Dica de Disco

Fome de Tudo
2007
Artista: Nação Zumbi


É cada vez mais difícil encontrar alguma qualidade na música feita no Brasil. E, não me refiro a qualidade no sentido genérico da coisa, mas algo que tenha um arranjo marcante, uma letra inteligente ou uma sonoridade arrojada. Nem mesmo esses elementos isolados encontramos com frequência por aí.

Mas, o que dizer de um disco que reúne todas essas características? A Nação Zumbi é uma banda com uma carreira irretocável. Desde que começou, lá nos idos dos anos 90, com Chico Science, que ela vem fazendo uma  música relevante, mas, infelizmente, sem reconhecimento de grande parte do público.


Isso nunca pareceu incomodar os integrantes do grupo, apesar deles terem feito um álbum (este "Fome de Tudo") com um acentuado apelo pop. Mas, não um pop esquecível após a primeira ouvida, e sim um de fácil assimilação, porém, cheio de detalhes, sejam num som inusitado ali, seja numa letra cheia de referências acolá.

O disco começa com "Bossa Nostra", uma provocação do que seria nossa Nossa Nova hoje. A sonoridade mescla fúria e harmonias de guitarras fantásticas. A letra também se destaca: "Ninguém quer saber o gosto de sangue, mas o vermelho ainda é a cor que incita a fome..."


"Infeste" tem uma boa influência das batidas africanas de Fela Kuti, com sons exuberantes e cadenciados. Já "Carnaval" presta homenagem à nossa festa mais popular de um jeito bem peculiar, onde a letra expõe as "loucuras" que os foliões fazem nas ruas durante esse período.

"Inferno", com participação da cantora Céu (ironia), é um dos ápices do trabalho. Minimalista e com linhas vocais agradáveis, é uma ótima canção introspectiva. Outro destaque vem em seguida: "Nascedouro" tem clima irresistível de gafieira, com inusitados (e bem colocados) naipes de metais.


E, assim o disco segue, com múltiplas variações e surpresas, desde a pesada música-título até "Toda Surdez será Castigada" (uma verdadeira "viagem", com participação perfeita de Junio Barreto).

A temática, como o próprio nome do trabalho indica, faz menção à fome, com evidente influência de Josué de Castro. Mas, não é só a fome por comida, mas por arte, por humanidade, por vida. Não à toa, ele termina com a música "No Olimpo", que diz: "Todos os dias nascem deuses, alguns melhores, outros piores do que você..."


Com este disco, a Nação fechou uma sequência impressionante de clássicos modernos da música brasileira, iniciada com o instigante "Rádio S.AMB.A.", lançado em 2000. "Fome de Tudo" é um álbum que consegue ser popular e, mesmo assim, transparece a todo momento esmero e cuidado em cada composição, em cada riff de guitarra, em cada estrofe.

Um trabalho arrebatador.


NOTA: 9/10

Comentários

  1. pra mim é 10, amigo. Cecília

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  2. É um disco fenomenal, mesmo. Mas, eu daria 10 pra "Nação Zumbi" e "Futura", que romperam alguns paradigmas da própria banda, e viraram clássicos...

    Grande abraço.

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