Dica de Filme

Hoje, Eu Quero Voltar Sozinho
2014
Direção: Daniel Ribeiro


Simplicidade. Pra quê mais do que isso para se fazer um bom filme? É preciso rechear uma produção de referências ao cinema francês? Colocar um enquadramento milimétrico que lembre Kubrick? Ou escrever um diálogo que reneta a tal filme obscuro que ninguém viu? Pois, é. "Hoje, Eu Quero Voltar Sozinho" não padece desse mal, e chega a ser desconcertante a foma natural com que ele aborda situações complicadas, principalmente para alguém que acabou de entrar na adolescência.

Só que Leonardo não é apenas alguém jovem, com os hormônios à flor da pele. Possui uma limitação: a deficiência visual. Tirando Giovana, sua melhor amiga, e que o ajuda em diversos momentos, ele é ridicularizado por alguns colegas de classe, e vive em conflito com pais, já que estes possuem um cuidado redobrado para com ele. Como ele mesmo diz numa ocasião, "tem hora que eu queria ir pra um lugar onde ninguém me conhecesse, onde eu pudesse fazer uma nova identidade."




Sua rotina, regada a estudos, e algumas conversas com sua amiga, só é quebrada com a chegada de Gabriel, novo aluno na escola. Os dois passam a ser amigos. E, um parece compreender perfeitamente o outro. Passam a andar cada vez mais juntos, fazer tarefas do colégio, e coisas do tipo. O ciúme de Giovana acaba sendo inevitável, gerando alguns conflitos. A relação dos três complicada, até o ponto que precisem resolver da melhor forma.

Nesse meio tempo, Leonardo, que está, de certa forma, descobrindo a sua sexualidade, começa a sentir uma atração por Gabriel. E, aí está o diferencial. O filme poderia descambar para atritos desnecessários ou dramas piegas, mas não o faz. O sentimento de ambos os meninos é construído sem alardes, sem grandes forçadas. Os dois apenas começam a ser gostar. Ponto. Vai ser difícil, pois há preconceito, porém, nada aqui é mostrado com mão pesada.



E, há toda aquela aura jovial, que permeia qualquer conquista. Achamos engraçada a timidez de Leonardo, gostamos do carisma de Gabriel, sentimos dó por Giavana em alguns momentos, etc. Tudo leve, despretensioso, como tem de ser. A trilha sonora, que inclui desde música clássica até o pop do Belle & Sebastian, reforça isso. Alegre, etérea, simples. Assim como o espírito dos protagonistas. É para se abrir um sorriso.

As atuações são boas e corretas. Nada de extraordinário, nada de grande destaque, mas, mesmo assim, competentes. E, a direção e o roteiro de Daniel Ribeiro, têm ritmo, fazendo a duração do filme passar bem rápida. Utiliza-se de alguns esteriótipos, como dos colegas de colégio implicantes, ou dos pais super-protetores, porém, de uma maneira bem crível, fazendo vermos os personagens como reais, e não mera ficção.



"Hoje, Eu Quero Voltar Sozinho" não é aquele grande filme maravilhoso, ou aquela espetacular obra-prima irretocável. Mas, é melhor assistir sua despretensão, do que outras produções brasileiras recentes, que parecem gritar o tempo todo que precisam ser "cults". Uma boa assistida nesse longa aqui faria bem ao ego de alguns.


NOTA: 8/10

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