DICA DE FILME ("Os Inocentes")

 Dica de Filme


Título: Os Inocentes
Ano de lançamento: 2021
Direção: 
Eskil Vogt



Ótima e inquietante subversão da história de crianças com poderes especiais traz uma perturbadora visão do universo infantil

Há mais de uma forma de contar uma história. Às vezes, não precisa ser nada tão original ou inovador. Basta tentar fazer algo diferente do padrão. Mas, alguns detalhes também fazem a diferença. Em 2019, por exemplo, o filme "Brightburn" tentou reimaginar o mito do Super-Homem, fazendo um garoto com super poderes se tornar um vilão perverso. Não deu muito certo, pois, a premissa se perdeu em meio a uma história vazia e simplesmente sanguinolenta. 

Eis que agora temos "Os Inocentes", uma produção norueguesa que tem uma premissa mais ou menos similar. Ela apenas troca o Super-Homem por um grupo de crianças que estão começando a despertar poderes estranhos (algo mais ou menos parecido com os X-Men). E, o resultado acaba sendo bem melhor que o visto em "Brightburn". Diferenças? A trama de "Os Inocentes" vai além, e faz um interessante estudo de personagem, não se tornando refém de sua própria premissa. 



Já nas primeiras cenas, o espectador acostumado a ver crianças doces e gentis em muitos filmes talvez se incomode com a personagem Ida, uma garota que se diverte fazendo algumas maldades, entre elas, espezinhar Anna, sua irmã autista. De mudança, acaba conhecendo Ben e Aisha, crianças um pouco estranhas. Mas, que, aos poucos, vão fazendo uma espécie de amizade. 

É bonito ver, por exemplo, como Aisha acaba tendo uma conexão com Anna, ao mesmo tempo em que Ida e Ben, mesmo brincando parecem estar competindo. Nesse meio tempo, coisas inusitadas vão acontecendo (como um deles mostrando ter poderes telecinéticos), ao mesmo tempo em que coisas pesadas acontecem, e evidenciam a construção de uma profunda perversidade na personalidade de Ida, mas, principalmente, de Ben. 

O filme não entrega tudo que se propõe logo de cara, fazendo com que nos habituemos aqueles personagens, mesmo que algumas cenas sejam bem repugnantes de ver. Vamos imergindo naquele universo estranho, e se assustando com o que algumas daquelas crianças são capazes. E é aí que está o grande diferencial deste para "Brightburn": ele não possui facilitações de roteiro, como, por exemplo, mostrar Ida ou Ben como maus e pronto. Há uma lenta e gradativa construção aí. 




Ao mesmo tempo o filme também poderia ser um pouco mais enxuto na sua duração, pois, em alguns momentos, já sabemos mais ou menos o que irá acontecer (especialmente em seu final). Com isso, a narrativa vai se diluindo um pouco demais, chegando a cansar um pouco. Mas, nada que seja realmente incômodo. Mas, talvez, uma edição melhor, junto com um roteiro só um pouco mais lapidado teria feito muito bem no resultado geral. 

Apesar do filme falhar em alguns momentos no ritmo, contudo, é inegável que a direção consegue permear a história com uma aura de tensão; Isso permite até que a produção seja imprevisível e ousada em alguns pontos, não poupando o espectador de alguns momentos tristes, e outros, chocantes. Em certas cenas, o filme se aproxima mais do horror, sem, contudo, mergulhar a história demais nesse aspecto, e perdendo o tom.

Outros destaques positivos do filme são os atores mirins, que fazem um belo trabalho aqui, seja nas cenas mais divertidas e descompromissadas, até as mais pesadas e tensas. É certo dizer que todos aqui tem muito futuro na área. Fora isso, temos efeitos visuais mínimos, que deixam a trama ainda mais intimista, e casa bem com a proposta.  




"Os Inocentes" é um filme bem diferente e um tanto angustiante, que, mesmo trazendo uma premissa batida, mostra um bom potencial, ao abordar a questão do nascimento de poderes e da construção da perversidade de maneira mais realista, e não se esquivando de adentrar no lado mais psicológico desse tipo de história. O resultado é bastante satisfatório, portanto.


Nota: 8/10


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