Dica de Filme

The Void
2016
Direção: Steven Kostanski e Jeremy Gillespie


APESAR DE ALGUNS FUROS DE ROTEIRO, TERROR GORE QUE HOMENAGEIA "HELLRAISER" E "ENIGMA DO OUTRO MUNDO" É UMA DAS SURPRESAS DO ANO NO GÊNERO TERROR

Meter medo no público cinéfilo é tarefa complicadíssima hoje em dia. Isso porque as produções que se denominam "de terror", não passam de filmes pseudocults, aplaudidos por sua carga dramática de várias camadas subjetivas que, pra ser sincero, não vão a lugar nenhum. Recentemente, podemos citar os incensados "Fragmentado" e "Corra!", que a despeito de algumas boas qualidade, não passam de "fogo de palha", e não metem medo nem no campo psicológico. 

Então, eis que, sem inventar praticamente nada, homenageando ícones do cinema de terror do passado, que a brutal produção "The Void" chega para mostrar como impactar o público, mesmo que ainda possua algumas falhas, vícios, pelo visto, inerentes aos filmes desse gênero atualmente.




De início, uma sequência chocante mostra um casal fugindo de uma casa, com ela sendo alvejada por dois homens, e ele conseguindo escapar. Os algozes, então, "terminam" o serviço, e queimam o corpo da mulher. Nisso, pra quem conhece o mínimo de filmes desse gênero, já vai perceber uma ligação meio óbvia com um certo clássico oitentista. 

Bem, o rapaz que conseguiu fugir é encontrado na estrada pelo policial Daniel Carter, e levado imediatamente a um hospital. (Muitas) coisas estranhas começam a acontecer a partir disso, e todos que se encontram no hospital passam a viver num verdadeiro inferno, com situações cada vez mais bizarras e desesperadoras.

Sim, "The Void" não nega suas referências, e tal honestidade confere ao filme algo "original" e impactante, mesmo que não seja, necessariamente, novo. O principal defeito do longa, mais uma vez, são algumas atitudes incompreensíveis dos personagens. 

Obviamente, que numa situação aterradora daquela, muitos realmente são compelidos a fazerem algum tipo de bobagem, mas, o pessoal dos filmes de terror exageram, e deixam a coisa, geralmente, muito intragável de ver. Isso não ocorre em demasia com "The Void", mas, algumas situações forçam a mão, como numa cena em que Carter atira numa mulher que acabou de matar um paciente num dos leitos do hospital, sendo que ela estava munida apenas com uma tesoura, podendo ele ter desarmado ela sem precisar matá-la. 

Mas, felizmente, são casos isolados, e, na maioria das vezes, até que os personagens aqui se comportam como "deveriam". 




O destaque mesmo vai para a atmosfera densa e a violência aterradora das imagens. Algumas "mutações" mostradas aqui possuem, sem sombra de dúvidas, o mesmo impacto das cenas grotescas de "Enigma do Outro Mundo", e, assim, como este, "The Void" usa efeitos especiais mais práticos de maquiagem, deixando tudo mais verosímil, e, consequentemente, mais amedrontador. 

Algumas cenas podem até apresentar um gore um pouco mais exagerado, como no momento em que Carter e outros descem ao porão do hospital, e encontram "coisas" das quais não gostariam. Porém, mesmo com tanto sangue, a sequência, ainda assim, consegue causar mais pavor do que repulsa (ah, se os técnicos de efeitos visuais daqui fossem os mesmos de "Eu Sou a Lenda"...). 

Interessante que a medida que o filme avança, a sua história vai melhorando, e consequentemente, a construção dos personagens, e as suas atitudes diante de tanto terror, o que não é comum nesse tipo de produção, quando a parte final, geralmente, é um banho de água fria em toda a atmosfera criada no início. 

O terceiro ato reserva instantes um pouco mais filosóficos e metafóricos (a exemplo do francês "Martyrs"), e mesmo não se aprofundando nos assuntos que aborda, o roteiro consegue amarrar de forma satisfatória os fatos que ocorreram desde o início do longa até aqui. Poderia, é verdade, ter evitado algumas situações forçadas, mas, no geral, algumas partes mais absurdas são compensadas ao término da produção, que incomoda e inquieta como todo filme de terror deveria fazer.




Não esperem grandes atuações em "The Void". O elenco é competente, mas, não vai muito além disso. A direção conjunta de Steven Kostanski e Jeremy Gillespie também não é extraordinária, porém, eles sabem como envolver o espectador naquele clima pesado, e conseguem extrair o melhor das referências que o roteiro possui. 

"The Void", portanto, pode não ser um primor, no entanto, consegue o objetivo de um bom filme de terror: apavorar o espectador. Pode até parecer simples, mas, não é. Com cada vez mais realizadores preocupados em transformar o gênero numa espécie de drama extremamente raso, com diversas metáforas que não se completam, esse tipo de cinema anda causando mais sono do que insônia. 

Por isso, mesmo com defeitos, este filme aqui cumpre muito bem o seu papel, e isso, hoje em dia, já basta.


NOTA: 7/10


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