Filme Mais ou Menos Recomendável

Suspiria
1977
Direção: Dario Argento


MUITO BARULHO E POUCO CONTEÚDO FAZEM DE "SUSPIRIA" UM FILME ESTETICAMENTE INTERESSANTE, MAS, MUITO RUIM COMO CINEMA DE HORROR

É louvável que todo e qualquer cineasta queira imprimir uma marca dentro da sua obra, algo que possa diferenciá-lo dos demais. No entanto, alguns exageram nessa necessidade de serem "únicos", fazendo filmes tanto "diferentes", quanto vazios. 

Os últimos filmes de Lars Von Trier são a prova disso. E, um pouco mais antigo, podemos citar aquele que é considerado um "mestre do terror moderno", o italiano Dario Argento. 

Confesso que nunca havia assistido a uma produção sequer do cineasta, e, como a primeira impressão é a que fica, posso dizer que se a obra de Argento for idêntica a de "Suspiria", então, estamos diante de um caso de diretor supervalorizado. 




O grande problema de "Suspiria" é o seu excesso de preciosismo em detrimento de uma história mais profunda e impactante. Obviamente, que um roteiro não precisa ser demasiadamente complexo para ser interessante. Vide "Tubarão", cujo enredo é bem simples, e mesmo assim, é um suspense excepcional. A questão é que Spielberg, em seu famoso blockbuster setentista, deixava a história fluir. 

Aqui, Argento quer mostrar o tempo todo que é ele quem está por detrás das câmeras, e o resultado, mesmo que visualmente bonito, carece de um conteúdo melhor elaborado, ou de uma condução sem tantos arroubos de vaidade.

Uma boa amostra desses excessos é o uso irritante da cor vermelha ao longo do filme. Tudo bem que é compreensível se tratar de uma metáfora, tanto ao estado emocional das personagens, como para identificar que o mal está à espreita a todo momento. Só que a utilização dessa cor, em muitas ocasiões, não se presta a fazer nenhum tipo de suspense, e sim, em mostrar o quão Argento pode manipular as imagens do seu filme muito bem. 

E, falando em manipulação, é justamente isso o que vemos na direção desse filme: um controle constante das emoções, surpresas e deduções do espectador, não deixando, em momento algum, que ele tenha as suas próprias conclusões, e isso tira muito da força narrativa do longa, impedindo, muitas vezes, que nos importemos, de fato, com os personagens.




Mas, e a história em si, como ela é? Bem, digamos que ela é a mais simples possível; simples até demais. Suzy Bannion é uma jovem que sonha em se tornar uma bailarina profissional, e, por isso, vai se hospedar numa das escolas de ballet mais renomadas da Itália. Mas, ao chegar, ela se depara com uma das alunas fugindo desesperada do local. 

Aos poucos, estranhos acontecimentos vão dando conta de que algo de muito macabro de esconde naquela academia. Roteiro simples, não? Porém, o problema não é esse, visto que uma história comum pode rende ótimos resultados, e o cinema está cheio de exemplos assim. O problema é que as falhas de direção deixam ainda mais evidente o quanto o enredo é banal, sendo bem desinteressante, no final das contas.

Os exageros de Argento são tantos, que não se resumem ao uso excessivo da cor vermelha, mas também, na utilização de uma trilha intrusiva que, a todo momento, tenta gerar uma tensão no ar, mas, o que acaba fazendo é transformar a experiência de assistir o filme mais irritante ainda. Grandes mestres do terror do passado e do presente já mostraram que, muitas vezes, o silêncio consegue ser mais amedrontador do que um barulho ensurdecedor. 

O resultado disso é que cenas que deveriam gerar pavor, causam apenas desconforto, um certo incômodo, mas, não de medo, e sim, de irritação pela trilha que insiste em ser intrusiva e (muito) alta. E, não gerar medo num filme de terror é, sem dúvida, o pior dos erros nesse gênero de filme.




Agora, verdade seja dita: pelo menos, nos dez minutos finais, "Suspiria" consegue gerar uma tensão genuína, um pavor autêntico, mesmo que os maneirismo do diretor continuem ali, quase atrapalhando esse, que, com certeza, é o melhor momento do filme. 

Só que, mesmo sendo um momento com um pouco de "redenção", acaba sendo um final igualmente barulhento, histriônico e com pouco impacto no quesito horror. É bom salientar que os atores não ajudam muito, quase todos muito caricatos em suas interpretações, além dos próprios personagens, que são, em sua maioria, desinteressantes. 

Dario Argento pode até ser considerado, por muitos cinéfilos de plantão, um mestre nesse tipo de gênero, mas, "Suspiria" depõe bastante contra ele. Um filme que, esteticamente, é bem feito, com algumas boas ideias, mas, que são usadas em demasia, tirando dele boa parte do impacto que podia ter, e não tem. 

Ao término, trata-se de muito barulho por nada.


NOTA: 5/10


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