Dica de Filme

A Geração Maldita
1995
Direção: Gregg Araki


1995 foi um ano muito forte em termos de filmes que retrataram os adolescentes daquela geração. Só pra citar dois exemplos dos mais emblemáticos: "Kids" e "Diários de um Adolescente". Já, este "A Geração Maldita" é um dos menos conhecidos dessa espécie de tendência em mostrar os jovens de maneira mais crua e incômoda, mas, nem por isso é desprovido de qualidades. Ao contrário: erra em alguns momentos, sim, mas, o faz com tanta paixão e furor, que muitos desses deslizes compensam.

Apelidado de o "Assassinos por Natureza para adolescentes", o filme não polpa em mostrar uma geração, de fato, perdida. Desesperança e tristeza acompanham cada um dos personagens principais. Amy Blue é uma jovem misteriosa, que pode ser mais do que aparenta. Junto com o seu ingênuo namorado, Jordan White, começam uma viagem sem rumo pelas estradas. No meio do caminho encontram o insano Xavier Red, que passa a acompanhar o casal. O que liga o trio é o sentimento de deslocamento, de marginalidade, de não-pertencimento aos padrões sociais.




Por trás da enxurrada de palavrões que eles desferem, em momentos oportunos, soltam suas inquietações. "Qual o sentido de existirmos?", pergunta Jordan em determinada passagem do filme. Xavier, por outro lado, representa a parte mais niilista, mais porraloca da juventude, e, não por coincidência, muitas vezes, mostra-se o mais coerente entre os três. O "equilíbrio" dessas duas polaridades, se é que podemos chamar assim, é Amy, que mesmo compartilhando a desilusão dos dois, ainda tenta encontrar alguma lógica em sua vida. 

Basicamente tendo a estrutura de um roadie movie, não à toa, ele é comparado a "Assassinos por Natureza". Cenas violentas são abundantes no decorrer da produção, mas, nunca se mostram apelativas. Algumas, beiram o nonsense, como que para demonstrar o nível de entorpecimento dos personagens, como se aquelas cenas não passassem de uma alucinação para nos tirar da letargia do cotidiano. E, outras sequências, como a do desfecho, mesmo rica em brutalidade, é uma bela crítica ao american way life, com direito à profanação da bandeira norte-americana e tudo.




Destaque primoroso vai para a estupenda trilha sonora, e o seu correto uso ao longo da projeção. Pegando, basicamente, aquele indie rock dos anos 90, do Nine Inch Nails ao Jesus and Mary Chain, as músicas depressivas e angustiadas combinam perfeitamente com o estado de espírito dos personagens, que, às vezes, têm nessas canções, o seu único refúgio. Não se trata, como se vê, de uma mera trilha sonora, mas, de uma parte importante para a trama, essencial para entender a personalidade dos protagonistas. Ressaltemos, igualmente, o trio de atores principais (James Duval, Rose McGowan e Johnathon Schaech), que entregam boas e naturais interpretações de seus personagens.

Obviamente, que numa produção assim, as críticas à sociedade aparecem aqui e acolá, porém, não com tanta frequência quanto se imagina. Há uma boa alfinetada na mídia, mais precisamente nos noticiários sensacionalistas, que exploram, ad infinitum, situações de carnificina para conseguirem audiência. E, há também a já mencionada sequência perto do final. No entanto, com a possibilidade de retratar nossa perdida juventude, faltou um pouco mais de ousadia e aprofundamento nesse mergulho ao universo violento dos personagens. As situações, geralmente, acabam naquelas cenas literais, e só. Nesse ponto, "Assassinos por Natureza" e "Diário de um Adolescente", ao menos, foram bem mais além na suas respectivas propostas.




Mesmo, por vezes, pecando por um excesso de simplismo e situações rasteiras, no geral, "A Geração Perdida" é um interessante retrato de uma sociedade que, cujos adolescentes são um reflexo dela. Nesse aspecto, felizmente, o filme não é moralista, e não coloca a culpa, necessariamente, nos jovens, apesar deles também sofrerem as consequências de seus próprios atos. Cruel e triste, não é, com certeza, uma produção agradável de se assistir. Mas, sem dúvida, faz refletir, e isso, pelo menos, já mostra que cumpriu o seu papel.


NOTA: 7,5/10

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