Filme Mais ou menos Recomendável

Corra!
2017
Direção: Jordan Peele


Fazer (bons) filmes de terror não está nada fácil. Os últimos dignos de nota foram o interessante "A Bruxa" e o climático "Invocação do Mal 2", e, mesmo assim, não foram produções, digamos, de qualidade inquestionável, apesar de, visivelmente, seus realizadores terem tentado fazer algo diferente. Com este "Corra!" é a situação é parecida: fica evidente que todos aqui tentaram fazer algo inusitado, até mesmo com ares de crítica social, mas, o que conseguiram foi realizarem um longa bastante insosso, com pouquíssimos momentos de destaque.




"Corra!" já começa muito ruim, com o que parece ser um sequestro de um rapaz numa rua deserta. A cena, em si, não tem nada de assustadora, pois, a forma mambembe como é filmada torna a sequência quase risível. Não é um bom indicativo de que estamos diante de algo especial, mas, continuamos a assistir, pois, quem sabe, a coisa melhora. 

Aos poucos, somos apresentados ao casal principal da trama, Chris e Rose, que estão de viagem para a casa dos pais dela, para que estes, enfim, conheçam o novo namorado da filha. O clima mostrado é meio tenso pelo fato dele ser negro, com Chris preocupado com a possibilidade de ser discriminado pelos sogros. 

A questão racial, por sinal, vai pontuar boa parte da trama, sejam em momentos bem elaborados, sejam em momentos que, de tão expositivos, tornam-se forçados. Dois exemplos bem óbvios disso: em uma sequência, logo no início do filme, o casal é abordado na estrada por um policial, e este, mesmo sabendo que era Rose quem estava dirigindo, faz questão de pedir a carteira de motorista de Chris. Fica evidente a discriminação racial ali embutida, e o recado do roteiro é passado com eficiência. 

Já, em outra cena, um dos parentes de Rose questiona a Chris se, hoje em dia, é socialmente vantajoso ser negro. Uma sequência deveras ridícula, e que força a mão para tocar no ponto do racismo, sem nenhuma sutileza. O problema é que, nesse aspecto, temos mais cenas ruins do que boas ao longo do filme, o que desgasta o tema em si, transformando "Corra!" num mero suspense de quinta.




Interessante notar que as melhores partes da produção são, justamente, as que Chris vai conhecendo melhor os pais de Rose, seu irmão, e toda a sua família. Durante essas interações, inclusive, ele vai tendo um pouco mais de contato com os únicos negros da casa, uma empregada doméstica e um zelador. Ambos parecem muito misteriosos, tendo algo muito sério a esconder. 

No decorrer da confraternização com os familiares de Rose, Chris conhece mais alguém naquele ambiente que é negro: um namorados de umas das tias de sua namorada, e ele parece ser mais estranho ainda do que a empregada e o zelador daquele lugar. É após um incidente com esse rapaz que Chris, finalmente, entende que algo está muito errado com aquela família. 

E, é quando o filme começa a decair novamente, e daí até o seu final.

Talvez, o grande problema do terceiro (e, último) ato de "Corra!" seja a sua grande revelação: além de ser mais mirabolante do que assustadora de verdade, ela ainda, de certa forma, contradiz a questão racial que o filme quis pontuar o tempo todo, já que um dos "vilões" diz abertamente que o fato de Chris ser ou não negro pouco importa para os interesses daquela família. 

E, quando o roteiro nos ofereceu esse clímax meia boca, ele precisou apelar para furos incríveis na história para que o enredo pudesse seguir até um final pra lá de clichê, com aquele jeito de "suspense à lá SuperCine", com muita ação e violência, mas, sem o impacto esperado. O filme termina, e nos perguntamos: "é só isso"? Sim, é só isso. Consegue falar de racismo de forma satisfatória em alguns poucos instantes, e mantém um clima legal durante uns trinta minutos no seu segundo ato. Apenas.




Além de uma direção frouxa, que alonga demais algo que poderia ser mais curto, e um roteiro que pensa que uma história fantástica já é o suficiente para ela ser considerada "de torro", o elenco não ajuda muito. Daniel Kaluuya, que interpreta Chris, e Catherine Keener, que faz a mãe de Rose, consegue ter os melhores resultados. Ambos representam bem o que os seus respectivos papéis pedem, o que não é extraordinário, visto as limitações da trama. O restante dos atores oscila entre o piloto automático e o histrionismo, o que gera cenas, involuntariamente, risíveis. 

No fim, todo o hype em cima de "Corra!" foi fogo de palha, mesmo. Talvez, o negócio seja não encará-lo como um terror, e sim, como um suspense, daqueles mais fracos, nos quais, quando você pega a mínima pista, já sabe como tudo vai terminar. É um filme que até toca em alguns pontos interessantes, mas, que precisaria de uma condução mais ousada para sair da mesmice. 

Não se faz necessário "correr" desse filme, mas, tampouco, faz falta ao conhecimento cinematográfico de quem quer que seja.


NOTA: 5,5/10



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