Filme Não Recomendável

Esquadrão Suicida
2016
Direção: David Ayer


Pois é, saturou de vez. Entra ano, sai ano, entra temporada, sai temporada, e Hollywood insiste com os filmes de super-heróis. Ok, vamos reconhecer: o mundo dos quadrinhos é fascinante, e possui histórias verdadeiramente complexas, que dariam ótimos roteiros para o cinema. No entanto, há muito tempo que essa categoria de filmes está no piloto automático, e pelo visto, não tem jeito de sair do marasmo tão cedo. As atuais produções baseadas em quadrinhos, simplesmente, não conseguem sair do lugar comum, fazendo de seus produtos algo tão pasteurizado, que até os fãs mais ardorosos acabam não gostando de muita coisa. E, "Esquadrão Suicida" chegou para ser o ápice dessa ruindade que tomou conta dos filmes de super-heróis, recentemente.

Tudo bem que até pela concepção dos personagens e do grupo que eles formam (um bando de criminosos que é obrigado a trabalhar para o governo), era até lógico que a história não tivesse grandes arroubos de criatividade. Mas, pelos atores envolvidos e pela personalidade de cada integrante do Esquadrão, o mínimo que se esperava era de que, ao menos, o filme tivesse carisma. Porém, passa longe disso. Primeiro, porque ele não passa de uma imensa colcha de retalhos, com cenas sem ligação lógica entre si. E, a culpa, é bom dizer, não foi, propriamente, do diretor. Sucessivas intervenções da produção fizeram com que várias sequências fossem refilmadas, acrescidas ou retiradas, o que deixou o enredo totalmente desconexo. É humanamente impossível o espectador se envolver com a trama desse jeito.




A própria apresentação dos personagens ficou muito mal-feita, pessimamente construída, colocando, de maneira rasa, eles como uma espécie de "vítimas do sistema", que caem nas mãos de policiais sádicos, que gostam de torturá-los. Pode até parecer uma visão ousada do roteiro, mas, do jeito que foi filmado, acaba ficando apenas desinteressante e chato, além de bastante forçado. Os primeiros minutos são gastos nessa apresentação, feita de maneira tão rápida, que, mesmo se quiséssemos, não iríamos conseguir ter alguma forma de empatia pelos protagonistas, mesmo estes sendo criminosos.

A própria história é desprovida de nexo. Vejamos: depois do aparecimento do Super-Homem, a alta cúpula dos EUA se mostra preocupada com a segurança da Terra (claro; até mesmo porque os norte-americanos precisam ser o "xerife do mundo"!). Só que tal preocupação acaba até tendo certo fundamento, já que, em determinado momento, questiona-se a possibilidade do próximo Super-Homem poder ser um terrorista, por exemplo. É quando a agente Amanda Waller tem a "brilhante" ideia de formar uma equipe só de vilões, pensando em controlá-los, e, assim, ter uma arma eficaz contra qualquer forma de ameaça.




Esse argumento pífio, vejam bem, não passa de uma boa desculpa para um festival de frases de efeitos, sequências de ação mal elaboradas e personagens totalmente descartáveis. Sei que é duro dizer isso, mas, um desses descartáveis é, justamente, o Coringa. Aqui, ele não tem motivo para existir. Ao contrário da caracterização anterior do personagem no cinema (a cargo do saudoso Heath Ledger), a representação do palhaço do crime em "Esquadrão Suicida" é frouxa e sem propósito, não conseguindo passar o perigo que ele representa. Até o arco envolvendo seu "par romântico", a Arlequina, é mal-feito. A própria atuação de Jared Leto também não ajuda, apesar de seu esforço pra tirar água de pedra, o que só prova que o roteiro do filme é muito ruim, mesmo.

Apesar de tantos problemas, algumas (poucas) coisas se salvam. Por exemplo: batamos palmas para as atuações de Margot Robbie e Will Smith, que fazem dos seus respectivos personagens (Arlequina e Pistoleiro) pessoas carismáticas e com algum grau de complexidade. São deles as melhores falas, por sinal, algumas verdadeiramente engraçadas. Pena que eles estejam inseridos junto de outras figuras completamente limáveis, como o Capitão Bumerange e Crocodilo, que nada acrescentam aqui, bem como a bisonha personagem Magia, que protagoniza alguns dos momentos mais constrangedores do longa.




Outro ponto, mais ou menos, positivo é o uso da trilha sonora, com alguns nomes como White Stripes e Queen. São partes (isoladas) que ainda conseguem dar frescor em algumas cenas. Porém, para uma produção que prometeu ser uma grande épico tresloucado, calcado nos vilões, ter apenas duas atuações dignas de nota e algumas músicas soltas aqui e acolá, é pouco, muito pouco. Avisando aos navegantes que é esse o filme que faz a ponte entre os eventos de "Batman vs Superman" e o futuro "A Liga da Justiça", mostrando, de forma impressionante, o desleixo com o material que a DC pretende construir no cinema.

"Esquadrão Suicida" acaba sendo o pior blockbuster do ano, ao lado de "Batman vs Superman". O que isso tudo prova? Que, em se tratando de quadrinhos, Hollywood, quase sempre, anda perdendo a mão. Aqui, deixaram escapar a oportunidade de fazerem um filme mais despretensioso, e até mais ousado (afinal, os protagonistas são os vilões). Mas, com um roteiro fraco e inúmeras intervenções dos produtores e executivos no trabalho do diretor David Ayer, o resultado só poderia ser esse mesmo: um produto ruim. Em suma: saturou. Só não vê quem não quer.


NOTA: 3/10

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