Dica de Filme

A Teta Assustada
2008
Direção: Claudia Llosa


Alguns assuntos parecem inesgotáveis e sempre estão sendo abordados de alguma maneira. Um desses temas, sem dúvida, passa pelas ditaduras militares que tivemos na América Latina entre as décadas de 60 e 80. Parece que, por não conseguimos ainda expurgar tais demônios, precisamos fazer seu exorcismo pela arte.

Claro que existem resultados duvidosos quanto à qualidade de muitos desses produtos, mas, às vezes, um deles se destaca. É o caso do filme "A Teta Assustada". O nome, à primeira vista, pode soar inusitado e até engraçado, mas quando se sabe o real significado dele, percebe-se o quão assustador isso é.

Estamos no Peru, um dos países que sofreu com as ditaduras. E, o título do filme faz menção a um folclore do local. A mulher que possui uma "teta assustada" é aquela que foi estuprada em períodos de guerra, muitas vezes, estando grávida. Seu pavor se torna tão grande que o sentimento de medo é passado para o filho através do leite materno.

Conhecemos, então, Fausta, cuja mãe sofre desse tipo de violência. A produção já começa com essa senhora cantado uma música para a filha, onde relata o que teve de passar nas mãos dos seus carrascos. O relato, mesmo poético, é chocante.



Só que a mãe de Fausta morre, e enquanto ele tenta fazer o possível para enterrá-la de maneira digna, ainda tem que superar seus medos. Descobre-se, por exemplo, que ela sempre coloca uma batata em sua vagina para evitar ser estuprada, assim como sua mãe foi.

Durante a maior parte do tempo, o filme se foca nos dramas internos de Fausta, com suas angústias e seus receios de se aproximar das pessoas (principalmente, os homens). É um ponto positivo do roteiro, pois evita apelar para cenas de tortura, que, em geral, estão numa produção com essa temática.


Muitas sequências são poéticas e bonitas. Tendo aprendido a cantar com a mãe, Fausta, em muitas ocasiões, expressa o que sente através de canções. Triste, é verdade, porém, bastante espontâneo.

É um filme que só se perde quando mostra, excessivamente, os preparativos para o casamente de uma parente da personagem principal. Evidente que a mensagem passada diz que, enquanto vivemos nossos vidas cotidianamente, coisas terríveis podem estar acontecendo ao nosso redor. Mas, um pouco de economia aqui mais adequado.


No campo das atuações, Magaly Solier se sai bem como Fausta. Ela consegue passar a sensação de uma mulher frágil e debilitada com horríveis traumas, mas sem cair no trivial. E, a direção de Claudia Llosa também é eficaz, conduzindo o enredo sem atropelos ou exageros.

"A Teta Assustada" não é um filme, necessariamente, para você ficar indignado imediatamente. Longe disso, é uma produção mais estática, mais reflexiva. Há um desconforto sutil. Uma forma, por fim, bem interessante de expôr uma tragédia social, como uma ditadura, através de um contexto mais individual (e até mais visivelmente humano).


NOTA: 8/10

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