outras mulheres precisarão trabalhar por conta própria. Por essa razão, passam a ser hostilizadas na cidade onde vivem, cuja cultura patriarcal impõe que as mulheres não podem trabalhar fora de casa, já que isso seria desonrar seus maridos e a família como um todo. 



"Colmeia" vai apresentando essa história e os seus desdobramentos de maneira muito direta e concisa, sem perder tempo. Em alguns minutos, já temos um vislumbre da personalidade de Fahrije, que, além de tudo, ainda precisa cuidar do sogra paraplégico, junto com seus casal de filhos. As cenas em que a protagonista precisa enfrentar a hostilidade de todos (até mesmo da própria filha) são fortes e tocantes, dando bem a dimensão do que as mulheres passam naquele lugar. 

Mesmo que o filme seja centrado em Fahrije (que está em praticamente todas as cenas), conhecemos também um pouco do universo de outras personagens passam. Uma, por exemplo, não pode tirar sua habilitação por imposição do cunhado, enquanto outra, um pouco mais velha, dá conselhos às mais jovens para que não deixem suas filhas se casarem tão cedo. Isso cria um panorama muito contundente de um grupo de mulheres, que, aos poucos, tentam se emancipar (e sofrendo consequências com isso). 

Por sinal, a guerra aqui é mencionada através dos noticiários, nunca sendo mostrado um conflito sequer. A aura desse conflito e suas consequências estão estampadas no lugar de diversas formas, enquanto que a violência contra aquelas mulheres é mostrada de maneira nítida e revoltante. É como se elas tivessem que enfrentar uma "guerra particular" em nome da sobrevivência, já que o que elas querem é APENAS trabalhar de maneira digna. 




Além disso, não deixa de ser curioso que o título do filme seja "Colmeia" (inclusive, fazendo alusão direta à colmeia que o marido de Fahrije fez no passado, e que agora é cuidada por ela). Acontece que em uma colmeia quem manda de fato não as fêmeas, em especial, a rainha, onde os zangões são apenas meros reprodutores. Já, no mundo dos humanos, mais precisamente, naquele microcosmo apresentado no filme, são os machos que mandam e oprimem, o que não deixa de ser um contraste. 

Deixando claro: por mais que o patriarcado violente as mulheres de todos os formas, o filme não apela para o sadismo, mostrando, sim, cenas revoltantes, mas, sem tonar algumas sequências explícitas demais. Isso ajuda na questão principal: questionar tanto a própria cultura da guerra, que não traz nada de benéfico, como também atacar um ambiente misógina, onde todos saem perdendo (inclusive, os homens). É nisso que o filme se concentra (muito bem, por sinal), e muito graças à ótima perfomance da atriz Yllka Gashi, que interpreta Fahrije.



"Colmeia" é um filme que, mesmo de curta duração, possui uma grande carga dramática poderosa, e traz à tona questionamentos e críticas importantes. Afinal, mesmo que a história se passe há mais de 20 anos atrás, os assuntos explorados aqui estão tão atuais quando no passado. Infelizmente. 


Nota: 8,5/10

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