Lista (Melhores livros lidos em 2021)

Lista de fim de ano



Em um ano marcado por um cotidiano de enclausuramento, um bom livro (assim como outras formas de arte) pode ser um alerto, ao mesmo tempo em que nos leva a importantes reflexões, além de alguns nos divertirem no processo. 

Aqui nesta lista se encontram aquelas leituras que mais me impactaram ao logo desses meses, lançadas em diferentes épocas (e não necessariamente em 2021). 

Livros, portanto, que ficarão comigo para sempre. 


15. "A Trégua" (Autor: Primo Levi)


A temática da Segunda Guerra Mundial já foi bastante explorada na literatura do século XX, e mesmo que possa parecer que o assunto se repete, alguns livros se mostram especiais. É o caso de "A Trégua", por exemplo. De teor autobiográfico, a obra mostra um pouco do que aconteceu aos judeus pós-conflito, e como tiveram que sobreviver sem casa, trabalho, comida, roupas ou até mesmo pátria. Enfim, sem nenhuma dignidade. Tocante e contundente leitura. 


14. "Nós" (Autor: Yevgeny Zamyatin)


"1984" e "Admirável Mundo Novo" são clássico da distopia moderna, certo? Mas, antes destes, veio "Nós", obra máxima do russo Yevgeny Zamyatin, que explora situações bastante similares às obras de Orwell e Huxley, só que até mesmo de uma maneira mais sutil, e ao mesmo tempo, cínica. Falar que se trata de um livro à frente do seu tempo talvez soe clichê. Mas, é inevitável. Pois, sim, "Nós" é bem à frente de sua época. 


13. "Cônicas Marcianas" (Autor: Ray Bradbury)

Bradbury sempre fez uma ficção científica diferenciada e criativa, que, por trás de toda situação absurda, há sempre uma importante reflexão no meio de histórias um tanto pitorescas. Em "Crônicas Marcianas", por exemplo, ele explora muito bem a possibilidade de falar sobre o que é ser humano em meio a explorações espaciais de sucessivas épocas. Quanto mais os anos, décadas e séculos avançam, mais parece que nada, além de um ou outro avanço tecnológico em si, muda. Uma história, de certo ponto de vista, triste, porém, poderosa. 


12. "Pedro Páramo" (Autor: Juan Rulfo)


Para ler "Pedro Páramo" é necessário ter em mente que certas convenções lógicas de leitura precisam ser colocadas de lado. Mesmo sendo uma história bastante curta, Rulfo constroi uma teia bem intrincada, onde passado, presente e futuro se misturam, bem como acontecimentos reais e devaneios dos personagens. Uma leitura, por fim, densa, mas, gratificante e desafiadora. 


11. "Oblomov" (Autor: Ivan Gontcharóv)

Um dos clássicos da literatura russa. E, não é pra menos. Ao compor um improvável protagonista de uma história (o Oblomov do título), Gontcharóv expõe de maneira ora sutil, ora escancarada e debochada a mesquinhez e sordidez da alta sociedade da época, que não conseguia tolerar a presença de um homem, aparentemente, sem ação, e que preferia não fazer nada a ter que tomar certas atitudes. Há momentos engraçados, tristes e reflexivos. Uma grande obra, que conversa não somente com o seu tempo, mas, com o agora. 


10. "Knulp: Três Histórias da Vida de um Andarilho" (Autor: Hermann Hesse)


De curtíssima duração, mas, com uma imensa carga dramática e poética, "Knulp" mostra um Hesse, aparentemente, mais simples e sem grandes pretensões, mas, que consegue nos fazer chorar ao final da leitura deste livro. A filosofia de vida do protagonista é lindamente apresentada em uma linguagem sem grandes arroubos narrativos. Mas, nem precisa. Às vezes, menos é mais. 


09. "Judas" (Autor: Amós Oz)

Último livro do grande Amóz Oz mostra uma bem vinda provocação de cunho religioso, mas, não se limita apenas a isso. Ao fazer um grande e profundo estudo de personagens através de suas desilusões, traumas e anseios, este livro carrega muita humanidade em cada uma de suas páginas. "Judas" é, sem dúvida, afrontoso, porém, naquilo do qual é preciso provocar: nossa anulação em nome de dogmas e preconceitos ultrapassados.


