Dica de Disco

Vida Que Segue
2016
Artista: Não ao Futebol Moderno


Às vezes, o revival dá muito certo, e, em outras, dá muito errado. Isso porque muitas bandas não conseguem ir além das influências, e não perseguem uma identidade, algo que, minimamente, possa caracterizá-los. À primeira vista, o som da Não ao Futebol Moderno pode soar com,o apenas mais um apanhado de coisas, principalmente, dos anos 80. Ouve-se, com facilidade, Legião Urbana, The Smiths, The Clash, Echo in the Bunnymen, Jesus and Mary Chain e Sonic Youth. Algo mais recente também pode ser identificado, como um quê de Blur, Weezer e Los Hermanos. Uma audição displicente talvez não dê conta de quanto esse disco, no entanto, é bom. Por isso, escutá-lo duas vezes seguidas é recomendável.

Quando se acostuma ao som da banda, percebe-se pequenas nuances aqui e acolá, mesmo em meio a tantas (boas) influências. As três primeiras músicas ("Quase Jr.", "Cansado de Trampar" e "Carlinhos") são uma bela amostra do que é a Não ao Futebol Moderno, e mesmo que se perceba, de cara, quais bandas das antigas ela está homenageando, fica difícil não apreciar o frescor dessas composições, com letras bacanas e um instrumental muito competente. As três canções seguintes do disco ("Laços de Família", "Saia" e "Peso Pesar") já constroem uma sonoridade mais própria da banda, apesar de ser impossível não pensar em Smiths devido à introdução de "Peso Pesar".


"Janeiro", ao contrário das demais, é uma música mais do mesmo, sem grande inspiração, e podendo, muito bem, ser retirada do disco já pronto. Muito melhor é "Intruso", pura Jesus and Mary Chain, que tem como único defeito ser muito curta. "Quintal" é até boa, e remete a sons como Clube da Esquina e afins, mas, padece do mesmo problema de "Janeiro": uma música um tanto arrastada e pouco relevante para o contexto geral do trabalho. A climática (e pesada) "Carro Chefe" encerra o disco de maneira muito promissora, provando que, se procurarmos, existe vida inteligente, sim, no rock brasileiro.

Mesmo com tantas influências latentes, a Não ao Futebol Moderno não se rende em ser uma mera banda de covers, explorando o melhor do indie rock dos anos 80 e 90 para comporem um som ora etéreo, ora energético. Um bem-vindo olhar para o presente, sem esquecer do passado. E, mais uma vez, o underground mostrando que tem muita criatividade para mostrar, bastando que tenha visibilidade pra isso. Afinal, o que importa mesmo (talento), esses garotos têm.


Nota: 8/10

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