Dica de Filme

Filhos do Paraíso
1997
Direção: Majid Majidi


As crianças, em geral, têm uma lógica bem particular, apesar das adversidades. E, muitas estão à mercê desde de problemas na família, até questões como a pobreza, que os obriga a terem responsabilidade de adultos logo cedo. É nesse contexto que conhecemos os irmãos Zahra e Ali, além de sua mãe, que está doente, e não pode trabalhar, e seu pai, que tentar sustentar a todos como pode.

Obviamente, qualquer gasto extra é problema. Por isso, Ali se desespera quando perde os sapatos de Zahra, que estavam sendo consertados. Com medo de que o pai descubra, ambos bolam um plano: de manhã, a menina vai para a escola com os tênis do irmão, e à tarde, eles se encontram para ele pegar os sapatos e ir para a sua escola. Mas, a rotina se torna desgastante, e, não raro, Ali chega atrasado na escola onde estuda, ao mesmo tempo que pensa em como conseguir novos sapatos para Zahra.



O filme é um primor de simplicidade, e é esse o seu principal atrativo. Não há, necessariamente, grandes conflitos. É a luta, pura e simples, em viver com o mínimo de dignidade, mas, com condições financeiras desfavoráveis. E, mesmo assim, os pequenos protagonistas não perdem as atitudes típicas da infância: brincam, fazem novos amigos e possuem aquela ingenuidade de cortar o coração até dos mais insensíveis.

Mas, não só. Além disso, eles possuem um nível de cumplicidade e ética entre si que mais parece um recado aos adultos que assistem ao longa. Tudo o que Ali ganha na escola como premiação, por exemplo, faz questão de oferecer à sua irmã, como forma de compensação por ter perdido os seus sapatos. É, então, que ele entra numa maratona de estudantes para tirar somente o terceiro lugar na corrida. Por quê? É só adivinhar qual o prêmio pra quem chegar nessa posição.




No entanto, mesmo a estória sendo contada de uma forma bem redonda e coesa, tem uma hora, antes da maratona, que a narrativa se arrasta um pouco. É quando Ali e seu pai vão ao centro da cidade em busca de serviços de jardineiro. É até interessante ver a desenvoltura do garoto ante a vergonha do pai em bater de porta em porta, porém, é algo que até destoa da proposta original, da relação de afeto entre ele e Zahra. Felizmente, quando a maratona inicia, o filme recupera em ritmo.

E, que ritmo! A desesperada corrida de Ali para chegar em terceiro lugar é o melhor momento da produção. É bastante aflitivo ver o esforço quase sobre-humano do menino em algo que pode, muito bem, estar além do seu limite. As tomadas de câmera da corrida, ora distantes, mostrando um panorama amplo, ora no meio dos meninos correndo, é muito eficaz e dinâmica. Até mesmo a câmera lenta, que em muitos momentos, poderia soar piegas em outros filmes, é bem emprega aqui.




Ao final, temos um filme de muita sensibilidade e carisma, Talvez não tão poderoso quanto outras produções iranianas protagonizadas por crianças, como "A Maçã", mas, com certeza, é atestado de que o cinema desse país é muito competente, conseguindo extrair bastante de muito pouco.


Nota: 8/10

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