Dica de Filme

Lúcia e o Sexo
2001
Direção: Julio Medem


Falar de sexo no cinema é sempre complicado. O tabu impede, cria travas, censura, restringe, enfim. Os recentes boicotes sofridos por "Azul é a Cor Mais Quente" e "Ninfomaníaca" comprovam muito bem isso. Mas, ainda existem aquelas produções, que a despeito de todo o puritanismo vigente, conseguem entregar uma estória excitante, mas, ao mesmo tempo, com bastante conteúdo. É o caso do espanhol "Lúcia e o Sexo".

O que, aparentemente, é um mero caso entre a garçonete Lúcia e o escrito Lorenzo, desemboca numa trama muito bem arquitetada. Encontros e desencontros, problemas do passado, a necessidade de manter as paixões acessas, e até a redenção por erros cometidos são colocados no roteiro de maneira muito inteligente e inusitada. E, ainda com uma pitada de metalinguagem, visto, que, muitas vezes, a própria estória se confunde com o livro que Lorenzo está escrevendo atualmente.




E, esse jogo entre realidade e ficção é um dos grandes trunfos da produção, além de mostrar personagens muito bem construídos e cativantes ao espectador. Lúcia, com o su jeito amalucado de se portar, é uma pessoa da qual torcemos pela sua felicidade, ao passo que Lorenzo, mais introspectivo, causa ora pena, ora revolta, por ser tão inerte em certas ocasiões. Quando uma grande tragédia se abate sobre ele, é que isso fica mais evidente.

Lúcia tenta ajudá-lo de todas as maneiras, mas, ele parece ser incapaz de superar um grande trauma, além de, cada vez mais, estar imerso em seu livro, mais depressivo, mais angustiado. No meio disso, ele até tenta viver um romance razoável com ela. Os dois parecem se dar bem, inclusive, e principalmente, no sexo. Também entra em cena Elena, outra grande personagem, que outrora teve uma noite de amor com Lorenzo, e desse momento, ficou grávida dele.




Elena talvez seja a real protagonista do filme, a que liga o destino do casal principal, e a que mais sofre com a tragédia em questão, a que abala profundamente Lorenzo. É só depois de coincidências, nada forçadas, diga-se, que a sua personagem cresce na estória, Tudo muito bem amarrado, citando até a futilidade e a rapidez das conversas online, via Internet, mas de uma forma até poética, o que confere ao filme uma complexidade muito bem-vinda.

As cenas de sexo, mesmo não sendo tão explícitas assim, são muito bem filmadas, e, dentro do contexto da estória, não destoam, nem são apelativas. O diretor conduz tudo com mão leve e sensível, mesmo tocando em assuntos pesados algumas vezes. E, o simbolismo das imagens são de uma beleza ímpar, principalmente, quando envolvem a filha de Lorenzo. Mesmo com a temática do sexo e dramas pessoais muito intensos, é um filme bastante sensível.


"Lúcia e o Sexo", por fim, é uma produção muito peculiar, em vários aspectos. Não se limita a cenas de conteúdo sexual, nem complica demais uma estória, por si só, de uma enorme carga dramática. Tudo, basicamente tudo, flui bem, fazendo deste filme uma experiência diferente, excitante (por que, não?) e emocionante. Uma pérola do cinema recente.


Nota: 8,5/10

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