Debate Sócio-Político

O Que eu Não Admito
por Erick Silva


A liberdade de expressão não é plena. Isso pode parecer ambíguo, ou até mesmo irônico vindo de um jornalista, mas, os anos de experiência me fizeram entender que a liberdade, realmente, não é plena. Ela até pode ser exercida além do seu limite, mas, é necessário que hajam consequências. Num debate político, por exemplo, os ânimos podem se exaltar, porém, jamais deve-se partir pra violência, ou a incitação dela. Caso contrário, estaremos usando de um artifício sórdido para tolhermos, inclusive, a liberdade de expressão do outro. Sim, por mais difícil que seja para um comunicólogo, eu não posso ser a favor de uma liberdade plena de expressão.

E, o que estamos vendo nos últimos anos é isso: uma exacerbação no limite do que dizer. E, isso vale para qualquer instância. Por que uma revista noticiosa semanal precisa publicar uma matéria machista a respeito da (na época) presidente Dilma Roussef? Pra quê, ora essa, fazer piadas "politicamente incorretas" sobre judeus, crianças com Síndrome de Down e estupros de mulheres? Qual o intuito de se confeccionar adesivos de carro simulando o estupro de uma figura política? O que leva pessoas, aparentemente inteligentes, a rechaçarem toda uma manifestação pacífica por conta de meia dúzia de vândalos e excessos da polícia?

Por trás de um computador, é mais fácil proferir discursos de ódio

Diante de tais indagações, só tem uma palavra que me vem à mente: desonestidade (seja ela, intelectual ou não). Como em muitos momentos da nossa história, hoje em dia, uma parcela significativa da população precisa eleger "inimigos". E, como se trata de uma parcela bastante conservadora, que prefere matar a perder seus privilégios, tendo até um fundo religioso no meio disso tudo, então, os "inimigos" acabam sendo os de praxe: os LGBT's e as feministas (que querem acabar com a família e suas mais honrosas tradições), os esquerdistas (que, por quererem melhores condições sociais para todos, são vistos como uma "ameaça" ao conceito da meritocracia), e, em menor grau, os "petistas", pois, quem não consegue enquadrar seus desafetos numa das categorias anteriores, é taxado (sempre) de "petista".

Nessas horas, lembro bastante de muitas das palavras eloquentes do professor Leandro Karnal, que vê com grande preocupação essa perigosa polaridade que se instaurou nos dias atuais. Sabiamente ele fala que quando eu rotulo alguém de "coxinha" ou "petralha", eu estou diminuindo a possibilidade de tratar o outro como um ser pensante tanto quanto eu. O "outro", passando a ser meu inimigo, não será poupado de xingamentos, e outras formas de agressões, se possível (é só lembrar o recente caso de Letícia Sabatella). E, tanta violência só se resume a duas coisas: à irracionalidade do medo de se perder os privilégios adquiridos, e a desonestidade de anular o outro em sua humanidade e opinião própria.

Leandro Karnal, um dos atuais combatentes do discurso de ódio que tomou conta da sociedade

Portanto, e, desde já, reitero que não aceito nenhuma forma de agressão, xingamento ou quaisquer discursos de ódio. Talvez, eu não esteja sendo devidamente democrático, mas, se assim ajo, é pelo fato de que toda essa violência, todo esse egoísmo, toda essa mesquinharia, até pouco tempo atrás, enrustidas, não estão nos levando a lugar algum. O tão falado combate à corrupção arrefeceu, e, hoje, pouco se fala a respeito, tendo como mote, claro, a perseguição aos notórios inimigos, que mesmo após o impeachment de Dilma, continuam sendo uma grave ameça à minha liberdade (e, apenas à minha). O debate de ideias, pelo visto, não está resistindo.

Tente exercer o diálogo. Fale e, principalmente, escute, sem querer agredir o "outro"

Este blog, enfim, não será palco, nem permanecerá conivente com nenhuma forma de arbitrariedade, nenhuma forma de preconceito ou com o mínimo, sequer, de intolerância. Quem ousar pensar em discurso de ódio por aqui, nem tente. Precisamos evoluir, melhorar de alguma forma. Porém, jamais quaisquer formas de violência podem ser admitidas. Caso contrário, perderemos. 

Não podemos nos dar a esse luxo. Não mais.

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