Animação Não Recomendável

Batman: A Piada Mortal 
2016
Direção: Sam Liu


Um clássico não se torna um clássico por acaso. Há motivos para que isso ocorra. No caso da HQ de A Piada Mortal, o que surpreendeu na ápoca de seu lançamento (1988) foi a abordagem corajosa do texto de Alan Moore, que mostrou Batman e Coringa não como meros rivais, evitando usar a batida dicotomia herói x vilão. A relação de ambos é mostrada como algo doentio, em que um está sempre no limite do outro, num jogo que só vai acabar com a morte de um deles. É como se um precisasse do outro para poder sentir a sua completa existência. Além dessa abordagem psicológica muito forte, a história ainda discutia outras questões, como o limite da loucura, por exemplo.

Ou seja, A Piada Mortal, até este ano de 2016, estava intocável como um clássico absoluto... Até a DC resolver ganhar um dinheirinho extra em cima da história, o que, por si, já tinha esgotado as suas possibilidades de maneira estupenda com o Cavaleiro das Trevas de Nolan. Mas, sabem como é a indústria de entretenimento; sempre querem espremer até a última gota de um produto pra ver o quanto rende. Eis que chegamos nesta animação aqui, que é como uma anedota usual do Coringa: possui um mau gosto tremendo.




O problema principal do desenho é a sua completa confusão narrativa. Seus primeiros 30 minutos se focam em mostrar a Batgirl, com a clara intenção de tentar criar empatia com o público para o que irá acontecer em breve no decorrer da trama. Tentar fazer algo diferente é sempre louvável, contanto, que você faça bem feito. Essa primeira parte é desprovida de carisma, com uma história pra lá de chata, personagens e passagens clichês, além da inserção um novo vilão que não convence. Sim, tem sangue e até uma inusitada insinuação sexual em alguns momentos, mas, é muito pouco (e, até gratuito) pra ser colocado como algum destaque positivo na produção.

Só após esse início morno é que a trama original, de fato, "começa". E, aí está outro problema: faltou ousadia. O desenho segue, literalmente, quadro a quadro os eventos da HQ. Até a piada que o Coringa conta no final é a mesma dos quadrinhos. Pra quem nunca leu a revista, pode até se chocar com alguns eventos mostrados, mas, honestamente, dificilmente alguém irá procurar essa animação não tendo lido o material original. Por mostrar os acontecimentos exatamente como ocorreram nos quadrinhos, a animação perde impacto, e, principalmente, perde as nuances do texto original e as suas boas provocações.




Outro ponto estranhamente negativo é a forma da animação no desenho. Nem mesmo a clássica série animada dos anos 90 tinha tantas limitações. Misturam algo tradicional (porém, mal feito) com alguns poucos efeitos em computação gráfica, e o resultado ficou bastante feio. Se a intenção era dar um ar de animação japonesa ao desenho, infelizmente A Piada Mortal falha imensamente. A própria dublagem original não ajuda muito, com todos passando uma apatia incrível em suas falas. Nesse sentido, o único que se salva é Mark Hamill (o eterno Luke Skywalker) que aqui volta a interpretar o Coringa, assim como fez na série animada dos anos 90.

Por incrível que pareça, a parte mais positiva, mesmo com todos os seus defeitos, são os primeiros momentos da animação, mostrando a interação da Batgirl com o Batman. Mesmo inconsequente nas suas atitudes, a personagem ainda consegue passar um pouco de humanidade, e é quem acaba desequilibrando um pouco as estruturas do Homem Morcego, coisa que faz, de certa forma, uma ligação com a segunda (e principal) parte do desenho. Mesmo assim, continua sendo tudo muito raso, às vezes, beirando o caricato.




Não é à toa que Alan Moore tem tanta raiva da adaptação de suas histórias para cinema. Passados quase 30 anos de seus maiores clássicos, os realizadores da sétima arte parecem não ter entendido o cerne da obra de Moore, sempre produzindo coisas de gosto duvidoso baseadas no que o escritor fez, desde A Liga Extraordinária até Watchmen. A animação de A Piada Mortal engrossa esse caldo, sendo, no final das contas, uma adaptação sem sentido, covarde e sem um pingo de originalidade. Lembando que esse ano ainda tivemos o bisonho Batman versus Superman, que provocou vergonha alheia em muita gente. Que fase, hein, Batman?!

#VoltaNolan


NOTA: 2/10


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