08. "Cachorro Velho" (Autor: Teresa Cárdenas)


Outro livro bem curto lido este ano, mas, imensamente poderoso. Escrito pela cubana Teresa Cárdenas, "Cachorro Velho" expõe de maneira crua e ao mesmo tempo lírica a questão da escravidão, e de forma mais ampla do racismo. Seu final é arrebatador, e certamente é um soco no estômago para os mais desavisados. 


07. "Deuses Americanos" (Autor: Neil Gaiman)


Se nos quadrinhos, Gaiman construiu um épico chamado "Sandman", na literatura ele conseguiu repetir a façanha. Afinal, é inegável que o universo de "Deuses Americanos" é riquíssimo, e proporciona vários momentos de catarse ao leitor. Mesmo que a trama se alicerce no fantástico, há muitas questões humanas envolvidas ali, mostrando que o autor britânico pode tanto fazer seu público viajar em momentos oníricos, quanto pensar a vida real de maneira mais sóbria.


06. "Firmin" (Autor: Sam Savage)


Um dos pequenos grandes livros que li na vida. "Firmin" é inteligente, criativo e muito, mas, muito triste. Sam Savage nos coloca na perspectiva de um rato de biblioteca, e, dessa forma, somos levados a pensar a importância da literatura (até mesmo em suas funções mais improváveis, como os papeis dos livros servirem de ninho para a família de Firmin), e também a respeito da vida como um todo (de toda a vida de todos os seres, diga-se). Uma pérola a ser (re)descoberta sempre e sempre. 


05. "Sereias de Titã" (Autor: Kurt Vonnegut)


Vonnegut é mais conhecido por causa do estrondoso sucesso de "Matadouro Cinco". Mas, em "As Sereias de Titã" ele consegue ir além da questão de misturar realidade com ficção científica, criando um mundo bastante criativo, onde a tecnologia está avançadíssima, mas, as pessoas continuam a buscar pelo divino ou por questões mais espirituais, e, por isso, acabam sendo facilmente manipuladas. O desenrolar da trama é muito bem amarrado, e o final é perfeito. 


04. "O Apanhador no Campo de Centeio" (Autor: J. D. Salinger)

Outro clássico lido agora em 2021, "O Apanhador no Campo de Centeio" realmente faz jus à fama, pois, poucas vezes li uma obra que conversasse com seu público-alvo (os adolescentes e mais jovens) de maneira tão sincera e profunda. A linguagem usada pelo autor ajuda bastante nessa identificação, e mesmo pra quem já passou dessa fase, não sairá incólume diante dos dilemas de Holden Caulfield.


03. "Humilhados e Ofendidos" (Autor: Fiódor Dostoiévski)


Dostoiévski era um mestre. Ponto. Claro que as provas (incontestes) estão em "Crime e Castigo" e "Notas do Subsolo". Mas, também se encontram em petardos como "Humilhados e Ofendidos", onde o célebre autor russo destrincha até que ponto muitos poderosos usam de sua posição social para pisar em outras pessoas. A narrativa é esplêndida e a cada momento o leitor se sente como aqueles personagens, destruídos física e psicologicamente. 


02. "O Pássaro Pintado" (Autor: Jerzy Kosinski)


Um dos livros mais brutais que li em toda a minha vida. E um dos mais brilhantes. A sucessões de desgraças e acontecimentos repulsivos e agoniantes pode perturbar muitos expectadores. Portanto, não é uma leitura agradável, mas, consegue aquilo que se propõe: mostrar que a guerra é tudo, menos algo bonito e agradável. É daqueles tipos de leitura que ficam impregnados na alma por um bom tempo. 


01. "Berlin Alexanderplatz" (Autor: Alfred Döblin)

A minha grande leitura do ano é esta: um retrato contundente, pesado e angustiante dos miseráveis e marginalizados, aqueles que simplesmente foram jogados neste mundo sem perspectivas, e que agora precisam se virar com o pouco que têm e aprenderam. A história de Franz é como tantas outras que existem por aí. Existiram, existem e continuam a existir vários Franz por aí, desumanizados até o último osso dos seus corpos. Para completar o escritor Alfred Döblin retrata essa história de desespero e sobrevivência com uma narrativa onde se misturam fatos e pensamentos do personagem principal de maneira brilhante e surreal. Depois de uma leitura assim, é impossível sair ileso. 



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