Dica de Filme

A Outra História Americana
1998
Direção: Tony Kaye


Preconceito, discriminação, intolerância. Em maior ou menor grau, isso sempre esteve presente em nossa sociedade. O problema é que existe uma nova onda tentando legitimar essas atitudes, seja pela desculpa da "liberdade religiosa" ou "de expressão". Portanto, um filme com o poder de "A Outra História Americana" torna-se essencial.

Seu contexto de violência não está longe da realidade. Ao contrário. Vemos como alguns praticam agressões gratuitas baseadas em certas ideologias, e uma grande parcela é conivente com isso. Tão conivente quanto os parentes e amigos de Derek, quem não percebem (ou não querem perceber) o quanto sua ideologia irá destruí-lo.



Derek é o típico skinhead metido a machão, de pavio curto e que acha suas ideias as melhores do mundo. Para piorar, em seu universo gravitam alguns amigos que partilham de suas opiniões, pais omissos e um irmão mais novo que vai, gradativamente, espelhando-se nele como exemplo.

Um belo dia, ele mata um rapaz negro que assaltou seu carro, e ele vai parar na cadeia. Lá dentro passa por um choque de realidade: muitos brancos neonazistas abusam dele (inclusive, sexualmente), enquanto um negro é quem lhe dá apoio e ajuda.


Ao sair da prisão, porém, descobre que seu irmão não apenas está seguindo os mesmos passos que ele, como também periga se tornar uma pessoa ainda mais intolerante do que ele foi um dia.

Os momentos de Derek em família e na prisão são vistos em preto-e-branco, como se fossem flashbacks. Inclusive, é num jantar com os seus familiares que ele expõe seu pensamento, numa das melhores cenas do filme. Um exemplo prático de que se deixarmos alguém preconceituoso evoluir sua linha de raciocínio isso pode desembocar em algo terrível.


As sequências em que Derek mata o jovem negro e do estupro sofrido por ele na cadeia estão entre as mais brutais e realistas vistas no cinema recente. Distante de serem apelativas, mostram o preço que alguns pagam por usarem da agressividade como filosofia de vida. Por sinal, o desfecho da produção evidencia muito bem essa mensagem.

Desnecessário dizer que Edward Norton e Edward Furlong estão monstruosos em seus papéis, passando toda a carga dramática necessária numa situação que é quase irreversível. Com um único olhar ou gesto, ambos dizem mais do que quaisquer palavras.


Mas, não se enganem: as palavras têm muita importância em "A Outra História Americana". Expõem de forma clara o poder nefasto de uma má influência (principalmente, em família), e colocam em xeque muitos preconceitos, por mais explícitos ou velados que sejam.

Este é um filme que mostra o quanto as pessoas são iguais, independente da cor da pele ou de qualquer outra característica. Mostra que as aparências são meros revestimentos, muitas vezes, de proteção. Mostra, enfim, o quanto é estúpido todo tipo de intolerância ou discriminação.


Nada mais necessário e urgente do que isso, não?


NOTA: 9/10

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